Sol narrando.
Limpo o rosto molhado com as mãos trêmulas, me obrigando a engolir o choro.
Me sinto horrível com a reação de Tomas, seu olhar triste, por minha culpa, se sentindo traído, por mim, me dá um nó na garganta, e sinto uma vontade enorme de chorar.
Me apoio nos joelhos, respirando fundo, espremendo os olhos como se isso fosse adiantar. Não posso chorar agora, mas me sinto quebrada. Nunca fiz Tomas chorar. Já discutimos centenas de vezes, mas nunca desse jeito. Ele nunca me olhou daquela forma...
Sinto minha garganta se apertando, e eu inspiro, os olhos fechados, me esquecendo de onde estou, só por um instante, me concentro apenas no agora, no que tenho que fazer.
Posso conversar com Tom depois. Ele vai me perdoar... Ou não? Pelo o jeito que ele gritava não tenho certeza e só de me imaginar seguindo viagem sem ele... Não conseguiria.
Me levanto, indo em direção a cabana onde ele está, e vejo Henrique entrando. Hesito por alguns instantes, o barulho de tambores e vozes chamando minha atenção, me distraindo.
Preciso dar um tempo pra Tomas, pra ele respirar e pensar melhor.
Eu consigo, não vou mais chorar.
Tenho uma bruxa pra convencer.
Sinto meus cabelos balançando com a brisa da noite e estremeço de frio, me abraçando, eu passo os olhos pelas centenas de estrelas, sem conseguir encontrar a lua, escondida atrás das folhas e árvores compridas. Respiro fundo, fechando os olhos mais uma vez, e me sinto um pouco melhor. Ao menos não vou chorar. Por enquanto.
Caminho em direção onde meus ouvidos me dizem que o barulho está vindo, a música e as vozes aumentando, ouço risadas, e de repente, não me vejo mais cercada por cabanas de pano mas por centenas de pessoas, de cores e tamanhos diversos, os mais coloridos cabelos e as mais estranhas tatuagens, rostos coberto por brincos, tinta e até penas, alguns em armadura e outros quase totalmente nus.Quase chego a conclusão de que são selvagens quando percebo o que estão fazendo. No centro uma fogueira larga, três porcos assando, ao lado uma fila de crianças, mulheres e homens, com pratos vazios, indo até onde cinco homens distribuem o jantar.
Ao redor da fogueira, em troncos que servem de bancos, pessoas comem e conversam, mulheres dançam, homens tocam os mais diversos instrumentos e crianças correm de um lado para o outro.
Percebo que algumas pessoas se escondem nos galhos grossos das árvores mais altas, os vigias.
Ao mesmo tempo que me passam a impressão de serem selvagens sem modos, percebo que não é nada disso. São muito bem organizados; enquanto uns distribuem a comida, outros fazem as rondas, armados e seguros em armaduras de bronze e metal, outros comem e se divertem, enquanto os vigias observam tudo das árvores.
O aroma da comida chega até mim com a brisa fria da noite, e sinto meu estômago roncar, prendo meu cabelo em um coque e vou até uma das mulheres, tatuada e com os cabelos arroxeados, ela mal me nota quando se levanta para se juntar a roda de dança.
Sinto alguém me observando, e hesito.
Passo os olhos pelas dezenas de pessoas ao meu redor, que parecem não me notar ou se importar com a minha presença, mesmo depois de terem nos atacado, e meus olhos se encontram com os castanhos dela, brilhando de forma curiosa com a luz das chamas, Suri me olha de forma intensa, e por alguns segundos só ficamos ali, nos encarando, as pessoas ao seu redor tentam chamar sua atenção, mas ela continua a me olhar, e eu não consigo tirar meus olhos dos seus, sua postura cheia de segurança, agora com um casaco de couro marrom sobre a blusa branca, que ela teima deixar meio aberta, a curva dos seios atiçando minha curiosidade.
As pessoas ao seu redor seguem seu olhar intenso até mim, e aos poucos, a conversa morre, todos os olhos em mim, sinto minhas bochechas se esquentando mas me obrigo a manter nosso contato visual, o jeito que ela me encara, como se fossemos as únicas pessoas aqui, faz meu coração pular, um sentimento estranho no estômago.
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Um Clichê de Fadas (EM REVISÃO)
FantasyEssa é uma daquelas histórias de clichês de fantasia onde a bruxa má sequestra a bela princesa, e a prende em uma torre no meio do nada, guardada por um monstruoso e poderoso dragão. Um daqueles clichês onde o cavaleiro sai em busca da princesa, en...