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Lucila empertigou-se no lectus, havia três deles dispostos formando a imagem de um quadrado aberto. Um banquete fora servido em pequenas mesas no interior da área com jarras de vinho da Gália, copos com cervejas de cevada e trigo, vasilhas de azeite de oliva, frutas, legumes secos, carne de carneiro regada a mel, porco com figo, pães do Egito e peixe com garum – um molho fermentado. Tudo fora temperado com especiarias do norte da África e os animais haviam seguido uma dieta rígida para que os pratos ficassem aromatizados quando fossem preparados.
A maioria das pessoas deitava-se de bruços, entre diversos lençóis e apoiadas em almofadas de penas. Estavam no átrio, um grande pátio no interior da casa com um espaço aberto no centro e uma pequena piscina que captava a água da chuva. Grupos de patrícios e magistrados espalhavam-se entre as colunas avermelhadas inundando o salão em uma cacofonia constante. Ela levantou-se e pôde sentir os olhares se deslocando em sua direção – eles escalavam o vestido, depositando-se na curva dos seios e demorando-se nos quadris delineados.
Vestia-se como uma patrícia, regada a ouro e jóias. Usava um quitão jônico de seda, preso a intervalos ao longo do braço até os ombros e por cima deste uma palla drapeada ao redor dos quadris e braço esquerdo. Os cabelos loiros formavam diversas tranças com duas mechas ladeando o rosto longo que terminava em um queixo rotundo. A ponta do nariz era achatada e o dorso seguia reto quase sem se destacar da face pálida de giz. Sua boca parecia estar sempre formando um suspiro, com os lábios carmesins de tamanhos quase iguais entreabertos e juntos em um beijo. Os olhos eram bastante separados e sombreados com cinzas escuras para ressaltar o verde plácido que migrava para um tom amarelado quando se aproximava da borda da íris – eles brilhavam do mesmo jeito que o ouro das estátuas no aposento quando o fogo as atingia.
Na pequena piscina no centro as virgens vestais dançavam como que encenando um embate, criando clarões de chamas momentâneas com sua piromancia a cada movimento. Sua atenção perdeu-se em Commodus cercado pelos comensais. Alguns dos generais que haviam auxiliado na campanha contra as tribos germânicas estavam com ele, vestindo togas ao invés de armaduras e esboçando expressões contrariadas. A maioria daqueles homens formara uma oposição ao armistício e ao retorno a Roma, mas a casta mais rica de comerciantes embriagava-se comemorando o fim dos gastos militares.
— Você parece deslocada, minha senhora, algo a perturba? — Ela virou-se avistando Dídio que surgira entre o peristilo. Ele aproximou-se com uma saudação e estendeu um copo dourado que Lucila aceitou de bom grado.
— Confesso que vim pelo meu irmão, mas vejo apenas nobres em suas litanias cotidianas. — Dídio recebeu o tom seco com uma risada. Era um homem magro e alto, o rosto fino terminando em um cavanhaque curto. Acima das maçãs do rosto proeminentes e coradas de maquiagem perscrutavam olhos dilatados sombreados por longos cílios.
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Fate/Colosseo
FanfictionFate/Colosseo é uma fanfic escrita e ilustrada por Danilo Mattos. O projeto não possui fins lucrativos e o autor também não recebe nada para criá-lo. A história adapta o governo de Commodus que, após a morte de seu pai Marco Aurélio, torna-se impera...