Prólogo

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Incógnita indefinida

A adrenalina parecia invadir o corpo de Catarina a cada nova aceleração. O impulso de ir cada vez mais rápido havida substituído o medo e agora tudo que ela sentia e ouvia era o som do motor se espalhando pelo seu corpo, tornando-se cada vez mais dominante em seus ouvidos. Mais algumas curvas, mais alguns barulhos, mais um pouco de atenção e então o plano poderia seria concluído. Ela só lamentava um pouco, por René, o motorista da família, que acabaria levando toda a culpa por a ter deixado pegar o carro e fazer aquilo. Mas Catarina era imparável quando estava decidida, fazia o que queria e nem mesmo seus avôs a poderiam ter impedido naquele momento.

Quando ela se sentiu pronta o suficiente para concluir o planejado, decidiu que o faria na próxima árvore que avistasse. Acelerou por mais alguns metros até avistar aquela que seria a sua vítima, porém mesmo pensando em todos os detalhes, ela não havia colocado um terceiro elemento em sua equação. Definitivamente ela não era boa em matemática.

A equação não seria correta.

Uma criança atravessando a rua correndo não estava em seus planos. Não era um elemento com o qual ela soubesse calcular.

Não quando ela já tinha passado do limite de velocidade permitido. Não quando ela queria destruir o carro batendo contra aquela árvore. Não quando ela provavelmente morreria.

Era um plano tão simples.

Era ela somada a carro em alta velocidade que resultaria em um desastre.

Não aquela criança.

Não.

Aquela criança não fazia parte da sua insanidade.

Sem alternativas Catarina pisou no freio e girou o volante ao mesmo tempo. Sua falta de experiência e idade para dirigir foram então os elementos do sistema que se tornaram determinantes. Ela conseguiu desviar da criança que havia parado assustada no meio da rua. Ouvia-se gritos, as pessoas na calçada gritavam. A garota já não tinha mais o controle do carro e quando ela já não podia mais fazer nada soltou o volante e deixou-se ir.

Sentir.

Ouvir.

Silêncio.

Gritos.

Poeira.

Nada.

Tudo ao seu redor parecia mover-se lentamente. Sua cabeça doía. Ela não sabia o que tinha acontecido. Tinha fechado os olhos. E não tinha vontade de abrir. Soavam batidas na porta do carro. Chamavam por ela, que conseguia ouvir o choro da criança, que estava viva. Mas então isso significava que ela também estava.

Alguém finalmente conseguiu abrir a porta do carro. Ela ainda não queria abrir os olhos. Chamavam por ela. Chamavam por uma moça. Uma moça que estivesse viva, mas ela não sabia se estava. Conseguiram tirar o cinto de seu corpo e outras pessoas falavam para não movê-la. Ela não sabia quanto tempo tinha se passado. Podiam ser dois minutos ou meia hora desde que ela havia perdido o controle do carro. Sirenes começaram a soar. Sua cabeça doía cada vez mais e seu braço agora parecia queimar. Falavam com ela, que não queria responder. Mas então finalmente Catarina abriu os olhos. Luzes fizeram ela querer fechar de novo. Ambulância, carros de polícia. Fumaça no carro. Parecia que ela havia conseguido algo. Batido o carro. O plano não foi definitivamente incompleto.

Os paramédicos falavam com ela que somente respondia com um grunhido. A tiraram do carro e ela finalmente percebeu o estrago. O carro havia batido em uma casa que ficava exatamente em frente a uma árvore. A árvore que ela iria bater. Levaram-na para ambulância. Catarina não tinha celular, nem documentos. Não poderiam contatar seus avôs sem que ela falasse algo. Na ambulância ela percebeu que sua cabeça estava sangrando e seu braço estava fora do lugar. Perguntaram seu nome e ela finalmente respondeu. No caminho para o hospital finalmente conseguiu falar o número telefone de sua casa para os paramédicos e então finalmente ela apagou.

***

Notas: Uma história guardada no arquivos mais escondidos do meu computador. Espero que ela cresça e conte a verdade de cada personagem.

Gisele C. Rodrigues

AssimetriaWhere stories live. Discover now