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Pessoas machucadas, machucam pessoas.

Quando chego ao sítio desejado eu respiro fundo enquanto estaciono o meu carro no enorme parque de estacionamento e tento me mentalizar que o que vou ver pode não ser nada agradável e eu não estar preparada para isso, mesmo com a minha experiência profissional.

"Só tens que respirar fundo e ter a confiança dele." Falo sozinha enquanto olho para o céu que contém algumas nuvens.

Não espero mais tempo, pego nos papéis e na minha mala e saio do carro. Bato a porta do mesmo e então tranco-o e caminho para a enorme "Clínica Doutor Zadd" como diz no enorme letreiro.

Os meus sapatos fazem um barulho estrondoso quando eu entro na clínica que tem a sua decoração apenas de uma cor: branco.

"Em que a posso ajudar?" Um rapaz, aparentemente de mais ou menos 30 anos, fala enquanto dá um leve sorriso.

Caminho até a secretária do mesmo e coloco a minha mala em cima da mesma mostrando-lhe os papéis.

"Sou Kylie, psicóloga e venho com o propósito de falar com o meu paciente." Olho para o papel e logo depois para o rapaz á minha frente. "Jack Gilinsky, é o nome dele."

Eu não sei o que me espera e estou com uma enorme vontade de entrar pela porta de vidro - que se encontra á minha direita - e poder desvendar este grande mistério.

"Pode-me dar só um segundo?" A voz do rapaz faz-me sair dos meus pensamentos e apenas balanço a cabeça.

Pego na minha mala e nos papéis que me pertencem e caminho até a uma poltrona de cor branca - como todas as outras - e sento-me á espera que o rapaz me dê ordem para entrar.
As minhas mãos estão a soar e o meu corpo a tremer, o que me faz ter uma sensação horrível de ansiedade. Estou muito curiosa para conhecer o rapaz que está dentro de um quarto - provavelmente - desconfortável e a pensar em mil e uma coisas.

"Senhora." O rapaz chama a minha atenção. "Jack está no quarto 65 do segundo piso, tem aqui as chaves, quando sair por favor feche o mesmo." Fala de uma forma rude e eu apenas pego na chave e caminho para o elevador.

Espero o elevador chegar e quando este chega apenas entro sem olhar para trás e aperto o botão com o número dois e então as portas fecham-se e eu respiro fundo pela milésima vez hoje.

O barulho irritante do elevador soa nos meus ouvidos e então a porta abre-se e a ansiedade aumenta a cada passo que eu dou.
Olho para todas as portas brancas e vejo o quão fortes elas são - talvez para que ninguém tente fujir -.

Inclino a cabeça para a minha direita e lá está o número que eu procurava. O corredor está totalmente vazio e silencioso o que faz deste sítio horripilante, parece que consigo ouvir o sofrimento das pessoas só ao olhar para as portas dos seus quartos.
Os meus dedos tremem quando eu insiro a chave na fechadura do quarto onde o meu novo paciente se encontra.
Depois da chave estar inserida eu apenas rodo a mesma duas vezes e a porta abre-se bem devagar.

"Hey, não te vou fazer mal, só te quero ajudar." Eu falo ainda sem conseguir ver ninguém e começo a dar pequenos passos.

Achei por bem avisar que estava a entrar no quarto, ele pode não gostar e achar uma invasão de privacidade e - claramente - eu só quero que ele se sinta confortável.
Ele não diz uma única palavra e então entro no quarto por completo e fecho a porta do mesmo, coloco a chave na minha mala e então observo o quarto.
Ele é todo acolchoado e apenas de uma cor, branco.
Normalmente estes quartos são assim para que eles não se possam magoar.
Tem apenas uma cama encostada a uma das paredes e eu vejo que Jack não está sobre ela.

"Eu não preciso de ajuda." Uma voz rouca soa nos meus ouvidos e então eu olho para o fundo do quarto e vejo-o ali.

