Tive permissão para caminhar de volta sem ser arrastada até onde Max Kliener esperava. Mas dois Hanks me seguiram bem de perto, cada um portando uma pistola idêntica nas mãos idênticas. Mas Kliener, enquanto isso, se transformara em Max Exibido.
Pareceu apenas ligeiramente ofendido quando interrompi sua lenga-lenga para dizer:
— Foi você quem mandou aqueles bandidos me matarem na noite passada depois da festa, não foi?
Abriu as mãos num gesto do tipo "o que posso dizer?".
— Depois que Rock me disse que deveria ter reconhecido você e não o fez, fiquei preocupado com quanto você saberia.
— Qual Rock foi esse? — perguntei, contente porque minha pergunta viera no tempo certo para coincidir com o momento em que passei por vários deles apoiados dentro das redomas. Agora estávamos mesmo no país do bizarro.
— É melhor planejar com antecedência — respondeu Kliener. — Você nunca sabe quando vai precisar de um novo astro.
— Então, o primeiro Rock estava certo quando disse que alguém pretendia matá-lo.
Ele balançou a cabeça, negando.
— Errou em cada palavra, moça.
Estava começando a me irritar. Mas sorri para demonstrar o contrário.
— É mesmo?
— Ele não era o primeiro Rock, de jeito nenhum. E ninguém estava tentando matá-lo. Só... aconteceu.
Uma luz estava começando a raiar na minha cabeça. Podia entender a atração de ter um estoque dos astros de cinema mais conhecidos pronto para uso. Se eles tinham o hábito de morrer, fazia mais sentido ainda.
Mas onde é que Kliener os arranjava? Olhei para o tanque em forma de caixão e ele bateu palmas, aprovando.
— Acho que a dona entendeu — disse. — Garota esperta.
— Moça, dona, garota, decida-se. — Certo, no momento minha mente estava ocupada em entender a tramoia mais do que em criar diálogos engenhosos. — Você tem um jeito de fazer com que alguém tenha a aparência que quiser... estou certa?
— A primeira da classe, boneca.
— Você perguntou minha altura e peso, então, imagino que tenha a ver com deslocar pedacinhos em vez de cortar ou acrescentar. — Eu tinha uma vaga ideia de como isso funcionaria, mas precisaria de uma quantidade de energia que não estava amplamente disponível na Nova York da década de 1930.
— Isso mesmo. — Kliener tirou o charuto da boca por tempo suficiente para examiná-lo e se surpreender por não estar aceso. — Tem tudo a ver com redistribuição da matéria da carne e dos ossos. — Deu uma pancadinha na redoma mais próxima, que produziu um tinido abafado.
— Todas estas pessoas eram diferentes. Mas agora, graças ao meu trabalho, têm a mesma aparência.
— Mas pegaram no sono — contrapus. — Estão ainda mais entediadas com o que você fez do que eu.
Ele mastigou o charuto.
— Engraçadinha. Estão só esperando até que eu precise delas. Como você sabe, tenho depósitos de roupas, de objetos e de cenários. Agora, tenho um depósito de astros também.
Através do vidro, espiei uma Giddy Semestre adormecida. Era idêntica à verdadeira. Mas, percebi, eu provavelmente nunca conhecera a verdadeira. Imaginei quem ela costumava ser.
— O que acontece com eles? — Eu estava perguntando tanto a mim mesma quanto a Kliener. Meu hálito embaçou o vidro quando falei, borrando as feições dormentes da mulher.
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O Beijo do Anjo: Um Mistério de Melody Malone
Mystery / ThrillerMelody Malone, dona e única empregada da Angel Detective Agency tem um cliente inesperado. É a estrela de cinema Rock Railton, e ele acha que alguém, planeja mata-lo. Quando ele menciona "beijo do anjo" ela pega o caso. Anjos são o lance de Melody...