Capítulo 01

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Fazia pouco mais de uma semana que havíamos retornado ao Rio de Janeiro depois de anos vivendo no Uruguai. Foram tantas as obrigações desde que cheguei que não havia conseguido fazer uma visita à minha estimada amiga Lorena e, apesar das inúmeras cartas que havíamos trocado, eu ansiava por falar-lhe pessoalmente, abraçar-lhe e saber tudo sobre sua nova vida como esposa de Danilo Magalhães Filho.

— Passo para buscá-los no final do expediente, meu amor! – Álvaro me ajuda a descer do carro, entregando-me nosso pequeno Isaac. Meu marido trabalhava demais e tudo porque meus pais se recusavam a pagar-nos meu dote. Vivíamos descentemente e não nos faltava o essencial, isso porque Álvaro era um homem honrado, que trabalhava de sol a sol para nos prover uma vida digna e tranquila.

Beijo meu marido e parto em direção à porta da Mansão Magalhães, uma belíssima e imponente construção, que lembrava alguma das mais elegantes mansões de Montevidéu. O jardim era um verdadeiro oásis, projetado por um paisagista francês de renome internacional. Tudo um primor. Mas foi o grande lustre que pendia do alto do teto na sala principal que fez meu queixo cair.

— Seja bem-vinda, minha amiga! – Lorena me tira do estupor no qual fui jogada pela beleza do lustre. — É magnífico e tive a mesma reação quando me deparei com tal lustre. – Comenta sorrindo e vem ao meu encontro para pegar Isaac nos braços. — Ele está tão lindo.

— Um verdadeiro comilão! – Respondo feliz. — E Cecília, onde está?

— Com Violeta! E logo a babá virá buscar também Isaac, assim podemos conversar à vontade, ao menos por alguns minutos.

Lorena nos levou até sua saleta particular e, assim como havia falado, a babá veio até nós para buscar meu filho, que abriu um sorriso encantador para a jovem serviçal, deixando-me enciumada.

— Largue mão de ser uma ciumenta, Luci! Isaac apenas vai passar algumas horas com outra pessoa. – Minha amiga me repreende com um sorriso grudado na boca, divertindo-se em grande medida pelos meus ciúmes exasperados de mãe.

— Sempre fomos apenas eu e ele! – Falo emburrada. — Nunca me trocou facilmente por outra pessoa, a não ser a Senhora Mercedes, a senhora que nos ajudou quando decidi cursar a Faculdade de Direito, devo ter-lhe comentado em minhas cartas.

— Lara é um encanto de menina, tem jeito com as crianças. Cecília a idolatra. E provavelmente o novo bebê também. – Lorena acaricia sua barriga já volumosa, estava grávida de seu segundo filho, o que a deixava com um brilho especial nos olhos. — Por favor, sente-se!

Sento-me em uma das confortáveis poltronas forradas em tecido com motivos orientais, uma marca de minha amiga que tinha fascínio por tudo que viesse do oriente.

— Parece tão feliz, Lorena! – Falo-lhe com os olhos tomados de lágrimas. Minha amiga merecia ser feliz depois de tudo que havia sido forçada a passar. Livrou-se de seu tio sovina, em compensação quase perdeu a vida nas mãos do primo inescrupuloso. E quando me lembro de que não estava aqui para apoiá-la, sinto-me a pior amiga do mundo.

— Estou mesmo! Muito feliz! Danilo é tão protetor e amoroso... – Ela suspira. — Melhor marido não há.

— Pois há sim! – Solto uma gargalhada marota ao me lembrar de Álvaro. — O meu!

— Pois fomos as mais agraciadas, apesar de tudo.

— Merecíamos mais do que ninguém. – Falo e Lorena acaba rindo do meu comentário, provavelmente por se recordar das nossas antigas conversas enquanto éramos internas do Asilo Para Jovens Donzelas Desajustadas.

— Luci, precisa me contar tudo, absolutamente tudo sobre você e Álvaro. – Lorena me olha de soslaio e seus profundos olhos claros parecem se divertir com meu acanhamento.

— Pois contei tudo nas missivas que te enviei do Uruguai.

— Não é a mesma coisa! – Minha amiga se acomoda melhor em sua poltrona enquanto uma das criadas nos servia um refresco de limão. Lorena, afoita, a dispensou e acabou assumindo a tarefa de nos servir, tudo para nos dar privacidade. — Bem sabe que suas cartas são formais em demasia. Aliás, apenas se tornaram ainda mais prolixas à medida que cursava Direito em Montevidéu.

— Oh nem me fale desse despautério. – Minha decisão em cursar Direito apenas nos endividou, o que fez Álvaro trabalhar ainda mais para poder pagar a Faculdade e todas as despesas da casa, incluindo uma senhora para que ficasse com Isaac. — Foi um absurdo! E Álvaro não devia ter me apoiado. Nos endividamos e não tenho conseguido nenhuma colocação como advogada. – Confesso frustrada. — Mesmo que quisesse ajudá-lo no escritório, não posso, pois não temos dinheiro para pagar uma babá e preciso cuidar de Isaac. Meu filho é mais importante.

— Pois haveremos de dar um jeito nisso! – Lorena levanta de sua poltrona e vem ao meu encontro para uma abraço tão carinhoso e fraternal que faz meu coração ficar mais leve e esperançoso. — Pois tenho uma proposta irrecusável para ti e não precisará mais sonhar com teu dote. Mas antes quero que me conte sobre você e Álvaro, absolutamente tudo.

Sorrio-lhe como sinal de que aplacarei sua curiosidade. Era minha melhor amiga, uma verdadeira irmã de alma e merecia saber tudo sobre meu envolvimento com Álvaro Junqueira, um advogado perspicaz e inteligente, cuja origem humilde não lhe fora empecilho para perseguir seus sonhos.

— Pois te sente e te acomode bem, porque a história é deveras interessante, mas um tanto longa para uma grávida escutá-la ajoelhada aos meus pés. 

***

Bom dia amadinhas!!!

Hoje começo a postar o conto da Luciana e do Álvaro. 

Será um capítulo por dia e como o contro é curtinho, fiquem ligadas que será retirado 24 horas depois de postado o último capítulo.

Beijinhos e uma ótima semana. 

 

Um Herói para Luciana - Spin Off da Série Belle ÉpoqueWhere stories live. Discover now