9 - Verdadeiros adolescentes

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Quando cheguei na casa, fui recebida com abraços e perguntas sobre o meu estado físico. As respostas foram as mesmas; "Estou bem, mas preciso de um banho". E era verdade. Ontem quando fui para o hospital ainda vestia minha roupa de banho e não tive oportunidade de me lavar enquanto passei a noite naquele lugar.

Então minha primeira parada na casa, fora o meu banheiro. Onde eu passei cerca de quinze minutos embaixo d'água processando o que eu estava vivendo no momento. Ao me dar por satisfeita, eu vesti uma roupa fresca e me joguei na cama com a intenção de ligar para minha mãe e contar do ocorrido.

Ela surtou. Mas se contentou por eu ter tido Joel ao meu lado e por isso me fez milhares de perguntas sobre como foi aquele momento. Não tinha muito com o que ela se alegrar. A única interação que tivemos fora quando eu acordei e logo o silêncio tomou conta do lugar onde estávamos.

Um pouco antes de desligar, eu recebi no quarto uma segunda presença. Era Cecília. Desde que eu cheguei acompanhada de Joel e Zabdiel, Cecília, mesmo agindo como os outros meninos, ainda carregava uma feição que, por mim era interpretada com conturbada. Sendo um dos tópicos para se ponderar no meu banho. Por isso, eu finalizei o mais rápido que pude a conversa com a minha mãe enquanto a loira estava sentada na ponta da cama.

- Olá. - eu a cumprimento, assim que desligo a chamada.

Cecília sorri fraco, enquanto se remexe na cama.

- Oi. - sua voz soa fraca e seu cabelo cai em seu rosto, tampando a minha visão dos seus traços.

- Aconteceu alguma coisa? - questiono, enquanto crispo as sobrancelhas. Eram raros os momentos em que Cecília não agia histericamente.

Ela não responde de imediato, enquanto isso, ela levanta sua cabeça, fazendo os olhos verdes quase penetrarem a minha alma. Ela aperta os lábios segundos antes de finalmente se pronunciar.

- Por que você não me contou sobre Joel?

As palavras somem da minha garganta ao processar a sua frase. O olhar esmeralda estava cem por cento focado em mim e eu podia ler em seus olhos, que ela não me julgaria.

- Ahn... - eu balbucio, sem saber o que a responder. A resposta seria algo simples, mas eu sentia que Cecília havia descoberto o meu segredo mais escuro. Por isso, meus pensamentos inciciavam uma guerra cívil.

- Eu não estou brava. - ela admite balançando a cabeça para os lados e fazendo o seu cabelo loiro se mexer. - Estou chateada, Sophia.

Eu engulo a seco. Por mais que eu visse sinceridade nas suas palavras, o seu tom me fez sentir o peso de esconder isso dela por muito tempo.

- Me desculpe, Ceci. - eu digo com a voz fraca. - Não foi a minha intenção esconder isso de você, eu só... nunca me senti preparada o suficiente para contar a outra pessoa sem ser alguém envolvido nisso tudo.

Cecília me encara, enquanto eu já era capaz de sentir minhas mãos tremendo.

- As versões são iguais? - ela questiona e eu entendo que ela falava sobre o que Joel possivelmente a contara.

- O que ele te contou?

- Resumindo, que vocês eram melhores amigos de infância, mas vocês brigaram porque ele não quis aceitar que você iria ganhar uma bolsa acadêmica.

Eu assinto.

- Resumidamente foi exatamente isso. - eu repito, o que ela provavelmente já sabia. - Mas, ele contou que para fazer isso ele se juntou com a menina que fazia bullying comigo?

Ela levanta as sobrancelhas, e eu assumo que ela não sabia dessa parte.

- Pois é. - eu não dou oportunidade dela falar. - Ele fez isso, e depois se declarou.

          

A sua feição continua a mesma, aparentemente meu ex melhor amigo somente havia contado os pontos principais da nossa separação.

- Você sentia o mesmo? - sua pergunta não me surpreende, eu sabia que de alguma forma Cecília sabia ler um pouco dos meus sentimentos que eram transmitidos pelo meu olhar.

Eu ainda não aprendi como conter as minhas emoções quando se tratava de Joel.

- Eu ainda sinto, Cecília. - admito, mais para mim mesma do que para a brasileira. Ela não demosntra outro sentimento a não ser a confirmação de suas possíveis ponderações.

Era tão óbvio como eu me sentia na presença do garoto?

- E por que você está com Pete? - era a pergunta que eu já esperava.

Quanto mais eu fazia essa mesma pergunta na minha mente, menos argumentos eu encontrava para responder concretamente o porquê de eu estar com Petterson James.

- Eu... Não sei, Ceci. - eu jogo o meu corpo para trás, sentindo o colchão fofo nas minhas costas.

- Sophia, eu já não gosto de vocês dois juntos pelo jeito que ele te trata, e aí você me diz que nem mesmo gosta dele. É agora mesmo que eu não vou apoiar vocês dois.

Fecho meus olhos ao ouvir seu comentário. Certo, já tinha mais uma pessoa contra o meu atual relacionamento.

- Mas Cecília...

Ela me corta.

