< II >

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Eu continuei chamando ela pra provocar todos os dias da semana.

Era lindo vê-la irritada, mesmo sabendo que no fundo, ela gostava.

Todas gostam, afinal.

Fiquei esperando ela passar pelo Campus com um de seus incríveis penteados hoje, como o de ontem que era um laçarote azul num coque alto.

Ou quarta-feira passada quando ela veio com um topete enorme e batom vermelho.

Ela não passou hoje.

Nada de penteados legais ou sobrancelhas erguidas.

A aula foi um tanto vazia, o dia parecia estar incompleto, por isso, fiz questão de ir até o prédio dela e não seria difícil achar o apartamento, afinal eu procurei saber.

Lá estava, apartamento 521, um tapete na frente e um filtro dos sonhos bem na porta.

Eu poderia tocar a campainha, eu sei, mas preferi bater desesperadamente, gritar fogo e chamar a atenção dela.

Mas meu humor desceu quando a vi com cara de choro do outro lado do corredor, saindo do elevador.

— O que você quer, Logan?

— Você...

— Não.

— O que aconteceu?

E ela desabou.

Eu, por reflexo, corri para abraça-la e tentar fazer ela se acalmar.

— Livina, o que tá acontecendo?

— É ele, ele me mandou uma carta ontem.

— Quem? O que dizia na carta?

— O Alex...— soluçou alto e se apertou mais ainda contra meu corpo.— Ele disse que a culpa é minha, eu que não quis tentar.

— Livina, não é sua culpa. Ele te fazia mal e eu sei disso.

— Como sabe?

— Procurei saber...

Ela me olhou com as sobrancelhas franzidas e eu ri pois era a primeira vez que a via fazendo outra coisa sem ser a arqueada debochada.

— Eu tô ficando com medo de você, Logan...— se desfez do meu abraço e colocou o cabelo atrás da orelha.— Não quer entrar? Eu tenho um cantinho do café.

— Adoraria.

A casa dela era em tons pastéis, tinha uma música tocando bem baixinho numa caixinha de som, as luzes deixavam o pequeno apartamento mais aconchegante e as plantas faziam o ar parecer mais limpo, o que é estranho na cidade onde moramos.

— Café mesmo ou capuccino?

— Café e uma explicação pro telefone do Batman.

— DC, Batphone e tava barato no Aliexpress.

— Entendi... Nunca parou de funcionar? Você sabe, Aliexpress...

— Não, nunca parou. Ainda bem.

Ela me entregou o café e se sentou no tapete felpudo que me lembrava os pêlos dos cachorrinhos das ricas.

— Não derrama café na porra do meu tapete, Logan.— ela apontou o dedo para mim.— Que você veio fazer aqui?

— Ver se você tá bem.

— Por que tá sendo legal?

— Eu não quero ser legal.

E lá estava, a sobrancelha direita arqueada e a carinha de deboche que eu adoro ver.

— Essa frase é minha.

— Compartilharemos dela então.

I don't wanna be niceOnde histórias criam vida. Descubra agora