Acordar no sofá com dor nas costa, a muito tempo isso não acontecia.
Olhei para o relógio na parede da sala e ao ver que estava atrasada me desesperei. Peguei a mochila e fui em direção a porta, mas percebi que estava sem o celular então voltei para busca-lo.
Peguei o celular e vi varia ligações e mensagens perdidas. Isso só pode significar uma coisa... Olhei para o calendário, e havia um "X" marcando o dia.
Senti uma pontada em meu coração e uma lagrima escorrendo. Larguei a mochila no chão e desliguei o celular.
Subi as escadas tirando a blusa e caminhando para o banheiro. Terminei de me despir e entrei debaixo do chuveiro. Fiquei lá debaixo por um longo tempo achando que minha tristeza iria sair com o banho. Mas não foi isso que aconteceu.
Entrei em meu quarto e comecei a me vestir. Abri o porta-joias e peguei um colar que eu raramente usava, mas que amava. Ele era da minha mãe, ela havia me dado em um dos meus aniversários quando eu era criança, era um pingente com a pedra jade.
Peguei as chaves de casa e sai.
Caminhei sem prestar atenção em nada ao meu redor, minha mente estava vazia, não conseguia pensar em nada. Eu acordava desse "transe" quando alguém buzinava ou quando alguém me puxava para a calçada por eu quase ser atropelada. Mas seguia distraída sem dar muita importância.
Cheguei ao cemitério.
Caminhei sem pressa até o tumulo que eu iria visitar.
Me sentei sob ele e comecei a brincar com o colar da minha mãe, segurando o choro o máximo que podia.
Senti alguém se sentar atrás de mim e pondo os braços ao meu redor. Aquele perfume adocicado de canela.
–Sabia que te encontraria aqui...- Disse Roberta me abraçando forte fazendo todo o meu esforço para não chorar ir por água a baixo, literalmente.
Lagrimas escorriam em meu rosto enquanto Roberta se preocupava em me aconchegar em seus braços.
–Eu realmente não sei a dor que é perder uma mãe Jessy... – Começou Roberta acariciando meus cabelos – Mas eu sei que é difícil, toda perda é... Você não precisa passar por isso sozinha, eu estou aqui. Sempre que precisar.
No dia da morte de minha mãe eu sempre ficava sozinha. Mas depois que conheci Roberta ela passava esse dia difícil e doloroso comigo.
Meus amigos sempre tentavam fazer algo para me animar, mas esse era o dia em que eu afastava todos ao meu redor. Eu queria ficar sempre sozinha nesse dia. Porque foi assim que me senti quando ela morreu.
Sozinha, abandonada, deixada para trás.
Com a chegada de Roberta na minha vida, isso meio que acabou mudando. Ela era a única que conseguia me consolar. O único abraço que poderia me confortar naquele dia era o dela.
Eu estava encostada em seu ombro, quando lentamente levantei a cabeça. E avistei seus lábios. Me inclinei para alcança-los mas Roberta hesitou.
Talvez o beijo que tenha me dado ontem foi apenas um impulso. Não havia significado nada para ela. Eu estava enganado a mim mesma achando o contrario.
Minhas lagrimas agora não era apenas por causa da minha mãe. Mas eram também por causa de Roberta.
–Vamos sair daqui. – Sussurrou apenas para que eu ouvisse.
Assenti com a cabeça e a segui saindo do cemitério. Ela passou um de seus braços ao meu redor a caminhou comigo até uma praça que raramente alguém ia.
Nos sentamos na grama e quando fui olhar para Roberta, a mesma me surpreende com um beijo. Calmo e carinhoso. Ela foi a primeira a romper o beijo e deitar na grama, eu a segui fazendo o mesmo.
–Ruby... – Tentei chamar a sua atenção
–A gente pode não falar sobre isso? – Perguntou olhando para mim
–Claro – Respondi me aconchegando perto dela.
Eu poderia não entender o que estava acontecendo. Mas estava gostando e não queria estragar isso.
Longos minutos se passaram sem ninguém dizer ao menos uma palavra. Não era um silencio constrangedor. Era um silencio gostoso, relaxante. Poderia ficar assim com Roberta por horas, talvez até dias.
Olhei para seu rosto, tão lindo e angelical, Roberta havia dormido. Ou pelo menos achei que havia. Subi em cima dela e fui me aproximando de seu rosto para lhe roubar um beijo enquanto dormia. Então fui surpreendida por Roberta abrindo os olhos.
Corei ao ver Roberta rindo de mim.
–O que é que iria fazer hein dona Ferrer? – Disse com um sorriso malicioso.
–Encare-me dona Marquês. – Disse fazendo com que ela arqueasse a sobrancelha.
Ela sempre fazia a mesma expressão quando começávamos a jogar.
Fui me abaixando, aproximando meu rosto do de Roberta. E lhe dei um leve beijo nos lábios.
–Perdeu- Sussurrei em seu ouvido.
–Você trapaceou – Sussurrou de volta.
Roberta jogou seu corpo contra o meu fazendo com que invertêssemos as posições. Assim eu fiquei deitada na grama e ela em cima de mim. Ela começou a me encarar como uma forma de dizer que voltamos a jogar.
Depositou um beijo em meus lábios antes dos primeiro trinta segundos de jogo.
–Agora você perdeu Jess... – Sussurrou em um tom desafiador
–Agora foi você que trapaceou Ruby... – Disse me defendendo. Não que precisasse me defender...
–Eu devo parar de trapacear? – Disse saindo de cima de mim mais ainda sorrindo.
–Não... – Disse me sentando.
Ela olhou para o relógio e eu sabia que isso significava que ela tinha que ir embora. Ela olhou de volta para mim e abriu a boca para dizer algo mas eu a interrompi.
–Temos que ir não é?
–Infelizmente... – Disse desviando o olhar do meu.
–Infelizmente? – Perguntei sorrindo
–Eu gosto dessa praça... – Se justificou
–A praça, claro. – Meu sorriso se desmanchou. Não sei porque eu achei que ela poderia estar se referindo a mim.
–E disso também... – Se aproximou devagar e me beijou lentamente, suavemente e deliciosamente.
Ao quebrar o beijo, corei vendo a forma que Roberta olhava para mim.
–Droga – Disse do nada
–O que foi? – Disse me preocupando.
–Deixei o carro perto do cemitério...
–Vamos buscar então – Sorri para Roberta que não parava de olhar para minha boca. – Ruby?
–Claro – Disse finalmente olhando nos meus olhos