O que mais temia havia aconteceu: Ferrera pegou Rubi e levou para um lugar que eu nem conheço e nem fazia ideia como eu faria para chegar até lá.
Enquanto isso Afonso procurava em todos os cantos alguma coisa relacionada ao paradeiro de Rubi. Chamei-o duas vezes e ele se levantou ofegante.
- Olhe esse bilhete - falei entregando o pedaço de papel a ele.
Afonso pegou o papel avidamente e leu. Desabou em uma cadeira próxima e recostou nela olhando para cima.
- E agora? - perguntei - Você sabe onde é esse lugar?
- Eu conheço - respondeu Afonso voltando o seu olhar para mim - mas você não pode ir sozinho.
- Não tenho escolha, Afonso. A vida dela está em jogo.
- Mas a tua estará em jogo também - ele me advertiu - vou falar com um amigo, que é delegado. Tenho certeza que ele me ajudará nessa ação. Vou chama-lo aqui para começarmos a investigação.
Deitei em minha cama enquanto meu primo telefonava para o seu amigo. Eu sentia vontade de chorar, mas eu não tinha mais lágrimas. Minha mente estava fatigada de pensar em como sair dessas enrascadas. Meu estomago começou a doer, eu podia sentir o acido sulfúrico batendo violentamente contra as minhas paredes estomacais. Virei para o lado e tentei imaginar como Rubi estava.
- Natan - chamou Afonso - meu amigo e mais dois investigadores estão vindo para cá.
Eu fiquei calado apenas olhando para a janela. A lua estava tímida entra as nuvens e algumas estrelas tinham seu brilho fraco. Preciso ser franco, pensei em me acovardar e largar de mão toda aquela situação. Mas eu já tinha chegado até ali com Rubi, não podia abandoná-la, principalmente na reta final de sua vida.
Virei-me para o outro lado e vi Afonso sentado em uma cadeira me olhando.
- Tente dormir um pouco enquanto eles não chegam - ele me disse com um olhar cuidadoso.
- Não sei se consigo - falei me virando de barriga para cima - estou com uma dor no estomago.
- Acho que tenho remédio no meu carro.
Ao falar isso ele saiu, mas logo voltou com uma pequena caixa em mãos. Encheu um copo com água e me deu junto com o comprimido. Assim que eu tomei o remédio, o delegado e os dois investigadores chegaram. Levantei com dificuldade e me desculpei em seguida.
- Eu não deveria ter mexido nas coisas quando eu cheguei.
- Sem problemas, Natan - disse o delegado olhando em volta da casa enquanto vinham mais dois investigadores atrás.
Afonso me apresentou o delegado, só lembro-me do seu primeiro nome, era Savio. Ele tinha a minha altura, de cabelos grisalhos e vestia uma jaqueta de couro preta que dependendo da iluminação do ambiente chamava muita a atenção. Ele me inspirava confiança, não vou negar, mas eu ainda sim queria ir sozinho ao encontro de Ferrera. Não queria envolver terceiros nos problemas que eu mesmo arrumei.
Savio montou toda a estratégia de como chegaríamos ao traficante. Eu apenas ouvia e tentava imaginar se essa estratégia que ele estava montando daria certo.
Naquela hora mesmo pegamos o carro do delegado e fomos em direção a Jacareí. Eu não conhecia aqueles lugares em que passávamos, mas a cada quilômetro que se completava eu tentava imaginar como estaria Rubi. Aquela escuridão em que adentrávamos podia representar o coração da minha amada que estava mergulhada em uma angústia profunda. De vez em quando algumas lágrimas ameaçavam cair, mas eu logo as secava com as costas da minha mão.
Enfim chegamos ao destino. Eram ruínas de uma fábrica. O delegado chamou o meu nome e disse me entregando um dispositivo, que parecia um alarme de carro.
- Você irá sozinho até o encontro de Ferrera. Quando sentir o perigo eminente aperte o botão que há nesse aparelho.
Em seguida foi até uma maleta de couro e pegou uma pistola semi-automática. Carregou-a e a entregou a mim dizendo:
- Afonso me disse que você sabe atirar. Pode usá-la se precisar.
Agradeci e peguei a arma, olhei para ela e saí do carro. Comecei a caminhar lentamente com o auxilio da lanterna do meu celular. Entrei naquelas ruínas e um odor de mofo invadira o ambiente. Andei alguns metros e uma angústia tomava conta do meu coração, parece que a qualquer momento eu presenciaria algo terrível.
Não demorou muito para isso.
Ao entrar num cômodo vi como a luz de uma vela pela parede e a silhueta de um corpo pendurado. Coloquei a mão na boca e o meu coração começou a bater mais forte. Eu só falava mentalmente: Não pode ser. Cheguei mais perto e vi o corpo de uma mulher pendurado por uma corda apenas de lingerie, logo a reconheci... era Sol. Engoli seco e uma vontade de chorar incontrolável me bateu, respirei fundo para não fazer barulho. De repente ouvi uma voz grave quase ao meu lado que dizia com um sotaque espanhol:
- Isso é o que acontece com quem cruza o meu caminho e atrapalha meus planos.
Olhei em direção a voz e lá vi Ferrera segurando Rubi tapando-lhe a boca. Eu simplesmente paralisei, fiquei sem reação nenhuma. O eco do sangue de Sol pingando no chão, o grito abafado e o olhar desesperado de Rubi para mim me deixavam sem saber o que fazer. Ferrera lançava seu olhar sagaz para mim e eu não tive escolha e acionei o botão que Savio havia me dado.
- Não faça nada com ela - falei ofegante.
- Eu sei que você não veio sozinho, coisinha insignificante... - Ferrera falou com tom arrogância.
- Estou aqui, não estou? - retruquei - tive que pedir para me trazerem até aqui, pois não tinha dinheiro para o ônibus...
- Que desculpa esfarrapada, criança!
Meu peito começou a arfar, sentia que o ar faltava em meus pulmões e comecei a ficar angustiado. Mesmo ofegante pedi:
- Solte-a!
- Eu só lhe chamei aqui para vê-la morrer. Mas acho melhor você morrer primeiro.
Em seguida ele apontou a arma dele para mim. Nisso ele relaxou a mão que segurava Rubi e ela conseguiu escapar. De ímpeto Ferrera apontou a arma para ela e eu só consegui ouvir o disparo. Nisso meus amigos chegaram e começaram a trocar tiros com os capangas de Ferrera que veio em seguida.
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Ela Não Podia Amar
RomanceNatan, um professor universitário se apaixona por Rubi, uma das garotas de programa mais rica e cobiçada da cidade de São Paulo. Após muita relutância, Rubi também se apaixona pelo professor, mas se julga indigna de desfrutar seu amor pelo simples...