Capítulo 2- O fracasso

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Edson, 6 de Maio de 2019

   - Edson, você está demitido!!- fico sem reação com o olhar fixo em Drake, meu chefe.
   Ele sempre fora um cara legal, me acolheu bem quando comecei como atendente no banco de Montedral, ele sempre me aconselhou e me deu a maior força, até me tornei gerente.
   - Foi mal cara, mas seu desempenho caiu bastante nos últimos meses, eu segurei o máximo, mas não pude conter a decisão do administrativo.
   Continuo sem entender aquilo, sei que ando meio desligado, mas minha vida está um caos, descobri que Charlotte me traía, bebi demais e entrei em uma depressão profunda.
   - Vou pegar uma água para você.- Drake se levanta mas balançando a cabeça.
   Me levanto e saio de sua sala, talvez estou sendo muito escroto, mas a raiva me consome, sinto aquela onda de tristeza me afogando, recolho minhas coisas e saio em disparada em direção ao meu carro, sem me preocupar de me despedir de ninguém.
   Entro e bato a porta, as lágrimas queimando os meus olhos, sou um fracassado, minha namorada me traiu, sou um fracassado, fui demitido, sou um fracassado, terei que pedir ajuda para sobreviver para Bia, minha irmã.
   Fico repetindo aquelas palavras em minha mente, soco o volante com força, lágrimas formando poça em minhas pernas. Coloco a chave na ignição e dou partida, consigo me acalmar e dar atenção a estrada, até que meu celular toca, dando sinal de que chegou uma notificação, pego-o e me deparo com uma das piores notícias de minha vida, "Charlotte está noiva de Tristan."
   - Mas que por...
   Sou impulsionado para a frente ao mesmo tempo que o airbag é acionado, minha cabeça gira, sinto dores leves no braço e pernas, abro minha porta e saio.
   Bati o carro numa árvore, bem no momento que me destrói com o "evento maravilhoso", fico atordoado por alguns instantes, a Bia não pode saber que bati o carro, ela não pode sequer sonhar que perdi o emprego.
   Abro minha lista de contatos e seleciono o da mecânica que minha irmã sempre levava o carro, já que ela sempre batia.
   Estou quase desistindo até que sou atendido.
   - Oficina dos Braga, boa tarde!- uma atendente fala com um tom seco
   - Boa tarde, bati o meu carro e preciso de ajuda para consertar rápido.
   - Desculpa, estamos sem horário, mais alguma coisa?
   Respiro com dificuldade, minha raiva já ameaçando retornar.
   - Não.- respondo de forma irônica
   - Ok, obrigada.- a garota já ia desligar, quando a interrompo, talvez por desespero ou só burrice mesmo.
   - Eu pago o dobro.
   - Certo, parece que tinha um horário livre amanhã às 09:30 com o Carlos, já está marcado.
   - Obrigado.- respondo bufando e ela desliga na minha cara.
   - Menininha sem educação.- falo para o vento.
   Entro no carro e vou para minha casa, ao chegar abro a porta, retiro os meus sapatos e os jogo pelo caminho, pego 2 cervejas, alguns pedaços de pizza que sobraram do dia anterior e me jogo no sofá.
   Levo um susto quando meu celular vibra, avisando que recebi uma mensagem, o pego e fico apreensivo, é a Bia, e me lembro de que ela vai vir em casa hoje, abro a mensagem.
   "E aí pirralho, você não vai acreditar, aconteceu uma reviravolta louca aqui no Hospital, chegou um paciente precisando de um transplante de coração, e adivinha quem vai realizar a operação? Isso mesmo, sua irmã perfeita. Desculpa, mas vamos ter que cancelar o jantar de hoje tá. Amo você e torça por mim. :)"
   Respiro aliviado, pelo menos Bia não terá o desgosto de me ver nessa situação

   Acordo em um sobressalto causado por um barulho que vinha lá de fora, nem percebi que havia dormido no sofá, olho para o relógio que marca 22:00.
   - Bia?!- pergunto para o escuro, me levanto e vou tateando a parede até encontrar o interruptor, acendo as luzes e demoro um tempo até me acostumar com a claridade, olho pela janela e me deparo com um homem alto, com roupas pretas e capuz, entro em choque e corro para os fundos, o indivíduo simplesmente entra em minha casa e corre a meu encontro, me xingo internamente por ter a mania de deixar as portas destrancadas.
   Continuo correndo e olho rapidamente para trás, até que sinto uma pressão em meu ombro e caio, havia esbarrado na porta de saída.
   O homem me alcança, ficando sob mim, até que saca uma faca em minha direção, tento me defender.
   - Calma senhor, não te fiz nada e...- ele se move um pouco para a esquerda e as luzes da rua refletem em seu rosto revelando sua indentidade- Você?! Mas por quê?
   - Eu vou me vingar.- ele grita
   - Do que está falando?- pergunto já tateando o chão a minha volta
   - Ela vai me pagar pelo que fez!- agarro o peso da porta e bato em sua cabeça, ele cambaleia para trás, me dando espaço para me levantar, agradeço Bia por me convencer a colocar um tijolo encapado como peso de poeta.
   Não tenho dúvidas, vou morrer, então aproveito para tirar uma foto do mesmo, pois assim terei uma prova ao menos.
   Ele começa a se recuperar e vir em minha direção, olho em volta buscando algo para me proteger até que encontro uma tesoura, a pego e vou a seu encontro, estou preste a enfiá-la no assassino até que sinto algo entrando repetidamente em meu corpo, "esta dor é diferente", penso, caio no chão e escuto o ir embora.
   Bia, é a única coisa que eu penso, sinto a vida se esvaiar em mim, mas preciso fazer algo antes.
   - 1 9 0, qual a emergência?
   - Eu sofri um atentado e...
   Nesse momento tudo fica preto e um silêncio domina meus pensamentos.

Anatomia de um crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora