Capítulo 13

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VAI FICAR TUDO BEM, CERTO?

"Dezembro, 2010

Julieta afundou as mãos pálidas na terra úmida, pressionando-a como se isso fosse estancar a dor que nadava em seu peito. Seus dedos até poderia fazer uma represa para o barro, mas não seriam capazes de arrancar de dentro dela os sentimentos aflitos que a atormentavam.

Nada seria forte o suficiente para conter os cacos afiados do seu coração, nada conseguiria colá-los no lugar, não de uma forma que pudesse seguir em frente.

Mas um dia conseguiria, ela ouviu de todos.

Um dia a dor se tornaria minúscula, seus amigos disseram.

Afinal, isso seria possível?

Era verdade o que diziam?

Tinha de ser.

Aquela dor não poderia a acompanhar para sempre, poderia? Ela andaria em seu encalço como uma sombra, molhando seu rosto de lágrimas e sua alma da mais profunda agonia? Se sim, do que adiantava viver?

Os soluços que escapavam da garganta eram amargos e doídos, levavam aos lábios o sabor da perda que não pode ser evitada, da doença horrível que ceifou uma vida, roubando o pedaço mais alegre e confiante da garota de cabelos e olhos castanhos brilhantes que, naquele momento, estavam perdidos e vazios.

― Por que, Deus? Por que justo ela? Por que justo alguém tão bom? ― ela berrou, afundando o rosto entre as mãos sujas do barro que cobria sua amiga.

Não muito longe, o padre rezava em latim, fazendo uma oração para que a alma da jovem mulher fosse recebida no céu. A mãe da falecida chorava alto, gritando o nome da sua menina em meio as lágrimas enquanto suplicava para que acordasse daquele pesadelo.

Julieta, ainda afundada na terra, sentiu as mãos de alguém segurarem seus ombros, a puxando para cima gentilmente e colando seus corpos, sem se importar com a lama e as lágrimas.

Seu corpo ali, em meio àquele pesadelo, não passava de uma pedra rústica cheia de pequenas lacunas feitas pela dor; seus olhos eram uma cachoeira fria, daquelas que não era seguro se aventurar; seu peito um buraco fundo onde só residia a angústia e o vazio mais perturbador que ela já havia sentido.

Ainda assim, se manteve de pé, sendo sustentada pelo abraço do pai e, queria acreditar, pela alma daquela que lhe faria tanta falta, que mal partira e já deixara a saudade os rodeando.

— Vai ficar tudo bem, filha. Vai ficar tudo bem."

Dezembro, 2025

Julieta acordou assustada, suada e, como sempre, ferida. Seu peito subia e descia, a respiração entrecortada, como quem havia se afogado e conseguido escapar, mesmo não querendo.

Apertou a mão no peito, conferindo se tinha pulsação. Ainda parecia haver um coração pulando ali dentro e a mantendo viva naquele mundo cruel. Para o seu descontentamento, havia sim, e ele batia em um ritmo rápido e doído.

Olhou o quarto, vendo a janela iluminada e suspirando ao ver o dia raiar. Respirou fundo, contando até dez e soltando o ar. Mordeu os lábios até sentir o gosto metálico do sangue. Era fraco, nada saboroso e menos doloroso do que ela desejava que fosse.

― Ah, merda ― xingou, batendo no colchão. Se lembrou de que era Véspera de Natal e de que havia marcado uma consulta de manhã para tirar o gesso da perna.

Apoiando o peso sobre a cama, ela levantou com cautela e foi até o banheiro devagar. Escovou os dentes e tomou um banho rápido, porém, cuidadoso, pois não podia molhar a perna engessada.

Vestiu a primeira roupa que encontrou e saiu, entrando no elevador vazio e apoiando as costas na parede de metal fria, como seu coração.

Quando o elevador abriu no seu destino e ela botou o pé do lado de fora, um homem entrou, apressado, quase a derrubando. A jovem grunhiu, mas não deu atenção, ansiosa para ficar longe da sensação fria do metal.

― Tenha um bom dia, Julieta. ― As portas do elevador fecharam antes que ela pudesse ver a pessoa. Franzindo os lábios e arqueando a sobrancelha, a jovem pigarreou, confusa.

― Ok. Isso foi estranho. ― Balançando o corpo para espantar a sensação incomum que o percorreu, ela seguiu seu caminho, olhando por cima do ombro para ver as portas de metal lacradas.

Mordendo os lábios, voltou sua atenção à frente e fechou os olhos, contendo a imensidão de sentimentos que aquele dia a trazia. Não iria chorar. Não iria deixar suas rachaduras ainda mais expostas.

"Tudo vai ficar bem, filha, tudo vai ficar bem", lembrou de o pai dizer. Ainda estava esperando que tudo ficasse bem.

Se o que o pai havia deito era verdade, isso ainda iria demorar quantos anos para acontecer? Ela esperava que poucos. Não iria aguentar muito mais.

Retomou seu caminho, limpando uma única lágrima.

"Tudo vai ficar bem."

As agridoces lembranças de Julieta (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora