A E X P L O S Ã O

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A viagem estava tranquila, o ônibus como sempre, cheio. Marcus não pode ficar perto da janela pois, um cadeirante subiu no ônibus e Marcus deu o seu lugar, o ônibus, lentamente passava pelos bairros e ia se distanciando da escola. Entretanto, Marcus estava estressado, recebeu uma ligação de seu pai, e novamente discutiu com ele. Os mesmo assuntos de sempre, o mesmo sentimento de raiva, a mesma tristeza por saber que seu pai não está nem aí para ele. Todas esses sentimentos acabavam, na mesma coisa, uma briga e no fim, Marcus desligando o celular.
- merda, acabei falando muito alto.
De fato, todos no ônibus estavam o encarando, com uma cara brava de quem estava voltando de uma segunda cansativa e ainda teria de aturar gritos de um adolescente.
Logo o ônibus voltou ao normal, todas as pessoas conversando ou, mexendo no celular, completamente desligadas do mundo, Marcus não gostava muito de mexer no celular dentro do ônibus,  ele sentia ânsia de vômito, então o jeito foi passear os olhos pelo ônibus buscando se distrair com alguma coisa. De repente, Marcus observa no outro canto do ônibus uma cena infelizmente comum mas perturbadora, um homem assediando uma mulher qualquer no ônibus, uma mulher que estava ali apenas para voltar a casa e é obrigada a passar por isso. Marcus começa se revoltar, ele simplesmente não sabe o que fazer, uma mulher está claramente sendo abusada por um homem na frente de todos mas ele parece ser o único a ver ou o pior, a ligar para isso. Marcus olha ao seu redor para ver se não encontra nenhum outro rosto olhando para a mesma direção, e realmente, Marcus é o único a ver aquela Situação. Após uns 5 segundos olhando a cena imaginando o que fazer, algo ainda mais perturbador acontece, a mulher aflita e quase chorando olha para Marcus, ela o encara com os olhos estáticos, e seus lábios produzem a seguinte palavra:
- me ajude!
Marcus nunca foi um profissional em leitura labial, mas nem precisava, a situação falava por si, Marcus não aguentava mais ver o homem descer cada vez mais as mãos, e com toda a força de sua garganta ele gritou:
- largue a mulher agora!
O homem se assustou, pela primeira vez Marcus pode ver o seu rosto, e o homem claramente estava drogado. Ainda assim, o homem continuou o ato.
Todos no ônibus já sabiam o que estavam acontecendo e começaram a xingar o homem, que sequer dava um sinal de que ia recuar.
- eu disse pra você largar a mulher agora!
Nesse momento, o homem o encarou com um olhar frio, e proferiu as seguintes palavras:
- é melhor você rever suas palavras moleque.
O motorista do ônibus então tomou a pior providência possível:
- desçam do ônibus, vocês estão atrapalhando as pessoas!
- motorista, essa mulher está sendo assediada, você realmente vai ignorar?
- eu já mandei descerem!
Marcus indignado, desce do ônibus, agora ainda mais bravo e indignado. Mas ele não está sozinho, o homem que assediou a mulher desceu também, e com um olhar frio, começa a perseguir Marcus.
Já se passou uns 10 minutos desde que desceu do ônibus e Marcus está literalmente tremendo, ele está com muito medo do que acontecerá com ele, suas pernas estão trêmulas e ele está quase chorando de tensão. Nenhum estabelecimento está mais aberto, Marcus se pergunta o porquê tudo está fechado? O homem cada vez mais se aproxima e de vez em quando solta algumas palavras como:
- você ainda não percebeu? Você está muito encrencado moleque, é melhor ir se preparando porque hoje você está em minhas mãos.
O estômago de Marcus se contorce, não mais pela fome, mas sim pelo medo, sim, Marcus sente muito medo nesse momento.
Sem pensar aonde está indo, Marcus apenas entre em um beco e, descobre que ele é sem saída, uma gota de suor desce da testa de Marcus, ele se pergunta como são Paulo tem tão poucos becos e ele consegue realizar a proeza de entrar em um? Ainda mais sem saída.
- então chegamos num lugar fechado e que ninguém passa. Bem, você não devia ter se metido garoto!
Marcus mal consegue falar, ele apenas treme e sente seu corpo dormente.
O homem o joga na parede e, lhe acerta com​ um soco na mandíbula certeiro. Marcus cai no chão, e começa a levar vários chutes na barriga e nas costas. O homem bate cada vez mais forte...
Enquanto leva diversos golpes e cospe sangue, Marcus faz um tour em sua vida, ele se lembra dos momentos inesquecíveis como, a separação dos pais, a descoberta dos problemas de sua avó, a surra que levou de seus colegas de classe, a pressão e opressão de seus parentes, o desgosto com o qual seu pai lhe tratava. Todas as humilhações que ele viu sua mãe passar por ser auxiliar de limpeza, todas as mágoas que sua avó passou por julgamentos de sua própria família, isso estava deixando Marcus louco.
A pergunta que não quer calar, porquê?
Porque Marcus está tolerando essa surra sem sequer se mexer? Porque ele nunca fez nada quando sua mãe era mal tratada pelos seus chefes, quando ele sofria com as piadas de Pedro? Marcus era tão inofensivo assim? A ponto de um verme pervertido estar lhe dando uma surra e ele sequer se mexer? Não. Marcus não é isso, ele definitivamente não quer ser isso, ele não quer mais ser o garoto invisível que ninguém liga quando algo acontece. Ele... Ele não quer ser mais o mesmo...
- não!
O homem para de lhe bater por um segundo.
- o que falou?
- você... Obrigado por ter me feito chegar a esse ponto, como recompensa, morra!
Marcus se levanta e em um movimento só, joga o corpo do homem na parede, ele joga de uma vez a barriga do homem contra seu joelho em um golpe tão forte fazendo o homem vomitar!
- ainda não é o suficiente!
Com o corpo do homem caído no chão se contorcendo de dor, Marcus se abaixa, e de joelhos encima das pernas do homem começa a desferir socos no rosto do homem caído, socos retos, indo diretamente no meio do rosto, cada um mais forte que o outro.
O rosto de Marcus, já está completamente diferente, sua expressão não é mais de uma pessoa comum, seu rosto está cheio de sangue vomitado do homem, que apenas desistiu da vida, os socos de Marcus não diminuem o ritmo mesmo após o rosto do homem já estar completamente deformado, a pupila dilatada indica o quão sádico, Marcus está, as lágrimas que correm do rosto de Marcus neste momento não são de tristeza, mas sim de felicidade, ele finalmente, está livre!
O vento frio bate no rosto de Marcus e ele sente o celular vibrar diversas vezes, provavelmente sua mãe lhe perguntando onde ele está, ou David perguntando se chegou bem, ou Abner perguntando como foi o dia. Marcus permanece estático, olhando no fundo dos olhos do homem já sem vida em sua frente. Ele não sente nada nesse momento além de satisfação. Ele nunca esteve tão satisfeito por fazer algo.
Depois de um tempo, alguém abre a janela de uma das casas onde o beco fica, para ver o que aconteceu, completamente horrorizada, ela sai correndo e liga pra polícia, não demora muito e a polícia chega...
O que acontecerá com Marcus? Qual será a reação das pessoas ao saberem disso? Apenas aguarde o próximo capítulo de trapstar.
Até breve...

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