- Mas nada Sophia, o que vocês tem não é um relacionamento. Pode até ser que você goste do jeito que ele te toca mas isso não é motivo para continuar um relacionamento sem sentimento.

Eu bufo, sabendo que era mais do que verdade o que ela dizia.

- Eu irei tentar dar um jeito, nisso. - digo, talvez na intenção de fazer ela parar de falar nesse assunto.

Ela vê a falta do meu interesse e com isso balança sua cabeça em uma concordância.

- Você acha que Joel ainda sente o mesmo? - sua pergunta me faz lembrar de Sabina perguntando o mesmo, mas eu era o sujeito na frase.

Me remexo na cama, ficando de uma forma na qual eu conseguia ver seu rosto perfeitamente.

- Eu não sei. Ele aparanta que sim, mas agora ele está famoso, e eu não tenho dúvidas de que há milhares de mulheres atrás dele.

Minha amiga balança a cabeça para os lados.

- Não é assim que funciona, So.

- Mas é isso que eu acho, Ce. - uso o seu apelido, e ela não faz nada. - Você não vê Christopher?

Ela falha em segurar um sorriso.

- Chris é outro caso. - ela diz sorridente e eu a acompanho, mesmo com um fraco brilho nos meus lábios.

- Ele é único né.

Cecília ri.

- Sim, ele é.

Nos rimos, lembrando das histórias que o equatoriano havia contado sobre suas peguetes anteriores.

Nossos risos são interrompidos pela minha barriga roncando e a brasileira me arrasta para tomar café, mesmo faltando pouco tempo para o almoço.

Depois da garota acompanhada de Christopher ter me feito comer igual a um porco, eu subo de volta para o meu quarto e com o celular nas mãos enquanto lia conversas antigas com Pete, acabo adormecendo.

Acordei perto das cinco e ver o horário no celular que estava perdido em meio ao edredom, realmente me fez sentir supresa com o tamanho do meu cansaço, mesmo estando dopada por onze horas. Eu me levantei ainda zonza de sono e fui direto para o banheiro, aproveitando para vestir um biquíni para que eu pudesse dizer que aproveitei pelo menos um pouco do dia de hoje. Eu sabia que não dormiria tão cedo.

Me surpreendi de realizar que a casa estava silênciosas, e ver que os dois carros estavam na garagem e ninguém estava na praia, pude concluir que todos dormiam. Por isso fiz o meu caminho até a cozinha e peguei um pacote da batatinhas e me dirigi até as espreguiçadeiras, aproveitando o sol de final da tarde para aquecer meu corpo enquanto eu conversava com Pete pelo meu celular.

Acabamos brigando após meia hora de conversa e por isso eu tive que me entreter com vídeos aleatórios nas redes sociais.

Quase uma hora depois, Richard apareceu me assustando ao pular na piscina.

Ele emerge da água gargalhando e eu o olho com uma cara feia.

- Obrigada pelo susto. - sou irônica.

- Foi proposital. - ele ri, mostrando seus desntes perfeitamente alinhados e brancos.

Me perguntava como havia fãs deles que podiam dizer coisas más sobre ele. No dia anterior, ele havia me contato o quanto ele sofria preconceito com suas fãs por conta da sua cor ou até mesmo pelo seu jeito de ser. Aquilo para mim ainda soava um absurdo. Pois o tempo inteiro, Richard sabia mostrar uma atenção e carisma gigante comigo e com Cecília, mostrando claramente que ele era aquele tipo de homem que sabe cuidar de uma mulher.

Nós começamos uma conversa agradável, fazendo perguntas sobre nossas vidas pessoais e profissionais. E quase cem por cento do tempo, Richard conseguia me fazer rir facilmente. Seu sotaque e sua confusão misturando o espanhol com o inglês tirou de mim diversas gargalhadas, ainda mais quando ele forçava a sua voz a fazer alguma piada.

Depois de um tempo, Christopher apareceu e com isso minha barriga começou a doer de tantas gargalhadas que eu soltava com cada pérola que eu ouvia. Temia Erick aparecer e me fazer desmaiar de tanto rir do seu jeito cubano de ser.

Acabou que três horas depois todos estavam acordados e aparentavam querer aproveitar a noite devidamente bem.

- Que tal a gente brincar de "eu nunca"? - Richard dá a ideia e isso faz todos nós nos olharmos.

- Com bebida? - Joel questiona e Richard concorda. O mexicano balança a cabeça em uma negação. - Tô fora.

Os meninos o zombam.

- Qual é Joel, uma vez na vida não mata. - Christopher reclama.

- Eu nem tenho vinte e um anos ainda. - ele retruca.

Sabia o quão Joel era chato com essas coisas. Ele sempre me dizia que tentaria ao máximo negar a bebida. Talvez ele estava fazendo isso por conta da minha presença.

- O Erick já fez pior antes de completar dezoito. - Zabdiel aponta e o cubano revira os olhos. Eu somente encaro Cecília segurando uma risada e uma feição de indignação.

Transfiro meu olhar para o meu ex melhor amigo, que por sinal também me encarava. Por alguns segundos, mantemos o contato visual, até eu mover minha cabeça em uma afirmação silênciosa e o californiano bufar. Ele havia entendido o recado.

- Tudo bem, vamos jogar essa bagaça.










Sólo YoWhere stories live. Discover now