Eles foram até o segundo túnel, subindo as escadas, em silêncio. O fogo ainda crepitava e o cheiro era de sangue, folhas e carne queimada, numa mistura nauseante. Lá dentro havia um homem de feições duras e jovem, com olhos inteligentes que analisavam-os.
- Venham comigo.
Ele vestia roupas de nobre, mas o peso da cota de malha abaixo dela era notável. Andava mais duro e menos arrogante que um nobre comum, sempre com cuidado a cada passo.
E seguiram-no túnel adentro, ainda em silêncio, até chegarem a um alçapão. O homem segurou na escada, parou por um momento e disse, numa voz baixa e pesada:
- Vocês sabem o que têm de fazer?
Todos aquiesceram.
- O homem na cadeira maior é atual senhor destas terras. É ele quem vocês devem matar. Depois disto, matem o máximo de convidados que puderem, até que os guardas consigam entrar no salão. Nós vamos tentar segurar as portas o máximo possível, mas vocês terão de ser rápidos. Após isso... É cada um por si.
- E quem são vocês?
- Amigos – Ele sorriu – De Harl, e, no momento, de vocês também.
Abriu o alçapão e subiu, e logo os assassinos do senhor estavam em um largo corredor de pedra mal iluminado, por tochas que por pouco não estavam apagadas. Havia uma porta logo à frente, e um único guarda.
- Sor Benin, quem são estes atrás de você? – Ele segurou a lança, abaixando-a aos poucos – E esta espada... Lorde Benin?! – E apontou a lança, pronto para perfurar, mas Benin sacou a espada, cortando o cabo da lança do inimigo logo em seguida. Em um milésimo de segundo este se assustou, e então o lorde cravou a espada em seu coração, não dando sequer a chance para que este gritasse.
Então o homem empurrou a porta de carvalho, fazendo com que o cheiro da comida e o barulho das risadas penetrassem naquele corredor. Estavam no segundo andar, onde não podiam ser vistos, e ali havia luz, inúmeras janelas, quadros, vestidos, donzelas, senhores e riquezas. Alguns cavaleiros guardavam o portão, uma enorme porta de madeira e ferro. Outros faziam vigia nos arredores do salão, mas não eram muitos. Havia ainda no meio uma mesa onde o banquete acontecia, visível do parapeito do segundo andar. Oliver se aproximou e olhou para baixo. Virou-se para trás e viu Benin, Amon e Lonemind. E exceto por Kyera, todos pareciam assustados, mas tentavam disfarçar. Talvez eles fossem os únicos ali que realmente tinham a índole de um assassino.
- Vamos lá.
Pulou. Caiu em cima da enorme mesa de madeira, sentindo-a rachar sob seus pés. Sacou a espada e a girou, arrancando o nariz da senhora que estava à sua frente. Logo a música foi substituída pelos gritos e pelo pavor. O gordo senhor na cadeira maior começava a se levantar, desajeitado como um porco, e tentou correr, meio bêbado e muito gordo, o que o atrasava completamente.
Oliver correu pela mesa, mas logo foi parado por um cavaleiro que sacou sua espada e começou a trocar golpes com ele. Lutaram ali, e o tiro da besta de Lonemind quase atravessou a cabeça de Oliver, chegando perto de acertar o peito do senhor. Oliver sentiu então um baque sob seus pés: era Amon pulando na mesa, cortando o cavaleiro no pescoço, e fazendo este cair de costas em cima da comida e das canecas de cerveja. Logo perceberam o cenário em volta: haviam homens infiltrados entre os cavaleiros, caçando e matando a família do senhor, outros trancando o grande portão, que tremia com os golpes dos soldados lá fora. Kyera cortava gargantas com seu punhal, tentando atravessar o mar de gente que corria para todos os lados sem saber o que fazer.
- Oliver! Amon! Matem-no agora! – Gritou Kyera, enquanto tomava a lança de um guarda.
Notaram então que o senhor corria desesperadamente, tentando se esconder. Os guardas cercavam-no, mas Benin pulou no meio destes e forçou-os a lutar com ele, numa espécie de ataque suicida que terminou com cinco espadas atravessando-o em sequência. Abriu-se então uma brecha, que foi o suficiente; um dardo de Lonemind atravessou o crânio do gordo, que caiu ao chão de joelhos, com gritos de "Não! Não!" de uma mulher que assistia à cena, também ajoelhada e aos prantos. O punhal de Kyera logo a fez se calar, trocando o colar de pedras preciosas por um fino e vermelho manto que saía da garganta.
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O Olho do Corvo - amostra
FantasyO Olho do Corvo se passa na maior parte do tempo no reino de Landers, num mundo sem nome, na vida de alguns personagens. Nesse reino, há uma antiga capital abandonada, segredos em pergaminhos que se desmancham e um rei que menospreza seus inimigos e...