Capítulo 21

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Me olhei no espelho.

Não era o corpo que eu queria, mas já estava bom.

A barba estava certinha e com um bom tamanho.

O cabelo estava com o corte certo, mas quando o verifiquei, notei um fio de cabelo branco.

— Droga! Por pouco eu não fiquei condenado a ter um fio de cabelo branco pela eternidade. — arrancando-o em seguida.

E se eu estivesse esquecendo de algo importante? Algo que não me passou pela cabeça nesses quase dois anos? Era muita responsabilidade, muita pressão.

Por outro lado, se eu continuasse assim, procurando por algo que deixei passar, não iria fazer o contrato nunca.

Em um impulso de momento, virei-me para o cubo e disse:

— Aceito o contrato! — de forma incisiva.

Pela primeira vez, desde que o encontrei, o cubo não respondeu, não brilhou, não levitou, não fez absolutamente nada.

Por quase um minuto fiquei apenas olhando para ele, esperando que pudesse estar carregando algo, como um programa de computador pesado, que demora para iniciar, mas nada aconteceu.

— Cubo, você está aí? — perguntei, começando a ficar preocupado.

Ele nada respondeu.

Fiquei confuso e tudo o que me passava pela cabeça é que eu tinha feito algo errado.

Será que falei da forma errada? Eu devia ter dito que iria pedir o contrato e só então aceitado? Ele tinha que ter dito algo antes?

Sentei na cama e tentei organizar os pensamentos, quando uma ideia me veio na cabeça.

Fui até a cozinha, peguei uma faca e apontei ela para a minha mão, mas hesitei.

É claro que eu não iria fazer um corte exagerado, mas furar a mão por vontade própria é mais difícil do que eu pensava.

Apertei a ponta da faca contra a mão, devagar, mas a dor me impediu de perfurar a carne.

Respirei fundo e, de sopetão, enfiei a ponta da faca na mão, abrindo um pequeno corte, que sangrou em seguida.

Fiquei olhando para a ferida, esperando ela se fechar. O cubo tinha dito que eu iria me regenerar.

Cinco minutos se passaram e parei de sangrar, mas o burado ainda estava lá.

Foi tudo uma grande piada? O que exatamente aconteceu?

Deitei de costas na cama e, naquele momento, senti que tinha perdido dois anos da minha vida com algo que obviamente era pura fantasia.

Coloquei um curativo no machucado e fiquei deitado, digerindo aquela grande mentira.

Não fazia sentido. Eu vi o cubo brilhar, falar comigo, levitar. Se o contrato era uma mentira, o que era aquilo então?

Nesse momento o cubo, em cima da mesa, brilhou pela última vez, me chamando atenção.

Corri até ele, observando com atenção e, tão inesperado como começou a brilhar, ele voltou ao normal, se desmanchando em seguida, restando apenas uma espécie de areia negra em cima da minha mesa.

No instante seguinte, me vi deitado em uma superfície sólida, arenosa, enquanto gradativamente ia recobrando a consciência.

Mas quando foi que eu adormeci? — Me perguntei em pensamento.

A visão embaçada começava a ganhar forma e pude ver o céu azul, junto à um Sol no horizonte. Não sabia dizer se o dia estava começando ou terminando.

Memórias de um ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora