Caminho de rosas

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Congelei quando percebi do que se tratava a carta e a fotografia que tinha em mãos. Chorei antes mesmo de começar a ler. De início havia seu nome, Denise e nas demais linhas havia a explicação do seu sumiço. Denise relatava nas mais dolorosas e profundas palavras o amor que sentia por mim e sua humilde vida longe do meu pai. Explicou que não teria condições de me sustentar sem o dinheiro dele e que quando descobriu que estava sendo traída fugiu para bem longe, onde não poderia jamais revelar, pois sabia que Richard, iria atrás dela a qualquer custo. Quase nas últimas linhas do segundo papel velho da carta Denise relatou que nunca sentiria a paz necessária em seu coração por abandonar um filho, mas que pelo menos não viveria infeliz sendo seguida por um homem machista e ambicioso como Richard. Relatou em letras trêmulas, o medo que tinha dele e que passaria a vida inteira fugindo se fosse possível.

Terminei de ler em prantos, meu coração parecia estar esmagado dentro de mim, todo meu passado, as memórias de todos os momentos da minha vida veio á tona, fazendo minha cabeça revirar com tantas lembranças. Como em um filme, as imagens iam passando rapidamente, tanto os momentos bons de quando Richard fazia o papel dele de pai e eu era uma criança feliz, como as lembranças ruins dos momentos em que chorei sentindo falta dela, sem saber como ela era ou se gostava nem que saiba um pouco de mim. Chorei mais ainda por pensar que toda minha vida teria sido diferente com uma mãe por perto. Perdoei Denise em pensamento naquele instante, entendi a sua decisão, sabia que o temperamento do meu pai não era algo simples de lhe dar e que uma traição dias depois de colocar um bebê no mundo não foi nada fácil para enfrentar. Coloquei-me em seu lugar e senti uma pontada forte no peito ao tentar imaginar como foi para ela decidir ir embora e deixar um filho recém-nascido para trás. Elen abraçou meu corpo que estava sentado na cama e sem dizer nada distribuiu selinhos carinhosos por todo meu pescoço.

Perdoei Maria por ter escondido a carta de mim. Compreendi o lado dela e perguntei se sabia onde Denise morava todos esses anos. Ela me respondeu que não sabia, nunca soube. Brincou dizendo que meu sorriso era idêntico ao da minha mãe e que a forma de agir quando estava triste era parecida também. Por um segundo tentei imagina-la na minha cabeça com as descrições que a Maria fez, mas acredito que nunca teria a certeza se a minha imaginação estaria certa de fato.

Agora com as coisas dando certo novamente, tudo se esclarecendo por fim... eu estava me sentindo grato. Jamais pude imaginar que minha família era uma farsa e que convivi com o assassino do meu pai tão de perto tantos anos. Só conseguia imaginar a gratidão que meu pai estaria sentindo lá do céu.

Nunca imaginei que Maria sabia como minha mãe era e que a conhecia. Maria sempre me disse que meu pai a contratou depois que minha mãe tinha ido embora.

Minha noiva como sempre do meu lado em todos os momentos. Eu estava finalmente vivendo o momento em que mais esperei em toda minha vida.

(Finalmente o grande dia)

Elen e eu não dormimos juntos na noite passada. Apesar de toda surpresa emocionante, horas mais tarde ela teve que ir para o hotel onde teria seu dia de noiva e depois se arrumaria com a Sara para a cerimônia.

Quase tive um treco com esse casamento, tudo teve que seguir a risca a vontade das duas. Como desejado á decoração na cor cobre e branco, Elen entrou em acordo com Sara em relação onde seria, até decidir fazer a cerimônia em plena natureza, no meio das arvores e todas aquelas coisas que as mulheres gostam. Manuel e eu mal opinamos em alguma coisa. As duas estavam tão empolgadas, que de inicio parecia que uma se casaria com a outra. Para não dizer que eu e Manuel não escolhemos nada, elas deixaram as bebidas por nossa conta. Já é alguma coisa!

Acredito que a decoração e os convidados, todos vestidos de branco, estavam perfeitos. Manuel até que estava mais tranquilo que eu, recebeu a todos com o sorriso no rosto e sempre sendo muito prestativo. Já eu mal conseguia parar de beber água e estalar os dedos. Minhas primas Aline e Alice vieram de Los Angeles só para ver ao vivo e a cores Elen entrando com o vestido que elas ajudaram a escolher. Foram ás três juntas para Alemanha escolher o tal vestido que custou uma fortuna. O senhor Alfredo, pai da Elen havia chegado acompanhado da enfermeira que cuidava dele. Pelo pouco que conversei com ela, ele tinha acordado mais disposto, mas não se lembrava que tinha uma filha, isso era preocupante, ainda mais em um dia como o de hoje em que as coisas não poderiam sair do controle. Helena e Clarice estavam deslumbrantes, tirando fotos em todos os arranjos de rosas brancas que encontravam pelo caminho.

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