CAPITULO XXII

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Todos estavam em choque, Anna e Andressa permaneciam abraçadas a Alejandro, que olhava para lugar nenhum como quem observa uma pintura tentando desvendar seus mistérios em busca de respostas. Santiago não podia se afastar deles, mas também não podia ficar de mãos atadas. Pegou o telefone e discou o único numero que havia prometido a si mesmo nunca mais ligar, mas Alejandro precisava dele, Anna precisava dele, olhar para a mulher que amava se consolando nos braços de outro era uma viagem expressa para o inferno, mesmo que esse outro fosse o irmão dela.

- Jenkins falando.

- Zac... – engolindo em seco Santiago pensou em desligar o telefone, mas um olhar na direção de Anna o fez criar coragem. – Aqui é o Santiago, preciso que me ajude em algo.

- Mas ora, ora se não é o meu meio irmão me ligando e pedindo ajuda, se não me engano existia uma promessa de nunca mais ligar para mim....

- Já chega eu sabia que era um erro falar com você Zachary, adeus. – Santiago desligou o telefone de forma brusca, puxou o ar algumas vezes tentando recuperar a calma. Sempre foi assim, Zac o atormentou parte de sua infância e adolescência, e agora mesmo os dois sendo adultos ele ainda insistia nas provocações.

Estava se preparando para sair da sala quando olhou novamente na direção de Anna e a pegou o encarando, ele tinha tanto a dizer, tanto a fazer e ainda assim se sentia impotente sob aquele olhar. Pelos céus ele seria capaz de qualquer coisa para ter aquela mulher em seus braços, mas era covarde demais para isso. Como ele queria ser egoísta a ponto de jogar tudo para o alto, todos seus medos e receios, sua vida militar e toda a sujeira que a acompanhava, deixar tudo isso para trás e faze-la feliz. Mas ele nunca seria capaz de fazê-la realmente feliz, sempre haveria um porém, uma incerteza, algo que ele não poderia dar a ela, afinal ele só sabia amá-la em pensamento.

Anna caminhou na direção dele e sem pensar envolveu a cintura estreita e firme de Santiago com os braços, o sentiu retesar enquanto aspirava o cheiro almiscarado que emanava dele. Pensou que ele fosse ficar ali apenas parado a deixando abraça-lo, mas para surpresa dela, ele a estreitou nos braços assim como Al tinha feito. Permaneceram assim por alguns instantes, que para Anna foi o paraíso, então bateram a porta e um médico entrou na sala, Santiago aproveitou a deixa e saiu da sala, ele precisava pensar e não seria possível fazer isso estando assim tão próximo a ela.

- Sr. Aguillar agora posso passar informações sobre o estado da sua esposa e do bebe.

Alejandro queria se aproximar do medico e enche-lo de perguntas, mas o medo o impedia ate mesmo de mover-se, suas irmãs se sentaram nos braços da poltrona que ele estava e seguraram as mãos dele, ele sentia que estava tremendo, sabia que estava sendo fraco mas aquele homem de aparência tranquila e olhar sério poderia acabar com a sua sanidade com poucas palavras.

- Por favor, doutor seja preciso e rápido, não gosto de rodeios e não quero meias palavras para me dizer o que esta acontecendo com a minha mulher e o bebe.

- Peço primeiramente que fique calmo Sr. Aguillar sei que é difícil estar nesta situação, mas precisamos estar calmos na medida do possível para podermos tomar as melhores decisões para a sua esposa e filha...

O coração de Al perdeu o compasso, "filha"?! O bebe que ele e Cas tinham gerado era uma menina, um sorriso escapou de seus lábios ao perceber que Alicia ficaria imensamente feliz ao saber que enfim tinha ganhado a irmãzinha que tanto desejava. O aperto firme mais delicado de Andy o trouxe de volta a sala de espera que eles se encontravam. O medico o olhava com um olhar surpreso e Alejandro se viu explicando.

- Nós não sabíamos o sexo do bebê e o doutor acabou de me contar que ganhamos mais uma menininha, e a minha filha pediu muito que esse bebê fosse uma menina, ela vai ficar muito feliz.... – Al parou de falar ao ver o olhar serio do medico, aquilo o fez perceber que algo não estava bem.

