Dezoito: Oliver

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Eles foram até o segundo túnel, subindo as escadas, em silêncio. O fogo ainda crepitava e o cheiro era de sangue, folhas e carne queimada, numa mistura nauseante. Lá dentro havia um homem de feições duras e jovem, com olhos inteligentes que analisavam-os.

- Venham comigo.

Ele vestia roupas de nobre, mas o peso da cota de malha abaixo dela era notável. Andava mais duro e menos arrogante que um nobre comum, sempre com cuidado a cada passo.

E seguiram-no túnel adentro, ainda em silêncio, até chegarem a um alçapão. O homem segurou na escada, parou por um momento e disse, numa voz baixa e pesada:

- Vocês sabem o que têm de fazer?

Todos aquiesceram.

- O homem na cadeira maior é atual senhor destas terras. É ele quem vocês devem matar. Depois disto, matem o máximo de convidados que puderem, até que os guardas consigam entrar no salão. Nós vamos tentar segurar as portas o máximo possível, mas vocês terão de ser rápidos. Após isso... É cada um por si.

- E quem são vocês?

- Amigos – Ele sorriu – De Harl, e, no momento, de vocês também.

Abriu o alçapão e subiu, e logo os assassinos do senhor estavam em um largo corredor de pedra mal iluminado, por tochas que por pouco não estavam apagadas. Havia uma porta logo à frente, e um único guarda.

- Sor Benin, quem são estes atrás de você? – Ele segurou a lança, abaixando-a aos poucos – E esta espada... Lorde Benin?! – E apontou a lança, pronto para perfurar, mas Benin sacou a espada, cortando o cabo da lança do inimigo logo em seguida. Em um milésimo de segundo este se assustou, e então o lorde cravou a espada em seu coração, não dando sequer a chance para que este gritasse.

Então o homem empurrou a porta de carvalho, fazendo com que o cheiro da comida e o barulho das risadas penetrassem naquele corredor. Estavam no segundo andar, onde não podiam ser vistos, e ali havia luz, inúmeras janelas, quadros, vestidos, donzelas, senhores e riquezas. Alguns cavaleiros guardavam o portão, uma enorme porta de madeira e ferro. Outros faziam vigia nos arredores do salão, mas não eram muitos. Havia ainda no meio uma mesa onde o banquete acontecia, visível do parapeito do segundo andar. Oliver se aproximou e olhou para baixo. Virou-se para trás e viu Benin, Amon e Lonemind. E exceto por Kyera, todos pareciam assustados, mas tentavam disfarçar. Talvez eles fossem os únicos ali que realmente tinham a índole de um assassino.

- Vamos lá.

Pulou. Caiu em cima da enorme mesa de madeira, sentindo-a rachar sob seus pés. Sacou a espada e a girou, arrancando o nariz da senhora que estava à sua frente. Logo a música foi substituída pelos gritos e pelo pavor. O gordo senhor na cadeira maior começava a se levantar, desajeitado como um porco, e tentou correr, meio bêbado e muito gordo, o que o atrasava completamente.

Oliver correu pela mesa, mas logo foi parado por um cavaleiro que sacou sua espada e começou a trocar golpes com ele. Lutaram ali, e o tiro da besta de Lonemind quase atravessou a cabeça de Oliver, chegando perto de acertar o peito do senhor. Oliver sentiu então um baque sob seus pés: era Amon pulando na mesa, cortando o cavaleiro no pescoço, e fazendo este cair de costas em cima da comida e das canecas de cerveja. Logo perceberam o cenário em volta: haviam homens infiltrados entre os cavaleiros, caçando e matando a família do senhor, outros trancando o grande portão, que tremia com os golpes dos soldados lá fora. Kyera cortava gargantas com seu punhal, tentando atravessar o mar de gente que corria para todos os lados sem saber o que fazer.

- Oliver! Amon! Matem-no agora! – Gritou Kyera, enquanto tomava a lança de um guarda.

Notaram então que o senhor corria desesperadamente, tentando se esconder. Os guardas cercavam-no, mas Benin pulou no meio destes e forçou-os a lutar com ele, numa espécie de ataque suicida que terminou com cinco espadas atravessando-o em sequência. Abriu-se então uma brecha, que foi o suficiente; um dardo de Lonemind atravessou o crânio do gordo, que caiu ao chão de joelhos, com gritos de "Não! Não!" de uma mulher que assistia à cena, também ajoelhada e aos prantos. O punhal de Kyera logo a fez se calar, trocando o colar de pedras preciosas por um fino e vermelho manto que saía da garganta.

O Olho do Corvo - amostraOnde histórias criam vida. Descubra agora