Choque Brusco

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 Os satélites do Instituto de Pesquisas Meteorológicas e Espaciais enlouqueceram. A todo momento enviavam relatórios alertando sobre a aproximação de um objeto em alta velocidade porém mais baixa que um asteroide. Não se desviava do curso, não acelerava e estava a uma distância de duzentos e quarenta mil quilômetros do solo, ou seja, estava bem próximo e se continuasse, a previsão de impacto era de poucos instantes. Os analistas esperavam otimistas que se tratasse de um simples corpo celeste, ou lixo espacial que se desintegraria ao entrar na atmosfera. Claro, os pessimistas estavam acordados também, portanto calculavam os riscos de ser um míssil, apesar de nenhum ser capaz daquilo pelo que sabiam, ou até mesmo tentavam interceptar com sinais de rádio, alta e baixa frequência, para certificar que fosse outro satélite, desconhecido até então. Consideraram a hipótese de invasão, mas nesse caso seria muito improvável, pois o objeto era pequeno demais para uma nave, um pouco maior que o maior asteroide já registrado, quem sabe uma sonda, mas não, porque parecia possuir cauda, significando que carregava gelo e poeira juntos, o que aumentava o mistério. O tempo se arrastava e mesmo que conseguissem imagens do objeto, os satélites o fotografariam com atraso deixando pouca escolha.
A próxima medida lógica seria entrar em contato com as outras nações para determinar qual teoria estava correta. Ninguém queria mais uma guerra mundial, todos esperavam que ninguém assumisse o lançamento de nenhum míssil, que não fosse nenhum satélite defeituoso, e que se juntassem para acabar com o problema. Foi o que aconteceu. Rapidamente, defesas antiaéreas do mundo todo estavam prontas para agir. O alívio geral de que não se tratava de nenhuma estupidez de algum poderoso a fim de provocar o fim dos tempos, logo foi substituído pela tensão de determinar a natureza do objeto que, em sua trajetória à essa altura, cinquenta mil quilômetros e setecentos metros, já havia destruído três satélites espiões de tecnologia de ponta.


Quarenta mil quilômetros e setecentos metros. A velocidade e a trajetória constantes preocupavam pois parecia estar endereçado, porém era preciso esperar um pouco mais antes de disparar as defesas. Enquanto isso, diversas imagens do objeto foram analisadas. Mesmo o atraso e a baixa definição não eram problema para os melhores peritos de uma força-tarefa organizada muito rapidamente por todos os países envolvidos. Concordavam que era um asteroide muito denso, mas que curiosamente também possuía gelo que envolvia e carregava outra estrutura feita com o que aparentava ser de metal, ferro para ser mais preciso, possivelmente um asteroide duplo, muito raro. Por telefone, telegrafia, trocavam informações. Os enormes computadores calculavam com muito custo os dados e mais dados que eram vomitados por enormes e lentas máquinas de imprimir. O impacto, caso ocorresse, seria perturbador, mas não o suficiente para um alarme geral. As defesas antiaéreas deveriam eliminar parte do objeto e o que restasse e caísse, não causaria grande estrago. Logo que atingiu trinta mil quilômetros de altitude, diversos observatórios estavam direcionados para as coordenadas enviadas por departamentos de defesa do mundo todo e os mísseis para interceptação do alvo foram lançados.

O primeiro míssil, atingiu o alvo e o fez desviar severamente sua trajetória, mas não o destruiu, aliás o processo se repetiu com os outros. O objeto atingiria o solo inevitavelmente, mas como previam os computadores, já não era de grande proporção então só restava esperar.

O objeto certamente cairia em uma pequena fazenda de uma localidade um pouco afastada de uma base aérea, o que facilitava o destacamento de uma frota reduzida de alguns carros para recolhimento de fragmentos, porém ainda restavam surpresas. Enquanto soldados esperavam próximos ao local de impacto, e apontavam binóculos ao céu, um dos comandantes da missão recebeu um telefonema de um dos peritos, curiosamente um estrangeiro e de uma nação considerada hostil politicamente, mas não nesse caso já que se tratava de uma ameaça do espaço, explicando que analisara as últimas imagens enviadas e que seria preciso uma maior mobilização de forças táticas, pois o objeto não era um meteoro. Era uma máquina, então o menor dos menores componentes deveria ser localizado, catalogado e estudado. O problema era comandar uma frota maior das forças armadas sem chamar atenção do público, o que inevitavelmente ocorreu. Alguns repórteres chegavam, como e tão rápido ninguém sabia ou não queria saber. Os soldados evitavam a entrada no perímetro da área calculada para o impacto, quando um brilho ofuscante ficava mais próximo. No horizonte, a bola de fogo descia e logo o estrondo do choque brusco foi ouvido.
Com a insistência da imprensa, foi divulgado o relatório oficial do ocorrido que dizia ter sido apenas a queda de um balão meteorológico.

O caso foi cercado de muitas especulações, envolto em muitos protocolos de segurança, inspiração para muitas histórias e teorias de conspiração, dentre elas a que mais se destacava era que o objeto seria uma nave alienígena que havia entrado em pane e se chocado com o solo, que os militares teriam capturado dois corpos de tripulantes, um morto e outro vivo, que realizaram uma autópsia, filmada inclusive, no primeiro e o segundo foi mantido sob custódia, etc. As partes do objeto foram recuperadas de fato e seu conteúdo era a maior descoberta de todos os tempos. Era uma sonda vinda da mesma galáxia, mas que havia viajado muito por muitos e muitos anos. Depois de um árduo trabalho em identificar as peças e catalogá-las, as mais valiosas eram um pedaço da fuselagem, um disco de ouro e dois fetos em conserva, envolvidos em cápsulas de uma liga diferente de aço. Na fuselagem encontrava-se uma inscrição que foi traduzida como "Viajante um", ou, "A Primeira Viajante": Voyager I. O disco de ouro continha faixas magnéticas que logo puderam ser reproduzidas.

Constavam a localização de um planeta em uma constelação que ficava há uns dois anos-luz de distância, constelação essa já conhecida pelos estudiosos, mas que jamais pensariam que pudesse haver um planeta habitável, a constituição genética de seus habitantes, seus costumes, sua arte, pinturas e música, e principalmente uma mensagem em vários idiomas:


"Saudações! Somos do Planeta Terra, somos de paz!"

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⏰ Last updated: Mar 11, 2019 ⏰

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