Capítulo 19 - A Verdade de Kanton

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– Ei, moleque, acorda.

Orion sentiu suas bochechas sendo acertadas e abriu os olhos, extremamente cansado. Estava de pé, os dois braços puxados para os lados por correntes e amarrados em duas paredes irregulares. Cada parte de seu corpo ardia, mas não doía.

Ao olhar para um dos ferimentos, viu uma criatura gosmenta caminhando por cima, brilhando em uma tonalidade verde. Orion engoliu em seco, e depois olhou para o homem que segurava um espelho. Usava um tipo de quimono longo, amarrado na cintura por uma corda grossa e remendado por uma bainha de espada.

Era um homem na casa dos quarenta anos. Queixo quadrado, lábios sorridentes e um olhar preocupado. Seus cabelos já estavam no degrade entre o preto e branco, com algumas rugas já surgindo na testa. Sua barba era cheia, mas aparada, dando cor as cicatrizes espalhadas e antigas de seu rosto.

Bufou dando uma olhada na aparência de Orion, mas estreitou os olhos.

– Acho que está ótimo. – Ergueu o espelho. – O que acha?

Os cabelos longos de Orion foram aparados, retornando para uma aspecto mais jovial, e sua barba foi cortada, perfeitamente, semelhante ao do homem a sua frente. Todo o seu rosto parecia mais jovial, porém, seus olhos eram como pedras e seus lábios pressionavam com força contra o outro.

Ele era Orion, no final das contas.

– Eu tive que fazer muitas aparagens, mas tentei deixar do jeito mais simples. E não se preocupe com os seus ferimentos, estão sendo curados, aos poucos. – O homem abaixou o espelho e coçou a própria barba, sorrindo. – E desculpe pelas correntes.

Passando seu dedo no ar, as duas correntes se quebraram e Orion ficou de pé.

– Sou Himeru, é um prazer. Agora, venha, por favor, Tarot espera por você.

Orion olhou ao redor. Estavam em um tipo de torre, com o teto em uma altura tão larga que não não o via. A sala inteira era escura com pequenos pontos luminosos espalhados, clareando as placas de pedras, o único caminho viável. Ao olhar para o lado, um abismo o olhava de volta.

Seus sentidos espreitavam a cada ponto, procurando por armadilhas ou qualquer que fosse a piada que aquilo representava. Ouvia apenas os passos do homem que se chamava Himiru, mas quando ele parou, Orion voltou a prestar atenção nele.

– O que está fazendo? Venha logo. Não temos muito tempo a perder. Tarot costuma fazer vista grossa aos outros. Agora, venha.

Os vermes que caminhavam nos ferimentos pararam de se mexer e se diluíram para dentro de sua pele.

– O que foi isso? - Orion sentiu seus músculos serem aliviados e recuperados, de uma hora para outra. – Está ardendo, mas é bom.

Himeru deu uma risada.

– É a minha magia. Agora, você tem forças suficientes para caminhar sem problemas.

Orion seguiu. Seus braços estavam suspensos, mas não podia mexê-los como quisesse. Estava dolorido e ferido. Suas costas era o que mais ardia, coçava bastante, mas ele não podia chegar até o local.

Ao chegar do outro lado da passarela, Himeru o fez atravessar o portal de pedra e o mundo escureceu. Ao ser empurrado, uma sala foi forjada. As luzes brilharam e as vozes surgiram. Orion piscou com dificuldade até se acostumar com as luzes.

– Ai está ele – ouviu uma voz bem jovem, quase de uma criança, e depois uma risada. – O homem que quase matou um dos meus melhores guarda-costas.

Passos Arcanos: Sombras do LesteOnde histórias criam vida. Descubra agora