Aliança de Ferro e Fogo

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A jovem nascida do ferro estava debruçada na soleira de uma janela da torre principal, seus olhos castanhos observavam as ondas colidirem com as rochas das ilhas de seu lar, corroendo aos poucos os pedregulhos que serviam de sua base, a expressão da mesma era dura como o próprio aço. Os cabelos negros de Yara estavam presos acima de sua cabeça, um coque bagunçado, porém bastante firme para não se soltar. Suas memórias a levavam para longe, em um passado onde seu irmão Theon ainda estava vivo, lamentava a forma como sua trajetória havia sido trágica. Logo depois, a sua mente lhe trazia para seu mundo atual, onde governos, reis, rainhas, nobres, peões, idosos e crianças caíram no eterno leito da morte. Alguns, na verdade, retornavam.

O sol já estava ganhando seu lugar no céu, aos poucos os tons rosados e alaranjados dominavam o escuro azul que desaparecia para lhes dar espaço, alguns homens começavam a murmurarem enquanto faziam suas tarefas, estavam ocupados preparando as frotas como havia sido ordenado a poucos dias. A Greyjoy então tirou os pesos de seus cotovelos, desencostando-se da janela para se vestir. Ela cobriu seu corpo nu com uma roupa negra de algodão fina, em seguida colocou seu peitoral de couro fervido, nele havia um relevo no formato de uma gigante lula dourada, símbolo e orgulho de sua casa. Fechou seu cinto de couro negro ao redor de seu quadril, onde trazia seu machado sem capa, uma espada em uma bainha de couro marrom e uma faca mais curta e muito pontiaguda. Por fim, colocou seu sobretudo negro e surrado, feito de linho, era confortável e resistente.

Ela desceu as escadas de seu quarto com passos pesados, sentia uma constante dor de cabeça, não sabia se era por seu luto ou por conta da quantidade exarcebada de vinho das noites anteriores, ela comemorava com seu povo o retorno de Daenerys. Apesar de ter grande parte de aprovação com sua decisão de manter-se aliada à casa prometida, alguns imaginavam como isso poderia prejudicar as Ilhas de Ferro, não eram terras férteis e em suas minas não haviam minerais preciosos para comércio. Mas Yara não pestanejou em se posicionar quando as noticias e responsabilidades chegaram para ela, admirava a Targaryen, era uma mulher cuja trajetória por respeito e poder foram difíceis como para ela. Ela estava ali para apoiar sua rainha, como havia jurado aos seus pés, ela mantinha sua palavra não apenas por servir, mas por si mesma.

Quando chegou ao salão, já estava servido na mesa o café, havia bacon frito com as bordas tostadas, pão branco com ervas e sais, um farto pote de mel com pedaços de coxas de frango ao seu lado. Ela sentou-se à mesa, colocou leite em sua caneca de aço e pegou um pedaço de frango pelo osso, ela o cobriu com mel e lhe deu uma mordida. Estava faminta, na noite anterior bebeu litros de vinho, estava tão embriagada que se esqueceu de comer ao banquete com seus homens. O silêncio e a solidão fora cortada quando em suas costas as portas foram abertas por um soldado, ela engoliu o restante do frango limpando toda a carne, deixando apenas o osso branco da ave jogada na mesa, ela então se virou para saber de quem se tratava.

- O que está morto não pode morrer. - Petyr logo disse, cumprimentando-a com respeito e firmeza. Era um homem com muitas marcas de batalhas, seu rosto estava já coberto com cicatrizes feitas por aço, seus cabelos grisalhos eram medianos e sempre estavam jogados para trás. Era alto, robusto e apesar de sua idade, era mais forte do que os jovens que iniciavam suas batalhas. Em suas mãos havia um pedaço de papel com o selo de um corvo, estava lacrado ainda, mas Yara acreditava saber do que se tratava.

- Mas volta a erguer-se, mais duro e mais forte. – Ela apertou a mão direita em um punho sobre o coração. – Noticias? – Ela se referia ao pergaminho.

-Sim, e acredito eu, que irá ficar contente. – O homem então ficou em silêncio sem prosseguir com palavras, direcionou a mão direita para a porta, ficando apenas de lado, convidando sua líder para sair.

Yara franziu o cenho, tomou um gole do leite puro de cabra e se levantou, ela limpou as mãos de gordura e mel nas calças que vestia. Ela tinha um tipo de beleza diferente, suas feições eram quadradas, seus olhos pequenos e seu rosto longo, e diferente da maioria das mulheres, conquistou o respeito dos homens ao seu redor lutando bravamente e com determinação. Seu jeito era mais carrancudo do que qualquer um que nasceu do ferro. Ela se retirou do salão, andou com pressa pelos corredores até chegar à varanda onde poderia ver o lado de fora, em seus pequenos lábios um sorriso contente e esperançoso se formou. No horizonte uma tropa de navios se aproximava, suas bandeiras negras e a quantidade de embarcações só poderiam ser das forças de sua aliada.

- A tropa de ferro está pronta, Petyr? – Ela questionou.

-Mais do que nunca... - O soldado respondeu prontamente, observando junto à ela o horizonte. – Os homens estão com o sangue fervendo, ao seu lado, e também, de nossa rainha.

Os olhos escuros da Greyjoy brilharam quando finalmente a sombra alada pode ser vista, estava ao alto das tropas, planando como se estivesse em frente ao sol, trazendo com ele o calor da alvorada. Yara então se moveu rápido para dentro novamente, desceu ansiosa as escadas para ir em direção ao porto, gritava com os homens em ordem de comando para segui-la. Passou pelo vilarejo com uma multidão de homens e mulheres, todos seguindo para recepcionar a rainha dragão, as mãos de Yara estavam frias de suor, ansiosa para que as águas ajudassem que Daenerys chegasse mais rápido. Drogon aumentou a velocidade do vôo, ultrapassou as tropas de navios dos Imaculados que seguiam liderando, em pouco tempo chegou até as oito ilhas, sobrevoou os navios de Yara em uma altura enorme. Os olhares do povo estavam todos direcionados para cima, observando a dança do dragão, Drogon aos poucos abaixava a altura de seu vôo. Isso fez com que finalmente uma pequena silhueta clara fosse vista por Yara, era com certeza a mãe dos dragões montada em seu filho, seus cabelos prateados brilham com o sol. 

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