Capítulo 2

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Todo mundo sabe que pessoas caladas costumam ter a mente barulhenta. Podem estar planejando algo que você nem se quer imagina, várias coisas ficam gritando na sua cabeça, podem ser boas ou ruins, ninguém nunca vai saber, a não ser que essas pessoas coloquem seus planos em dia. Ou simplesmente morram perturbados com tudo isso.

Meus dedos estão enrugados por eu ter ficado por muito tempo debaixo do chuveiro. Eu queria apenas que o sono passasse, mas parece que só fiquei mais tensa. Ana se vestiu rapidamente e com muitoentusiasmo, está com um sorriso no rosto logo pela manhã, apenas me esperando para irmos para escola. Sento na mesa apertada com o cabelo úmido, coloco café até a boca da xícara amarela com um rosto feliz estampado. Eu amo café, amo tanto que poderia tomar banho dele, tomo café praticamente o dia inteiro, minha mãe diz que é por causa dele que estou com dificuldade para dormir durante a noite, é eu queria que fosse apenas o café que me deixasse sem dormir, assim pelo menos esses pensamentos chatos iriam embora quando eu fechasse os olhos.

- Vamos Margo, se não vamos perder o ônibus! - bebeu o resto de café que estava em sua xícara.

- Como assim? Não me diga que vamos no ônibus da escola...- assentiu

-Não, eu odeio ir de ônibus escolar, cadê seu carro?

- Já te explique isso. Eu não tenho carro, quem tem é o Tobias

- Eu posso levar vocês hoje meninas, deixa eu só pegar as chaves. - seu irmão mais velho Tobias é calado e pelo que seu pai fala, ele é uma pessoa muito inteligente e agradável.

Fiquei ao lado de Ana que enfeita seu armário com figuras e fotos. Nunca fui de fazer isso, pra mim é apenas um armário, o meu está sempre vazio apenas com livros da escola e alguns absorventes que é difícil usar na escola. Começo a bater o pé no chão e olhar para o relógio de pulso que tanto gosto, meu pai me deu no meu aniversário de dezesseis anos, para Callie ele deu uma corrente com um pingente de estrela, fiquei feliz com o relógio, desde aquele dia só tiro para tomar banho. Callie havia ficado impressionada, toda vez que me via olhando a hora no relógio resmungava "Se papai tivesse me dado um relógio eu iria ficar bem triste, isso é tão sei lá, sem graça!". Sempre chegava atrasada em todos os compromissos, hoje eu chego atrasada apenas para deixar minha marca.

- Vamos Ana, tempo é dinheiro.

- Quem disse? - retrucou.

- Você ontem a noite.

- Eu não conseguia me concentrar em uma tarefa de química! - o seu tom de voz é tão alto que atraiu olhares. Inclusive o do garoto que ontem usava a mesma camisa que eu, seu armário é quase encostando com o da Ana. Colocou a mão na boca encolhida quando percebeu que tinha dito auto demais

- Hoje nós duas temos educação física parece que ficamos juntas nessa.

- Tenho uma desculpa esfarrapada para Educação física.

Sentei na arquibancada e coloquei as pernas no banco da frente, olhei para o lado o garoto mal encarado está sentado com um outro garoto e uma garota, ele não percebeu que eu o fitava, então apenas virei o rosto. Ana vem correndo de um jeito desengonçado até mim, ela está usando o uniforme de Educação física da escola. Ficou parada na minha frente com seus lábios finos franzido.

— Você não vai jogar? — olhei para quadra onde um monte de garotas estão jogando vôlei.

— Não.

— Saiba que é a única que não está jogando.

— Não, você também está aqui comigo, então não sou a única, aliás eu não sei jogar vôlei muito bem.

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