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- Sim é uma linda menina, mas nasceu prematura e tenho que lhe falar que boa parte dos bebês prematuros de vinte e oito semanas sobrevivem, mas existem atenuantes que tornam mais delicada a sobrevivência de sua filha, o impacto do carro e em seguida a queda fizeram cortar o oxigênio do bebê, quando ambas chegaram aqui corriam risco de morte iminente, minha equipe trabalhou o mais ágil possível para salvar as duas. Mas o procedimento padrão é sempre priorizar a mãe e foi o que fizemos, a sua esposa sofreu algumas concussões que inspiram cuidados rigorosos, tem algumas fraturas e um pulmão acabou sendo perfurado por uma costela. Estamos drenando o pulmão, já foi feita uma cirurgia de reparação na fratura da perna esquerda e exames neurológicos para conseguirmos avaliar a extensão dos danos causados pelas concussões. As duas foram encaminhadas para a UTI, o risco de morte é menor para a sua esposa do que para a sua filha, apesar de torcer para o melhor tenho que lhe dizer para se preparar para o pior. Faremos o possível para salva-la, mas até mesmo a medicina tem as suas limitações, se o sr tem fé, então ore! Vou deixa-los agora, as enfermeiras vão providenciar tudo que necessitarem, mas um pouco de descanso não lhes fara mal, pois sua esposa pode acordar hoje ou daqui a duas semanas.

- Ela esta em coma? – o coração de Al perdeu uma batida e ele sentiu o chão sumir de seus pés, ele estava caindo em direção ao nada, às palavras rodavam em sua cabeça, mas a sua consciência se recusava a registrar e compreender elas. Olhava na direção do medico sem ver nada. Ao fundo ouviu Anna questionar mais uma vez sobre a Cas estar em coma, e a resposta apesar de dolorosa o trouxe para a terra novamente.

- Sim, srta. tanto a mãe quanto a criança estão em coma, logo vão lhes avisar sobre as regras e os horários de visita da UTI, com licença. – o medico apertou a mão deles e foi embora.

Eles permaneceram em silencio, cada um evitando ser o primeiro a falar estava sendo difícil para eles digerir todos os acontecimentos daqueles dias, Al colocou as duas mãos na cabeça e abaixou-se, estava lutando contra as lagrimas e o desespero. O que seria dele se perde-se a Cas? Sua vida iria acabar no instante que a dela acaba-se, Deus não podia permitir isto, não podia permitir que ele perde-se duas pessoas que amava novamente. Perder seus irmãos foi doloroso, mas se algo acontece-se a elas ele tinha certeza de que não conseguiria seguir em frente.

Andy se aproximou e abraçou os ombros do irmão, ela sabia que ele estava tentando se controlar, mas também sabia que ninguém deveria ser forte vinte e quatro horas por dia, foi fazendo uma massagem relaxante naqueles ombros tensos e em poucos instantes o sentiu tremular de acordo com o pranto vinha. Olhando de lado viu que Anna se aproximava dela, ela tinha ficado calada depois que o Santiago havia saído da sala, na verdade foi impressionante ver sua irmã tomar a iniciativa e se aproximar dele e o abraçar. O pranto de Al tornava-se cada mais intenso, ali estava um homem que estava com medo de perder a mulher que amava.

***

As irmãs o abraçavam e consolavam enquanto choravam em silencio, Santiago abriu a porta e estava prestes a entrar quando viu a cena que se desenrolava na sala, e se sentindo um intruso fechou a porta com cuidado e saiu de lá, afinal aquela não era a sua família. Ele não sabia o que era ser parte de uma família fazia muito tempo. Este pensamento o levou a ligação que tinha feito para Zac, a poucos passos de sair do escritório colocou seus óculos aviador e se preparou para sair para o estacionamento, mas uma figura imponente e robusta o fez estacar.

- Olá irmão... – e ali estava ele como que chamado por pensamento, Zac olhava Santiago com um sorriso zombeteiro, aquele sorriso sempre o acompanhava, mas para um observador mais atento era fácil notar que o sorriso não se estendia aos olhos que mesmo escondidos por óculos escuros estavam semicerrados. – E então San em que tipo de confusão você se meteu desta vez heim... – ainda sorrindo Zac aguardou que Santiago fala-se.

