Capítulo dezessete - O que é certo?

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               Shane

   Vou para o apartamento da Rachel depois da faculdade. Daise abre a porta para mim com um sorriso e me deixa entrar. Travis está no sofá brincando com bonecos e parece muito distraído.
   Passo a mão na cabeça dele e ele olha para mim com um sorriso. Ele vem me abraçar, mas não sei o motivo desse abraço. Talvez tenha a ver com o que ele me disse ontem. Posso estar errado.
   — Oi, Travis!
   — Shane! — Ele sorri mais ainda.
   — Como você está?
   — Bem, mas eu não vejo a minha mãe.
   Olho para Daise. — Posso falar com você?
   — Vamos na cozinha.
   Sigo ela até a cozinha e sento num dos bancos. — Você não tem noticias da Rachel?
   — Não vejo ela desde ontem. Depois que ela desmaiou, ela estava desesperada e disse que iria atrás do Jacob.
   Do desmaio eu não sabia?
   — Ela está com o Jacob. O que ele vai fazer com ela?
   — Não sei. Tenho medo de não voltar a vê-la.
   — Mas e o Travis?
   — Não sei. Não faço ideia de onde ela possa estar, como, mas eu sei que ela não vai conseguir escapar. Jacob não vai deixar isso acontecer.
   Rio sem humor. — Porquê eu sinto que a culpa é minha? Eu vi ele levando Rachel e não fiz nada. Porque eu sou um idiota.
   — A culpa não é sua. Jacob não ia permitir você chegar perto dela.
   Suspiro. — Daise, por favor, seja sincera comigo. A Rachel gosta de mim?
   — Mas é claro que ela gosta! Ela só tinha medo de se envolver com alguém por causa do Travis ou dos segredos dela. Rachel é uma pessoa difícil de entender. É por isso que você desistiu dela bem rápido.
   — Ela vive o tempo todo dizendo que não tivemos nada.
   — Mas ela pensa em você. Fala o seu nome o tempo todo.
   — Como vou saber se isso é verdade?
   — Você decide se acredita em mim ou não. O importante é que eu já fiz a minha parte.
   É difícil. Pode ser verdade, mas Daise pode estar enganada. Rachel às vezes parece indiferente quando está ao meu lado, na verdade, a maioria das vezes. Acho até que não se preocupa comigo.
   — Não tem outro jeito de trazer Rachel para casa? — Mudo de assunto.
   — Temo que não. — Ela suspira. — Eu gostava de poder fazer qualquer coisa.
   Eu também.
   Travis vem correndo com o seu boneco. — Tia Daise, ele ficou sem a cabecha.
   — Ah, Travis! Você estraga sempre seus brinquedos.
   — Mas a culpa não é minha. — Ele olha para baixo.
   — Deixa que eu ajudo. — Recebo seus bonecos. Ele não pode ficar triste, Rachel não está aqui e isso só vai piorar as coisas.
   — Obigado. — Ele sorri. — Tia Daise, eu pocho ver um filme no cinema?
   — Claro que não, Travis!
   — Eu posso levar ele. — Me ofereço.
   — Está bem, mas cuidado. E cheguem cedo em casa, por favor!
   — Não se preocupe! — Olho para Travis. — Vamos no cinema, Travis! — Dou cinco para ele.
   — Eba! — Ele dá mais cinco e pula.

            Rachel

   Vou para a grande cozinha do Jacob comer. Já é tarde e ainda não comi nada. Estou com muita fome. Preciso de forças para poder escapar daqui. Só não sei como. Mas de uma coisa eu sei: Eu vou conseguir sair daqui.
   A empregada serve um prato de frango assado e salada. Começo a comer, mas completamente desconfortável porque os seguranças aparecem e ficam que nem estátuas na minha frente. Mostro o dedo do meio para eles, mas eles continuam imperturbáveis.
   — Eu posso comer em paz, por favor? — Eles se retiram. — Obrigada!
   Como tudo e vou para o quintal depois. Também está cheio de seguranças. Gostaria de saber como o Travis conseguiu escapar a todos eles.
   Onde será que ele está nesse momento? Tenho medo que tenha passado fome desde ontem, ele não vai aguentar. Preciso encontrar ele.
   Começo a chorar ao lembrar daquele rosto lindo e daquela voz adorável. Quem ia querer machucar um ser tão especial e lindo? Porquê Jacob fez isso?
   — Travis! — Digo como se ele podesse me ouvir. — Onde você está, meu filho? — Limpo as lágrimas. — Onde você está?
   Volto para dentro andando lentamente e me fecho no meu quarto. Pego na minha bolsa e tiro uma foto dele em bebê e outra foto atual, me fazendo chorar mais ainda.
   — Marco, por favor, ajuda o seu filho. — Coloco a foto no meu peito e deito na cama.

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   — Filha! — Jacob me acorda. — Como você está?
   Olho para ele. — O que você acha? Eu só vou ficar bem quando o meu filho estiver nos meus braços.
   — Já disse que os meus homens continuam procurando, filha.
   — Eu quero o meu filho! — Minha voz falha e as lágrimas surgem de novo.
   — Não gosto de ver você assim.
   — Por favor, me deixa sair. Eu preciso procurar ele. Eu vou voltar.
   — Eu não nasci ontem, Rachel Evanovisk!
   — Pára! Esse não é o meu nome! Meu nome é Rachel Colson. Você não é o meu pai.
   — Eu sou o seu pai, aquele homem não. Nunca mais diga uma coisa dessas!
   — Mas é a verdade. Você não é meu pai.
   — Você só está com raiva de mim. Vou deixar você descansar, filha.
   — Não! Eu não posso ficar assim sem fazer nada para encontrar o meu filho. Por favor! Entenda a minha situação. Eu sei que você não é tão ruim assim.
   — Eu já disse que estou tratando disso, Rachel.
   — Não faça isso! — Seguro o seu braço. — Por favor!
   — Você sabe que os lobos negros estão atrás de você. Não posso correr esse risco.
   — E o Travis pode ficar a mercê deles?
   — Eles nunca souberam que Marco teve um filho.
   — Você é um monstro! — Dou as costas para ele e choro em silêncio enquanto olho para a foto dele.
   Oiço os passos de Jacob se afastarem e choro alto dessa vez. Não consigo parar de chorar. Tenho muito medo. As pessoas são muito cruéis. Não sei o que vou fazer.
   Meus olhos vão se fechando lentamente e quando me apercebo, já estou dormindo.

           Shane

   Levo Travis de volta para casa, mas ele já está dormindo. Toco a campainha com um pouco de dificuldade por causa do Travis nos meus braços. Daise abre a porta e me olha com reprovação.
   Eu confesso que não fomos apenas ver um filme. Depois fomos na montanha-russa, fomos comer sorvete, depois fomos na piscina de bolas. Foi muito divertido. Eu me senti muito bem.
   Tive que fazer tudo isso para que não pensasse muito na Rachel. Sei que é inevitável ele pensar na mãe dele, mas tive que tentar.
   — Essas são horas de chegar? — Ela pergunta.
   — Perdi a noção do tempo. Travis queria fazer muita coisa. — Rio.
    — Obrigada por cuidar dele. Rachel vai ficar muito feliz quando souber.
   — Onde eu deito ele? — Pergunto.
   — No quarto da Rachel. É a primeira porta.
   Vou até lá e deito Travis na cama, depois cubro seu corpo. Ponho o ursinho nos seus braços e beijo a sua testa. Mas sinto que não deveria fazer isso. Não quero que ele pense que eu serei pai dele. Não quero que fique desiludido com a realidade.
   Olho em volta e vejo a foto da Rachel com Travis nos braços. Ele parece ter dois anos nessa foto. E a Rachel está linda.
   — Mamãe! — Travis sussurra, mas está dormindo.
   Sinto uma coisa estranha ao olhar para ele. Um sentimento dentro do peito que eu não sei explicar. Acho que estou criando afeto por ele. E ele quer que eu seja pai dele. Só que eu não acho que estou pronto para isso. Principalmente, por uma mulher que acho que não gosta de mim.
   Saio do quarto e vejo Daise lavando a loiça. Ela olha para mim e sorri.
   — Você é ótimo cuidando dele. É por isso que ele gosta de você.
   — Talvez. Eu estou indo embora. Qualquer notícia da Rachel ou se o Travis precisar de alguma coisa, liga para mim, por favor!
   — Não se preocupe! Mais uma vez, obrigada.
   — De nada! — Abro a porta e saio.
   Gostaria de saber o que está acontecendo com Rachel nesse momento. O que Jacob fez com ela? O que ele quer? Tenho a certeza que Rachel não me contou a história toda.
   Eu estou com saudades. Desde o dia que transamos que não paro de pensar nela. E eu deveria parar, mas não consigo. Prova disso é que agora estou cuidando do filho dela.
   Já no táxi, recebo a ligação da minha mãe. Ultimamente não tenho conversado muito com os meus pais. Preciso mudar isso.
   — Mãe!
   — Tentei ligar para você o dia todo! — Ela diz. — O que você tem feito?
   Suspiro. — Não quis dizer isso agora, mas eu conheci alguém.
   — Isso é ótimo! Eu não disse que ia esquecer a Blaire?
   — Mas ela é muito complicada. E tem um filho.
   — Tem filho? Que idade tem ela?
   — Vinte e um. — Aperto os lábios torcendo para que ela não diga que não devo fazer isso.
   — Ela é uma boa pessoa?
   — Ela é. É muito especial, mas não estamos namorando. É complicado.
   — Você não está pronto para ser pai, Shane. Ainda por cima, pai do filho de outro homem.
   — Eu sei.
   — Você é jovem. Tenho a certeza que vai encontrar alguém. Devem existir muitas garotas ali.
   — Existem.
   — Se cuida, meu filho. Não tome decisões erradas. E seu pai mandou um abraço.
   — Não se preocupe! Mande para ele também. Adeus, mãe! — Desligo.
   Talvez a minha mãe tenho razão. Eu não estou pronto para um passo gigante como esse. Devia reorganizar a minha vida e ficar com alguém que me faça bem. Eu pensava que conhecia Rachel, que sabia com o que estava lidando, mas me enganei. Realmente, só estou descobrindo agora. E cada vez mais, cada descoberta me deixa mais assustado.

        Rachel

   Mais uma manhã dos infernos, que fico na cama fraca, sem apetite e enjoada. Mas não quero saber. Eu só quero encontrar o Travis, mas Jacob não deixa. Chorei a noite toda pedindo para que ele esteja bem, dormi com a foto dele e sonhei com ele e com Shane. Sonhei que éramos uma família. Uma linda família.
   Tenho a certeza que Shane cuidaria muito bem do Travis. Mas é uma pena que Shane tem namorada. Provavelmente já deve ter me esquecido.
   Olho para a porta quando abre e Jacob entra com uma médica. Ele não percebe que estou assim por causa do Travis? Bom, parte disso que sinto sim. A outra parte é outra história.
   — Bom dia, Rachel! Essa é a Doutora Maggie. Ela vai te ajudar com esses seus sintomas.
   — Bom dia, Rachel! — Ela sorri.
   — Eu não tenho nada. — Respondo. — Você vai ver que quando eu encontrar o meu filho vou estar muito melhor.
   — Ela vai examinar você. Estou muito preocupado.
   — De verdade? Porquê me mantém presa então? É assim que você me ama? — Olho para ele. — Você matou o Marco e sequestrou o meu filho. — Não consigo chorar porque já não tenho lágrimas.
   — Doutora, cuide dela. — Ele diz e sai.
   A Doutora Maggie olha para mim e sorri. Mesmo assim não me sinto mais confortável. Eu não quero ser examinada por ninguém.
   — Não se atreva a tocar em mim.
   — Eu preciso fazer o meu trabalho, Rachel. Você não está bem. É fácil notar isso.
   — Como você se sentiria depois de saber que o seu filho foi sequestrado e depois fugiu e está desaparecido? Você não ficaria doente? — Choro.
   — Mesmo assim. Preciso tratá-la. São ordens do senhor Evanovisk.
   — Eu não quero saber. Saia do meu quarto! — Aponto para a porta. — Eu quero ficar sozinha.
   — Eu sei que você está com medo. Posso ajudar.
   — O que foi que eu disse? — Sento na cama. — Sai daqui! Eu não quero nada do Jacob. Eu odeio tudo que tem a ver com ele.
   — Está bem. Vou dar espaço para você. Vou conversar com o senhor Evanovisk. — Ela sai do quarto.
   Apoio a mão na minha barriga e olho para o teto. Espero que Travis esteja bem e que eu possa sair daqui. Não aguento mais um segundo.
   Choro e fecho os olhos para dormir. Sei que acabei de acordar, mas é o que eu faço. É o que tenho feito nesses dias. Dormir e chorar demais. Mas não faço por vontade.
   Tenho que arranjar um jeito de sair daqui. Preciso ir atrás do Travis. Ele ainda é muito pequeno. Ele é o meu bebê. Não posso deixar nada de errado acontecer.

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