Arte no tecido

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Quando eu era criança, tinha certeza de que me casaria aos vinte.

 **Era quase uma fantasia: um casamento perfeito, uma casa bonita e uma vida pacata. **

   Mas cá estou, quase aos vinte e seis, casada, sim..., mas com o trabalho. E, para ser honesta, às vezes isso é uma droga. Meu corpo implora por algo mais, por um alívio, mas minha cabeça sempre vence. Foco e concentração. É a única forma de evitar conflitos emocionais desnecessários.


Muitos dizem que, se for só sexo, tudo flui. Mas sabemos a verdade: no momento em que você se abre para qualquer tipo de relação, por mais casual que seja, *as coisas desandam*. Então, sem sexo, sem problemas.    

Enquanto limpo minhas armas, esses pensamentos passam por mim como um filme. E, como sempre, eles acabam voltando para Alya.


Minha irmã mais nova.


Alya é impulsiva, irresponsável... e ainda assim, minha irmã. Apesar de todas as coisas que ela faz, eu a amo. 

**E talvez esse seja o problema. ** Depois que nossos pais morreram, tudo o que consegui pensar foi em protegê-la. Mantê-la longe de qualquer coisa que pudesse machucá-la — especialmente o que me machucou. 

 Mas Alya nunca entendeu.


*"Você não vê, Ales? Você está me sufocando!"*


*"Eu quero viver! Quero parar de me preocupar se minha irmã vai dar um tiro em cada namorado que eu tiver!"*


Essa foi nossa última grande discussão. Foi aí que decidi ir para a Itália. Ela ficou com nossa tia, na Geórgia, onde sei que está segura. Ou, pelo menos, é isso que repito para mim mesma todas as vezes que penso nela.          

 Enquanto o pano  desliza pelo metal frio da arma, a preocupação com Alya ainda paira na minha mente. Mas sou tirada de meus pensamentos pela voz de Gina Werd:


— Senhorita Ricce, o senhor Greyson pediu que eu verificasse se precisava de ajuda. Como não recebi nenhuma resposta sua, achei melhor perguntar pessoalmente.


Droga. Eu tinha esquecido completamente.


— Desculpe, Gina. Acabei me esquecendo.


Ela sorriu, e foi inesperado. As assistentes de Greyson geralmente me detestam sem nem me conhecer, então esse sorriso foi um alívio. Pelo menos parece que ela está disposta a ser amigável. 

 — Bom, vamos direto ao assunto, senhorita Ricce! — Gina disse, com um entusiasmo quase exagerado. 

— Você é muito bonita, então qualquer coisa vai ficar incrível em você!

"Ótimo", pensei, "lá vem ela." 

 — Qual sua cor favorita? — perguntou ela, como se fosse uma pergunta de vida ou morte. Tentei não parecer assustada com o fluxo incessante de palavras e respondi:

— Vermelho, eu acho. Seus olhos brilharam, e ela soltou um gritinho animado. 

 — Eu tenho o vestido perfeito!        

Ótimo. Perfeito. Só pedi em silêncio que o vestido não fosse *chamativo demais*. Homens ricos adoram alvos fáceis, e minha paciência com flertes indesejados é praticamente inexistente. Antes das oito, eu já estava pronta. Vestida com o tal vestido vermelho. E, confesso, ainda me perguntando se foi uma boa ideia. 

         Vermelho sempre me pareceu... perigoso. Provocante demais.

           Mas Gina sabia o que estava fazendo. O vestido era deslumbrante, um pedaço de cetim esvoaçante que caía perfeitamente. Eu respirei aliviada por meus hábitos regrados: alimentação saudável e exercícios sempre foram mais do que uma vaidade para mim — eram uma barreira contra o medo de morrer como meus pais.


Agora, só me resta respirar fundo e lidar com o que vier. *"Você resolve, Alessa!"*


Reforcei isso mentalmente enquanto me olhava no espelho. Autoconfiança é fundamental. No final, é só um evento chato, certo? Nada mais. Apenas mais uma noite.


*"Tente não levar tudo tão a sério, Alessa."* Depois de algumas respirações profundas, finalmente me senti pronta. Hora de enfrentar o dragão. Ou, quem sabe, salvar a princesa.

As marcas de Ryan - Livro UmOnde histórias criam vida. Descubra agora