Capítulo 1: O cara da cela ao lado

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Estavam me cutucando o braço. Despertei de um sono estranho e rápido, passando a mão no rosto ao ver a cara de um guarda chato e impaciente. Que eu me lembre, cochilei pela manhã, logo após passar uma parte da madrugada elaborando planos e mais planos. Planos de quê? Planos de fuga. Já estava há seis meses nessa merda de prisão e sairia daqui sozinho, do mesmo jeito que entrei, já que não dá pra contar com absolutamente ninguém. Muito menos aqui, onde metade dessas pessoas me olham de cara feia e vez ou outra aparecem alguns dos capangas de Thanos, querendo me bater.


Dava um jeito de despistar todos eles e seguia minha vida, sem ter aliados aqui. Era uma maneira meio isolada e pessimista de ver a vida, mas quem disse que eu queria ser positivo? Minha vida foi pro lixo depois de acusações falsas, que me fizeram parar aqui, e eu quero mais é que todo mundo se foda tanto quanto eu, tanto os que denunciaram e todos que estão aqui. Não devo nada a ninguém, além de Pepper e Peter. Minha namorada e meu filho. Sairei daqui também por eles, então fugiremos para longe.


Fui cutucado novamente pelo policial, colocando os pensamentos de lado. Não podia me precipitar, não agora que parecia tudo certo na minha cabeça.


— Banho de sol, detento. Vamos.


— Já vai. — me controlei pra não despejar um palavrão nele.


Com a "boa" fama que eu tinha aqui, não era aconselhável xingar os policiais. Se eu quisesse ser bem sucedido na minha fuga, não atrair a atenção era uma ótima forma. Levantei num pulo e saí da cela, sendo levado com ele para fora, junto de todos os outros otários. Se ia pro banho de sol agora, a hora do almoço seria daqui a umas 4h. Quando se está na prisão, a gente aprende a calcular umas coisas que nunca pensou que precisaria, é até engraçado. Bocejei ao sair do grande isolamento de concreto.


Alguns presos limpavam e faziam serviços comunitários ali mesmo, o que eu nunca achei que fosse necessário, já que sairia daqui na inteligência, e, se preciso fosse, na força. Mas serviços não eram a minha praia, muito menos coisas que beneficiavam esses policiais de merda. Odiava todos eles com a minha vida, mas odiava ainda mais o bandido que me colocou aqui. 


Resmungava sozinho na minha cabeça, quando a atenção dos detentos foi tomada por algo que acontecia na parte de baixo, o que fazia eles se espremerem, um contra o outro, para que pudessem ver o que acontecia. Tive que dar alguns empurrões em alguns deles, mas consegui enxergar o motivo do alvoroço: um novato.


O tal novato parecia não dar importância pra nada, andando de boa vontade, com um porte físico grande à beça. Os cabelos, loiros como fios de palha, estavam perfeitamente arrumados em um topete e se tornavam dourados à luz do sol. Acredito que o som das vozes comentando foi o suficiente pra tirá-lo da sua inércia facial, já que agora seus olhos encaravam as coisas acima dele. Olhos que, devo realçar, brilhavam num azul claro quase cegante, como piscina limpa. Rolei os olhos, saindo do apertado e do emaranhado de caras, que continuavam se atropelando, seja em corpo, seja em falas.


Esse novato provavelmente seria mais um maricas que iria apanhar todo santo dia e acabar pedindo clemência pra algum guarda, ou sei lá. Ele parece um boneco de porcelana vivo, com olhos e cabelos brilhantes, e se não me engano, até sua pele brilhava. Sentei no banco de concreto, tentando imaginar qual o crime que ele deveria ter cometido. Talvez o crime de ser bonito demais? Ri sozinho, encarando o sol por um tempo. Os detentos finalmente saíram dali, voltando às suas habituais posições, seja conversando, limpando, trocando informações ou até drogas (fora da vista dos guardas, embora esses bostas sejam quase cegos).

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