[Cap. 1] Abismo de Águas Misteriosas

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Tudo estava em perfeito silêncio a não ser pelo quase inaudível som da garoa fina que caia contínua lá fora. O dia preguiçosamente despertava, singelo e mau humorado. Mas dentro daquele quarto, escuro e úmido, a menina que estava deitada na grande cama de madeira pinho com lindos entalhes vitorianos, aquecida por aqueles lençóis cor de vinho no centro do quarto, ainda estava presa no mundo dos sonhos... ou será que eram dos pesadelos?

"Eu caia, caia, e caia novamente naquela escuridão. Não sabia como havia parado ali: em um instante eu estava por sobre um céu azul que me acolhia, e no outro eu estava a despencar por um abismo negro assustador. Onde esse imenso buraco iria dar? Será que eu iria morrer ao chegar ao seu fim? Estremeci com as perguntas rondando a minha cabeça.
O pijama de algodão branco balançava delicadamente no ar — era um tecido muito fino, e eu estava morrendo de frio por conta do vento que cortava meu corpo.

A queda continuou, e curiosamente vários pontos brilhantes começaram a se iluminar no fundo do abismo, quanto mais eu me aproximava do fundo, mais eu podia ver o brilho. Se assemelhava a um céu estrelado... era muito bonito. Foi questão de segundos até eu perceber que aquele brilho na verdade era o reflexo da luz nas águas do mar. Conforme o meu ser se aproximava mais e mais daquele buraco negro, a queda se encurtava e logo eu chegaria ao meu destino final — nos céus, buracos negros absorviam espaçonaves para além do desconhecido e davam início a novas aventuras. Me pergunto o que aconteceria no fundo do mar.

Inspirei fundo e fechei os olhos com força, logo o meu corpo chocou-se violentamente com a água e, eu afundei. Segundos depois, abri meus olhos para aquele azul, o ar ainda nos pulmões. Me surpreendi ao ver uma barreira de corais coloridos. Olhei ao redor admirada, em pouco tempo alguns peixinhos travessos se aproximaram e começaram a passear em volta de mim. Por alguns instantes eu sorri, brincando com eles, mas, quando decidi voltar minha atenção novamente para o coral, percebi que ele não estava mais ali. Agora eu me encontrava em mar aberto e não havia mais vestígios daquele paraíso aquático... Só se via um azul sem fim para qualquer direção que se olhasse.

Vi algo se mexer naquelas águas turvas, e quando dei por mim, um peixe gigante surgiu ao meu lado. Ele tinha escamas acizentadas e em sua cabeça havia uma espécie de "chifre", onde na ponta do mesmo, havia uma luz. Parecia até uma espécie de lanterna que ele levava consigo para iluminar o seu caminho, enfim, eu nunca tinha visto algo assim antes.
O peixe continuou nadando calmamente com aquela boca enfileirada de dentes afiados e assustadores, só depois notei que ele caçava meus pobres peixinhos coloridos. Nessa distração, não percebi que o oxigênio tinha começado a desaparecer. Tentei chegar a superfície mas, não sei, simplesmente não conseguia, parecia que algo me puxava para baixo e, quando vi, realmente havia algo me prendendo: algas estavam sobre os meus pés, me puxando mais e mais para o fundo. Me desesperei, eu não queria morrer! Onde estava minha mãe?! Meu Pai?! Eu queria sair dali!

— Fique comigo — De repente ouvi uma voz sussurrar. —, prometo que a gente vai se divertir bastante! — Continuou, rindo. — Fique comigo!

E eu fui puxada cada vez mais para o fundo. "Não! Por favor, por favor!" pedia mentalmente enquanto tentava inutilmente nadar para a superfície.

— Fique comigo..."

— Ib? Ib, meu amor, acorde!

Uma voz doce e familiar se sobrepôs sobre os ouvidos da menina. Ib abriu os olhos assustada e se sentou na cama, sua respiração estava desregular e seu coração batia forte. Procurando ao redor, seus olhos castanho-avermelhados se depararam com outros dois pares da mesma cor.

— Mãe! — Chamou, abraçando-a apressadamente.

— Teve um pesadelo? — A mulher perguntou preocupada.

[Ib] A História Nunca Contada Antes (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora