Prólogo.

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Em 1991, o Rock estava no topo.

Todos os rapazes de cabelos compridos e unhas pintadas tinham com orgulho um conjunto de versos melódicos acompanhados com um solo de guitarra e coro de vozes afinadas ao seu fundo, bares de esquina cuspindo jovens artistas e amantes da arte durante as madrugadas que se passavam, história sendo criadas e terminadas a partir de canções inesquecíveis, cada um com o direito de ter um pouco para si, ousar ter suas próprias trilhas sonoras com gosto de Whiskey barato e o bom som Grunge sendo ecoado por todos os lados.

Era o auge da década, bem em seu início.

Nirvana, Foo Fighters e Pearl Jam estouravam nos auto falantes de pubs com luzes coloridas, instrumentos com sons pesados sendo tocados com todo o sangue e suor possível, música tocando corações e embriagando almas. Um casal de jovem adultos abraçados enquanto atravessavam a cidade tendo a sua própria noite de corações cantando Rock aos gritos e almas bêbadas, com suas mãos se esquentando juntas naquele frio de dezembro.

Se conheceram a pouco menos que seis anos atrás, quando tinham apenas doze anos de idade e pulavam a cerca de casa durante as madrugadas que se passavam, apenas para trocar fitas de suas músicas preferidas e jogar pedras no lago do bairro, época em que tudo tinha um gosto bom de doces de banana e tinha sons das vitrolas de seus pais, aqueles que agiam como se nunca tivessem superado os anos cinquenta.

Johannah Poulston era a quinta filha de oito irmãos, uma mãe que procrastinava seu papel materno na família e um pai que não era de fato o seu biológico, mas tentava manter tudo na medida do possível e... familiar. Nunca prestavam muita atenção na filha de meio, apesar de ser a única menina e a única que sabia o caminho perfeito e mais discreto possível para o quintal da família Tomlinson.

Mark Tomlinson, apesar de ser filho único, não era mimado o quanto Johannah achava que ele era. Seus pais, uma artista parisience com lábios manchados de vinho tinto e um ex guerreiro militar de sorriso marcante, com um bar escondido numa esquina na antiga Londres sendo o ponto de referência do casal, amantes da música. Sempre foram rígidos como pais poderiam ser, até o limite. Apesar disso, não eram pais ruins, muito menos violentos. Justos, eles eram.

Estava fresco na memória de ambos a lembrança de quando o Senhor Tomlinson vestiu seu filho com seu melhor Risca-giz escuro e o Senhor Poulston encheu os cabelos de Johannah com a maior quantidade de flores possíveis, arrumando-os para o primeiro e oficial jantar entre as duas famílias.

Se apaixonaram com o passar dos curtos e vívidos anos, embolandos num amor indescritível e jovial, cadernos recheados com canções que tentavam descrever o indescritível e energia boa dentro de uma Kombi que chamavam de lar, corajosos e apaixonados, visitando todos os cantos possíveis dos países aos arredores enquanto declaravam seu amor um para o outro.
Saíram de casa aos dezoito anos, a garota, recém descoberta de uma gravidez e o rapaz feliz da vida por ter ganho uma aposta com cavalos, juntos, seguindo seus próprios sonhos e um mais um virando três.

Fugiam juntos, viviam juntos, eram eles mesmos juntos.

Ambos tinham um brilho bonito no olhar, como se tudo ao redor tivesse uma pitada maior de beleza do que normalmente tinha e isso não era um dos sintomas de paixão, não desta vez, apesar deles estarem mais apaixonados do que poderiam descrever.

Era véspera de um Natal.

O vermelho e o verde piscando nas janelas dos prédios competiam com as luzes das estrelas que olhavam pelo casal, a Lua sendo a fiel escudeira do românce jovial, acompanhando-os desde o primeiro beijo trilhado pelos Beatles, porque é claro que a música rodeava o amor dos dois, tão claro quanto água.

E assim eram juntos.

