25. night terrors

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aviso de gatilho: ataques de pânico

SAVANNAH NÃO PASSAVA DE uma sombra da noite na escada de incêndio. Seus passos eram silenciosos e ela, veloz, à medida que avançava pelos degraus mais e mais. Se olhasse para trás, conseguiria ver o carro de Lia estacionado nos confins da rua, de onde a amiga estava de tocaia para o caso de alguém suspeito aparecer.

Talvez fosse estranho o fato de ser exatamente daquele jeito que a garota queria passar o seu domingo: esgueirando-se pela cidade tentando deter uns bandidos aqui e ali, com o taco em mãos e a máscara no rosto. Depois de uma semana inteira sem fazer aquilo, ela estava sentindo falta das investigações. (Mas não dos machucados que conseguia no processo, claro. Depois do incidente com a Gata Negra, ela tinha jurado a si mesma nunca mais sair sem o uniforme militar completo e seu tecido resistente.)

Savannah tirara os pontos da panturrilha havia apenas dois dias; durante a sexta-feira, ela ficara de repouso e no sábado tinha feito diversos exercícios para testar a perna, que parecia novinha em folha — o único sinal de que houvera um ferimento ali era uma pequena cicatriz. Não mais incapacitada, a vigilante havia planejado sair em patrulha naquele dia mesmo, mas quem sugeriu que fossem xeretar o apartamento de Tina Englert fora Lia. Para a surpresa da Major, a parceira passara um bom tempo daquela última semana de olho no prédio em que a criminosa morava. Segundo ela, não havia tido nenhum sinal de Englert, o que indicava que a mulher não vivia mais ali.

Savannah continuou a subir pela escadaria de metal. Cada vez que passava em frente a uma janela, sempre que via alguém na sala de estar vendo televisão ou simplesmente deitado no sofá, ela abaixava-se e se movia lentamente para não chamar nenhuma atenção. Ninguém reparou nela, ainda bem.

Não que fosse fazer alguma diferença. Se o apartamento de Englert realmente estivesse abandonado como elas pensavam, ninguém poderia avisar nada a uma mulher que não morava ali, não é mesmo?

Uma garoa fraca caía já fazia alguns minutos quando a vigilante por fim chegou ao andar certo. O trinco da janela que permitia o acesso à escada de incêndio estava quebrado, então a vigilante não teve problemas para abrir o vitrô. Deixando para trás o som tilintante das gotas de chuva contra os degraus de metal, ela adentrou a residência com cuidado — conforme o fazia, teve de espantar o espírito do bom senso, pois este repetia sem parar que ela como era errado invadir propriedade privada.

— Estou dentro — a voz dela, por mais baixa que fosse, pareceu ecoar pelo espaço.

Ótimo — Amelia disse do outro lado do telefone. — A barra está limpa, ninguém por aqui. Sinal verde, prossiga com a operação.

Savannah não conseguiu evitar dar um risinho diante das palavras da amiga. As duas passaram a sexta-feira vendo filmes de espiões, e agora Lia não parava de soltar frases que remetiam ao gênero.

Depois uma breve despedida, a heroína encerrou a ligação e olhou em volta. A grossa camada de pó espalhada por todo canto, além da quietude quase mórbida, deixava claro que o lugar estava, de fato, desabitado. A Major logo constatou que a casa era apenas para manter as aparências — algo para enganar a polícia, enquanto Tina Englert e todo o dinheiro que tinha acumulado com suas atividades escusas mudavam-se para uma residência melhor em uma vizinhança melhor, onde poderia fazer o que quisesse sem desconfiança. E, considerando que aquele espaço obviamente não havia sido alugado para ninguém, talvez fosse uma fachada para outras coisas também... como armas ou drogas ou qualquer negócio que precisasse ser escondido por um tempo.

Havia também, claro, a possibilidade de não haver nada ali e Englert manter o apartamento simplesmente porque queria. Mas era improvável, então, ligando a lanterna do celular, Savannah começou a sua inspeção. De quando em quando, a madeira do piso rangia sob seus pés, mas aquilo não era nada além da prova da qualidade contestável do prédio; ela deparou-se com apenas uma única tábua solta de verdade, sob a qual não encontrou nada.

SUPER ¹ ━ peter parkerOnde histórias criam vida. Descubra agora