Os seus joelhos estão encostados ao seu peito e a sua cabeça está sobre eles enquanto as suas mãos estão, cada uma, do lado do seu corpo.

"Estou aqui para te ajudar a sair daqui." Explico enquanto caminho até á sua cama. "Sei que não podes sair daqui nem para passear mas isso vai mudar e se quiseres amanhã vamos comer um gelado." Tento simpatizar com ele.

Ele está vestido com umas calças cinzentas e uma camisola da mesma cor. Jack não diz uma única palavra e eu penso em me aproximar dele mas sei que ele pode não gostar.
Observo mais uma vez o quarto e vejo que nem uma janela isto tem e imagino o quanto sufocante isto pode ser.

"Eles não me deixam sair." Ele fala, a sua voz soa arrogante.

A sua voz é fria, não tem qualquer tipo de sentimento nela. Nem tristeza nem alegria. Parece que tudo nele morreu.

"Eu estando contigo eles deixam, eu sou a tua psicóloga a partir de agora." Explico e então a sua cabeça move-se encostando-se á parede acolchoada atrás dele. "Não te vou pedir para me contares nada hoje, amanhã no nosso passeio contas-me o que achares que preciso saber para te ajudar ok?"

O quarto está um pouco escuro e eu entendo o porquê quando olho para o teto e vejo que apenas algumas lâmpadas estão acesas.

"Daqui a pouco eles acendem as luzes." Parece que ele me lê os pensamentos. Assinto. "Como te chamas?"

"Kylie." Dou um sorriso ao perceber que estamos a simpatizar e ele percebeu que só o quero ajudar.

As restantes luzes acendem-se e logo eu vejo ele cobrir o seu rosto. Talvez ele se sinta envergonhado, feio, culpado entre outras coisas que o façam ter esse comportamento.

"Posso ir até aí?" Pergunto ainda sentada na cama dele.

Ele não fala qualquer tipo de palavra apenas balança positivamente a cabeça fazendo com que eu me levante e caminhe até ele em pequenos passos. Próxima dele eu consigo ver o quão magro ele está e o quão moreno ele é.
Sento-me á sua frente e tento tocar no seu braço mas ele levanta-se de um modo bruto caminhando até á cama.

Ok, isto vai ser complicado.

Não digo absolutamente nada , levanto-me do chão e olho para ele. Encolhido na cama a olhar para o teto e aposto que está a pensar em mil e uma maneiras de sair daqui. Deve ser muito desconfortável estar aqui, passar vinte e quatro sobre vinte e quatro horas sozinho e sem nada para fazer.

"Vou embora, amanhã volto para irmos passear." Aviso e saio do quarto sem olhar para ele.

Tranco o quarto e percebo que um rapaz de cabelos longos e claros está no corredor a olhar para mim com um sorriso no rosto.
Ok, talvez ele me conheça.

"Olá, eu sou amigo do Jack, sei quem você é." O rapaz fala com uma voz doce.

Ok, afinal o Jack tem visitas o que é realmente bom para ele. Não acredito que estar aqui sozinho seja uma coisa fácil.

"Ah, olá." Dou um leve sorriso e então olho para o fundo do corredor e vejo o rapaz da receção olhar para nós com cara de poucos amigos. "Eu vou andando, amanhã venho vê-lo de novo." Anuncio.

O rapaz pega nas chaves quando eu estendo as mesmas e balança a cabeça positivamente concordando com o que eu digo e uma ideia passa pela minha cabeça.

"Amanhã por volta das 17 horas vá á praça da cidade, leve todos os amigos próximos dele, Jack terá uma surpresa." Dou um leve sorriso e faço sinal para que ele se mantenha calado e não diga nada ao moreno trancado no quarto.

Imagino que Jack sinta falta de estar com os seus amigos como fazia antes de vir parar aqui, sei que muito provavelmente ele tem saudades de todos eles.
Eu vou fazer de tudo para que ele tenha um dia normal, que o faça sorrir e principalmente que o faça feliz.

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Promise Me | J.G | FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora