Amaldiçoados (Imortal)

Passado

Eu estava olhando para o cartão e para as flores. Não conseguia parar de me perguntar o que estava acontecendo. Em quase 100 anos nunca existiu uma pessoa que pudesse me desestabilizar como o Robert estava fazendo.

Eu queria tirar essa impressão que eu tinha de que conhecia ele de algum lugar. Eu sabia o que tinha que fazer mas isso iria consumir muito de minha energia.

Tinha que me preparar. Peguei as flores e subi para o quarto. Deixei as na ponta da cama e me sentei bem no meio da cama cruzando as pernas e me preparando. Tinha que me concentrar. Peguei o cartão e me forcei a visualizar...

Eu o vi sorrindo e escrevendo o cartão. Mas ainda não conseguia ver o que estava pensando. Eu o vi colocar o cartão nas flores e o vi entregar as flores na minha portaria. Mas quando ele tocou novamente o cartão eu peguei o vislumbre de uma lembrança. Paris. Ele sorrindo olhando para uma ruazinha de pedras eu conseguia sentir sua felicidade e seu amor. Ele emanava amor e felicidade. Olhou para baixo para sua xícara, eu conseguia sentir o cheiro do café de tão vivida que era essa lembrança. "Eu quero que você saiba que eu nunca vou desistir de você Laura" e então ele olhou para cima para encarar a pequena mulher de cabelos longos e pretos. Eu me via pela visão dele. Encarando o de volta.
"Eu não entendo" como era estranho ouvir minha própria voz por outra pessoa. Ele esticou a mão pela mesa fazendo com que suas mãos se tocassem. "Não precisa entender mas precisava que você soubesse, eu te amo".

A visão foi ficando turva. E quando consegui focalizar novamente vi que estava de volta ao meu quarto com as rosas no final da cama, estava exausta. E aos poucos senti que ia apagando e ficando inconsciente. Então de bom grado me entreguei a esse sono.

E eu devia estar num sono muito profundo, pois mesmo ouvindo alguém andar pelo quarto, minha cabeça estava tão cansada, tão confusa que nem sequer abro os olhos para olhar. Instintivamente coloco um travesseiro sobre a cabeça só posso estar sonhando. Pouco depois ouço mais um barulho no quarto. Levanto um pouco o travesseiro e olho para o relógio de cabeceira que marca três e quarenta da manhã. "Volte a dormir isso é ridículo não tem ninguém aqui só sua cabeça pregando peças." Viro para o outro lado posicionando o travesseiro novamente em cima da cabeça, se alguém estivesse realmente aqui eu estaria ouvindo os pensamentos. Ainda estou me sentindo com a cabeça pesada e com as energias drenadas. Ouço outro barulho no quarto.

Irritada jogo o travesseiro do lado e sento na cama focalizando o local onde ouvi o último barulho. Ali sentado na cadeira da minha escrivaninha vejo uma forma embaçada pela escuridão. Eu nao preciso acender as luzes para ter certeza de quem é. Agora faz sentido que eu não estava ouvindo os pensamentos de ninguém no quarto. Ali sentado de cabeça baixa olhando para o chão estava o Robert.
"O que esta fazendo aqui?" Ele ergue a cabeça parecendo um pouco assustado. "Você pode me ver?" "Claro que posso te ver, não seja ridiculo" me viro para acender o abajur de cabeceira e quando olho novamente para a escrivaninha não tem ninguém lá. Será que imaginei a coisa toda?

Levanto ainda cansada e vou ate a cozinha pegar um pouco de água. Quando volto para o quarto dou mais uma olhada só para ter certeza, inspecionando novamente para ver se não tem ninguem. Olho pela janela imaginando o quão cansada eu estou para sonhar que o Robert estiverá em meu quarto. La fora o céu esta calmo e limpo. Quando me volto para a cama vejo as flores no final dela. Pego e as coloco em um vaso, elas são realmente lindas.

"Ok Laura vc oficialmente está ficando louca, deixando se afetar dessa maneira" dou um largo sorriso e volto para a cama. Ainda preciso descansar um pouco e recuperar minhas energias. Preciso tentar entender o que aconteceu mais cedo. Aquela visão de Paris. E preciso decidir como lidar com o Robert da próxima vez que eu o encontrar.