Uma Kombi vermelha sem forro no chão e buracos pelo teto era a sua casa, um violão e uma guitarra nos bancos traseiros faziam-os companhia em noites difíceis  e pacotes de comida expalhados pelo porta malas davam-os lembranças dos dias agitados. Um ventilador portátil equilibrado no parabrisa e adesivos de bandas da época, cada um com sua própria história eternizada no veículo.

Em 1991, Johanna e Mark Tomlinson estavam vivendo os seus sonhos.

Com apenas algumas libras e uns saquinhos de maconha nos bolsos, eles eram felizes. Sobreviviam vendendo suas próprias histórias juntos para artistas dignos de cantar-las, com os mesmos tênis que calçavam quando cantaram juntos pela primeira vez, eles as viviam e escreviam, satisfeitos com o que tinham.

Em 1991, Imagine do John Lennon tocava num bar retrô de karaokê.

Uma senhora com cachos grisalhos como os de um anjo e pálpebras pintadas de um azul cintilante tomava a letra como sua, preenchendo o lugar pequeno e mal iluminado com a sua voz rouca e penetrante quando o casal adentrou no estabelecimento.

Era como uma toca. Uma caverna calma em meio a cidade turbulenta, uma representação esforçada de uma noite comum entre tempestades de feriados e neve refletindo pisca-piscas.

A barriga grande e redonda de Johannah escapava por seu moletom cinza e grosso, flocos de neve enfeitavam seus cabelos selvagens como se fossem gotas de chantilly em meio chocolate e mesmo que seus olhos castanhos-esverdeados transparecessem tranquilidade e seus lábios cantavam baixinho a música que ecoava no local, seu corpo doía como se todos os seres do inferno decidissem subir nela de uma vez só.

Mas era Véspera de Natal. E um novo anjo estava para nascer.

As pontas do cabelo ressecado de Mark pinicavam seus ombros nus, o rapaz preocupado o suficiente para dizer que não se importava em sentir frio e aquecer a sua amada com seu agasalho grosso, a jovem com água jorrando para baixo de suas pernas.

Rapidamente, ao notar o que estava para acontecer em seu bar, o homem de barba comprida e canções de amor tatuadas nos braços correu para ajudar-los, propondo que fossem para os fundos, onde tinha um banheiro limpo com uma banheira decente.

Mas não. Ela queria ter-lo ali. Era especial. Era a hora certa. Era o seu bebê, o seu legado, o tema principal de todas as suas canções de amor materno.

Com Lennon ecoando entre as paredes vermelhas e fotos de artistas emoldurados, cheiro de cigarro, bebida e amor natalino ao redor e a solidão de cada um ali presente formando um grupo preocupado em torno da mulher.

Havia um casal de homens enfermeiros ali, que se voluntariaram para ajudar o bebê a conhecer seu novo mundo, a senhora de cachos grisalhos ainda cantando como se aquele momento pedisse uma trilha de voz única.

A mão de Mark estava entrelaçada com a de Johannah como se nada além daquele bar existisse no mundo. E talvez essa fosse a verdade.

Uma média de seis a nove pessoas ocupavam o lugar, sendo a única e especial platéia dessa nova história, com apenas o Era Uma Vez sendo escrito no papel.

Quando a música se encerrou, um choro ecoou.

Era um novo início.
Era meia noite.
Era Natal.

"Louis. Louis William. Louis William Tomlinson." Foram as únicas palavras cantadas pela jovem cansada, um sorriso com olhos gentis sendo direcionados para o bebê abençoado pelo feriado, palmas sendo a nova trilha sonora do casal com o mais recente membro da família.

E então, a música recomeçou e o choro cessou.

No ano de 91, o rock obteve o seu auge, tão perto quanto os 80's. Grandes albuns que entrariam em sua história foram lançados, as ruas eram tomadas facilmente por grandes festivais e amantes da música, artistas amadores criavam seus próprios estilos para acompanharem a ascenção. Mas nenhuma grande música ou nenhum grande artistas conseguiu superar a magia que Johannah e Mark sentiram naquela data em específico.

Em 1991, no Natal, dentro de um Karaoke caindo aos pedaços e com corações fortes batendo altos, Louis William Tomlinson nasceu.

E começou a sua própria canção.


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