XIX| Cooperação

41 21 0
                                    

08/04/06
Mas a questão ainda sobrevoava: será que Sophia estava apaixonada pelo seu próprio veneno?

A jovem olhava intimamente para Alexander sempre que passavam um pelo outro. O líder revolvia o olhar. Sophia via-o como um cirurgião do que ele próprio havia quebrado. Ele unia o que tinha rasgado ao se envolver com Sophia. O quão doentio isso poderia ser? Quase todas as noites, eles se envolviam. Sophia ia adiando a perda da sua virgindade. Até que não o pôde fazer mais.

A rapariga que havia posto Sophia no isolamento, já não aguentava de tanta raiva. Queria, à força, incriminar Sophia e não tinha como. Assim sendo, decidiu juntar-se a Maria que também tinha formado ódio por Sophia devido à sua exclusão do plano. E Maria, se se juntasse à "apaixonada", ia denunciar o plano e Sophia entraria em graves problemas. Muito maiores que o isolamento.

Portanto, a jovem teve de arranjar uma forma de integrar novamente Maria antes que o seu segredo fosse exposto. Ou simplesmente simular integrá-la.

09/04/06

Sophia debatia-se com dois problemas: experimentar as chaves que havia feito na fechadura da porta da cozinha e Maria. Maria era o seu pior problema.

Aubrey levou quatro chaves para a cozinha. A Sophia ficou com as outras. Enquanto limpava a cozinha, Aubrey ia estudando cada canto que tivesse a ser vigiado. Era Fernando quem tinha um maior campo de visão na cozinha pois ele supervisionava a porta 10 - a porta que Sophia queria abrir - que dava para o exterior.

Assim sendo, Sophia ordenou à jovem que gerasse uma confusão na cozinha, dando a oportunidade a Aubrey para experimentar as chaves enquanto o alvoroço se mantinha aceso. E assim se sucedeu.

Entretanto, Sophia foi à procura de Maria, pela sala principal, enquanto trabalhava. Maria conversava com uma amiga quando Sophia se aproximou. Ela parecia o tipo de rapariga que era facilmente manipulada por outros. Qualquer um era capaz de enfraquecê-la e usá-la, o que preocupava Sophia que julgava já ter o seu segredo espalhado por ali.

Maria, com o seu sotaque espanhol, questionou Sophia o que fazia ela perto daquele núcleo, denominando-o "exclusivo" . Como se naquele local existisse alguma zona VIP...

Sophia respondeu que queria propôr-lhe algo:
- Quieres hacer parte de nuestra fuga?
- Qué? Qué fuga?
(...)
- Cuántas Marías existen aquí? - perguntou Sophia, preocupada que não estivesse a falar com a pessoa certa.
- Tres.

Sophia virou-se, em pânico, voltou a olhar para Maria e virou-se, interrogando-se sobre o que faria. Agora "entornado o copo", Sophia teria que assumir a responsabilidade e integrar aquela Maria no grupo. E ainda teria de adicionar a outra, o que ia acabar por prejudicar o tempo de fuga, pois já seriam muitas pessoas envolvidas no plano.

Sendo assim, a jovem decidiu inventar uma história a esta Maria. Disse então que a fuga era um jogo que o grupo de raparigas dos quartos da ala direita tinham inventado. Maria interpretou a ideia como parola e decidiu rir e virar as costas - provocando um suspiro profundo de alívio por parte de Sophia.
O problema era: como iria ela descobrir quais das outras duas Marias sabia do plano?

Entretanto, Aubrey continuava a tentar abrir a porta 10 na cozinha. Outra das jovens que sabia do plano, jogava pratos e panelas para o chão criando conflito com outra rapariga que lá estava. Fernando separava-as tentando comunicar no walkie-talkie que precisava de reforços.
Faltava experimentar uma chave e se essa não desse, Sophia teria de inventar uma outra desculpa para distrair Fernando e isso não daria jeito nenhum, além de atrasar o plano.

Com cautela e vagarosamente, Aubrey foi tentando abrir a fechadura com a chave de plástico. No entanto, novos guardas estavam a chegar ordenando a todas que se deitassem no chão, senão iam disparar. Aubrey continuava a tentar até que conseguiu finalmente abrir a porta.

Vendo um guarda a se aproximar, Aubrey fechou com força a porta jogando-se para o chão e guardando a chave na boca. Assim que as jovens que discutiam foram presas nos seus quartos, o trabalho voltou ao normal e Aubrey guardou no avental a chave correspondente à porta. E aí começou outro problema.
Os aventais eram partilhados, nenhum deles pertencia a ninguém, ou seja, no dia seguinte, qualquer pessoa podia ficar com o avental onde estava guardada a chave.

Contente e orgulhosa, Aubrey foi avisar Sophia que tinha encontrado a chave correspondente. Sophia, nervosa com a situação das Marias, agradeceu-lhe pelo trabalho e pediu-lhe que lhe arranjasse massa de pão. Aubrey nem questionou e no dia seguinte forneceu-lhe o pedido.

Sophia reuniu-se com o grupo que havia planeado fazer parte da fuga e deu, a cada uma delas, uma tarefa. Uma ficou com a tarefa de experimentar a porta 6, ao pé da garagem, outra encarregue de descobrir qual das Marias sabia do segredo e Sophia encarregou-se de usar a massa do pão para estragar com a conduta da eletricidade, ou pelo menos bloqueá-la. Isso dar-lhes-ia tempo. E quanto mais desordem, mais oportunidades para agir porque os guardas estariam ocupados.

O plano estava a ser concretizado aos poucos com a cooperação de todas as raparigas que acreditavam em Sophia. Mas ainda havia um problema - para onde iriam as jovens após fugir do edifício?

O Tempo Não Tem Relógio (obra concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora