Fugaz
Preciso fugir,
Me perder
E encontrar um pouco de paz,
Eu preciso fingir,
Disfarçando a mesmice,
A rotina,
Solidão;
Ah
Eu preciso,
Preciso ir,
Esgueirando-me na culpa,
Abdicando do tempo,
Cantarolando rouco,
Justificando minhas fugas
Para moucos-embriagados,
Sujeitos-injustiçados;
E no caminho quem sabe
Redescobrir o marasmo,
A monotonia,
O prédio construído de tédio;
Ah
Deve
Nesses andares
Haver melhor lugar
Para estacionar minha inocência,
Coerente incoerência,
Uma mixaria que ainda me resta,
Paradoxo particular.
Preciso dar no pé,
Ensebar as canelas,
Subir,
Sumir,
Escapar
Deste lado do hemisfério ferino,
Insatisfeito com metades,
Maldizendo os retalhos,
Recolhendo as ambições e vivendo,
Precário,
Limitado;
E mais uma vez mudar,
Reinventar o eu,
O fazer,
A juventude perdida,
O devaneio de amar.
Eu estou saindo depressa,
Saindo daqui
Com a esperança de um dia
Reaver o novo,
Num incidente-previsto
Me encontrar de novo,
E nesse novo-antigo lugar
Que também tem validade,
Novamente tentar
Reconstruir,
Escapando de mim,
Do outro,
Das vaidades,
Simplificando,
Sabendo que um dia
Tudo se repete,
O caminho já trilhado,
O percurso já sabido;
O amor mal amado,
Os valores mal vividos,
Voltando o adulto a ser criança,
E acreditando
Que aos tanto e poucos anos
Se pode recomeçar
Sim
Pode recomeçar