- Não sou eu... É o Alejandro... – Ao falar isto Santiago sabia que tinha captado a atenção de Zac, ele conhecia o Al e ambos tinham desenvolvido um respeito mutuo durante o período que Santiago estava no exercito, mas como isto aconteceu apenas Zac e Al sabiam. – Venha precisamos conversar, mas não pode ser aqui, ao que parece às paredes tem ouvidos em todos os lugares.

Ambos caminharam pelo estacionamento em direção a cafeteria que ficava em frente ao hospital, Santiago estacou ao sentir um formigamento em sua mão direita e os pelos de sua nuca se eriçaram. Neste momento uma van de entregas passou por eles e parou na entrada, ainda parado Santiago viu um jovem saltar da van e com algum esforço tirar uma caixa de tamanho médio de dentro.

- O que esta esperando San?

A voz de Zack o trouxe de volta e ele se preparou para responder quando a brisa trouxe um odor pungente de carne humana queimada, aquele cheiro o atingiu em cheio e fez com que as imagens da execução de Lorelei surgissem frescas em sua memoria. Ele se virou e percebeu que o rapaz já não estava mais lá, seu instinto berrava que algo estava errado e sem pensar muito disparou na direção do hospital, os elevadores estavam todos em uso e ele se arremessou contra a porta que dava acesso as escadas, sem olhar para trás ele sabia que Zack o seguia de perto, a corrida desabalada seguiu ate o oitavo andar.

Saiu em direção ao quarto onde Al e as irmãs se encontravam, mas um grito o fez correr naquela direção sem importar que se encontrava dentro de um hospital, outro grito se seguiu e a voz de Al começou a reverberar pelo corredor do hospital mandando a Anna e Andy saírem da sala. Ambas se encontravam paradas olhando para a caixa deixada ali no centro, o horror estava estampado naqueles rostos bonitos. Meus olhos se encontraram com o de Alejandro e ele simplesmente falou:

- Tire elas daqui!

Andei na direção delas, segurei suas mãos e as tirei da sala, enfermeiras se amontoavam na entrada, fiz sinal para que cuidassem das irmãs e voltei para dentro fechando a porta. Zack e Al olhavam para o conteúdo da caixa que era exatamente o que imaginei, partes de um corpo parcialmente queimado e desmembrado se encontrava ali, a mão ainda ostentava alguns anéis que deveriam valer alguns milhares e indicavam exatamente a quem pertenceu as partes daquele corpo.

Peguei o telefone e acionei os meus agentes pedindo para restringirem o perímetro e encontrarem a van de entrega, que precisávamos interrogar qualquer pessoa que pudesse estar envolvida. As horas se arrastavam ate finalmente ser tirado o corpo de Lorelei, Andressa e Anna estavam enfim repousando graças a calmantes. Olhei para Zack e nenhuma palavra se fez necessária, éramos bons separados, mas letais quando unidos. Toda e qualquer diferença seria esquecida por hora, com ajuda dele e de seu esquadrão de SEALs iriamos pegar o filho da puta que estava fazendo aquilo com os Aguillar.

***

Al andava de um lado para o outro, a mente trabalhando e fervilhando em varias direções, o dia estava realmente estava sendo difícil, a vontade de arremessar ou socar algo ou alguém estava sendo difícil de controlar. No mesmo dia ele viu o amor de sua vida ser atingida por um carro e arremessada longe, depois tive que encarar as horas intermináveis sem noticias delas, então o maldito celular tocou e em uma tacada só ele descobriu que sua mãe havia atacado a Cas e a viu ser cruelmente executada.

Mesmo não nutrindo amor por ela, ainda assim não desejava que tivesse uma morte tão desumana, as cenas infelizmente ficariam gravadas em sua memoria, e ainda que conseguisse expulsar as imagens o acontecimento sempre estaria ligado ao nascimento de sua pequena. Ao pensar no pequeno ser que estava lutando pela própria vida seu coração se apertou, o sentimento de impotência o dilacerava, pensando que a próxima respiração de Casey ou do bebe poderiam ser as ultimas.

Sua fé baseava-se na confiança que ele tinha sobre o que era justo e correto, acreditava que Deus em sua sabedoria e amor não permitiria que dois seres tão amados sofressem e com este pensamento, ele se viu ajoelhando no quarto do hospital que ainda continha o cheiro da morte de sua mãe e orou, por sua esposa, filhas, irmãs, amigos e também pela sua mãe.

PROPOSTA DECISIVAWhere stories live. Discover now