One-shot

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Luccino fora jogar o lixo e, agora, fumava o segundo cigarro, escorado na parede fria de concreto, torcendo para que o tempo corresse mais rápido, enquanto fazia corpo mole lá fora. Ele não pretendia entrar tão cedo, a atmosfera daquele lugar ficava indescritivelmente pior quando seu major não estava. Porém, hoje, o italiano torcia para que aquele maledetto não tivesse ousadia para dar às caras.

- Luccino.

O rapaz deu uma longa tragada antes de jogar o cigarro no chão e esmaga-lo com seu pé, exatamente como gostaria de fazer com o dono daquela voz, virou-se sem pressa, mostrando o semblante mais enraivecido possível.

- Luccino, eu sinto muito... – A frase do militar foi cortada rispidamente com a mão que tocou sua face na forma de um tapa bruto e sem qualquer arrependimento.

- Lídia Benedito?! – O italiano gritou sem se importar caso alguém pudesse escutá-lo. – Tinha que ser justo a irmã da minha melhor amiga?

Otávio levou uma das mãos ao rosto, acariciando o lado que sentiu a mão do rapaz de uma forma nada agradável. Ele não ousou proferir um "Eu mereci", pois não queria magoar Luccino com mais palavras sarcásticas.

- Não foi uma escolha. – Ele disse apenas, em um tom contido e, claramente, entristecido.

- Mas parece que gostou! Senão, não colocaria a porra de um anúncio no jornal!

- Aquela velha desgraçada descobriu que eu... – O militar parou a frase na metade, sem coragem para dizer tais palavras.

- Que você é uma bicha, Otávio! Pelo menos, admita para si mesmo. – O Pricelli continuava gritando sem qualquer pudor, a parte de seu cérebro responsável pela raiva parecia ter se apossado de seu corpo.

- A Ofélia descobriu. – O major repetiu em voz baixa. – E usou isso para me obrigar a casar com a Lídia.

- E por que você não fez nada? – O italiano, finalmente, abaixou o tom de voz, tentando conter as lágrimas que começavam a encher seus olhos.

- Luccino, eu não tinha o que fazer! – Otávio gritou, quase como implorando para que o outro lhe compreendesse. – Ela ameaçou me denunciar. – Ele mordeu o lábio inferior, do mesmo jeito que sempre fazia quando estava triste, e encarou o rapaz nos olhos, sem um pingo de esperança. – O Exército é tudo que eu tenho.

Luccino precisou de alguns segundos para digerir aquela frase, naquele instante, percebendo que era possível ficar ainda mais magoado do que já estava.

- Você tinha a mim. – Seus olhos negros pareciam afundar o militar num mar gélido e solitário, sem emoção. – Mas acho que nunca foi o suficiente.

- Luccino, por favor, eu te...

- Não ouse dizer isso agora! – Ele gritou novamente, sendo incapaz de manter as lágrimas em suas pálpebras. – Se não disse antes, não tem porquê dizer justo agora.

Alguns longos instantes se seguiram, com Otávio encarando o amado derramar mais lágrimas do que parecia ser humanamente possível. Ele respirou fundo, esperando que o ar pudesse enchê-lo de coragem. Então, se aproximou do italiano, segurando suas mãos e secando suas bochechas, gentilmente.

- Luccino, vamos embora da cidade... nós dois juntos. Vamos... reconstruir as nossas vidas num lugar bem longe daqui, num lugar que ninguém conheça a gente. – O pedido era genuíno, melancólico e o último fiapo de esperança na voz do major.

Maledetto - One-shot LutávioWhere stories live. Discover now