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Ele perde o controle de sua corrida, ao olhar para trás, sua mente se depara com outra dor aguda que percorre completamente seu sistema nervoso, ele não percebeu, a dor sobrecarregou seus sentidos e suas endorfinas. Mas há um muro no fim da esquina que dobrou e ele foi com toda sua velocidade e tração em seu encalço. Sua cabeça gira e engana seus sentidos ao mostrar para seus olhos as duplicatas de cada um dos três homens se aproximando, sente o gosto de metálico em sua boca e seus ouvidos produzem ecos sonoros que se dissipam de pouco em pouco.
— Solte essa arma agora — Um dos homens grita com toda sua fúria — Mãos na cabeça.
James solta a chave de fenda e levanta suas mãos para o alto.
— O que fazemos agora? — Diz o outro segurança.
— Não incomoda a patroa, leve-o direto para a delegacia.
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James perde contato com a realidade e sua noção de espaço e tempo, já faz quantas horas que foi levado da casa da Sra McGrant? Não há como saber, sua cabeça pulsa incessantemente e o calo que jaz adjacente a seu crânio fica feliz em relembrá-lo do que aconteceu. Em seus últimos momentos de lucidez, bem antes de estar algemado e ser transportado em um carro de polícia, lembra-se de um dos homens acerta-lo com a coronha da pistola, lembra-se de sua visão ficar tão borrada e desvanecida que por alguns segundos achou ter ficado cego e sentir sua cabeça ser arremessada pela gravidade até o chão, a frieza incalculável da neve em suas bochechas quentes que lutam para manter sua temperatura corporal. O familiar cheiro de terra molhada é sentido por apenas alguns instantes para sua felicidade, já não aguenta mais o cheiro dessa região.
Após seus sentidos voltarem para si, já estava dentro de um carro com sirene de polícia algemado, já havia dois homens conversando com tons de voz tão altos que por alguns instantes ficou feliz de ter perdido uma grande parte da conversa. Quando acordou, somente ouviu o fim de uma conversa, mas o policial sentado no banco do caroneiro mencionou algo sobre o livro que Clarice levou consigo.
Ao ouvir essas palavras, James imediatamente rangeu seus dentes e fechou seus olhos, todas suas fibras em seu ser esperam que Clarice tenha conseguido escapar dessa situação. No fundo ele sempre soube o resultado que sua tentativa desesperada teria, mas pelo bem dela, teve que fazer, durante esse momento, ele esqueceu de seu objetivo, esqueceu que veio salvar Joshua e pensou em outra pessoa além de si mesmo.
Será isso algo bom? Sua mente ainda não consegue discernir entre o certo e o errado, ela só sabe mandar sinais de dor a sua cabeça e seus pensamentos só se direcionam para Joshua e aquele livro.
"Qual é a moral daquele livro? Aquilo na capa, era pele humana" James olha para os policiais gesticularem uns para os outros.
— Finalmente acordou? Seu porco — O policial sentado no banco de caroneiro solta uma risada tão alta que James semicerra seus olhos.
— Você é maluco de tentar roubar a Sra McGrant — Responde o motorista em conjunto a risada do amigo — Ela é nossa maior benfeitora da cidade, uma mulher integra, ao contrário de você, seu lixo.
James permanece em silêncio e olha pela janela, já não está mais nos bairros luxuosos da cidade, retornou à velha vista macabra de antes.
— Gato comeu sua língua é? — O policial caroneiro se vira para James — Não se preocupe, temos uma cela bem quentinha esperando por você.
Os dois policiais dão risadas ao mesmo tempo produzindo sons uniformes de homens acima do peso acima de seus quarenta anos, mas James não consegue parar de pensar em Joshua e aquele sonho, pensar nisso faz o calo em sua cabeça pulsar como se tivesse vida própria. Ele viu o mesmo tornado de seus sonhos no quadro da Sra McGrant e o que aquele livro tem a ver com tudo isso? São tantas perguntas que ele gostaria de ter a resposta, mas parece que terá tempo o suficiente para refletir sobre isso agora.
A viagem dura alguns minutos e finalmente o carro para, James é retirado de dentro da viatura e escoltado pelos dois policiais para dentro da delegacia, lá, ele encontra o mesmo policial no qual conversou quando chegou na cidade. James olha fixamente para ele e o homem retribui o olhar, suas pálpebras dão um sorriso e ele se aproxima.
— Walker, parece que você veio por outra razão para a cidade — O policial cruza os braços — Achei que estava procurando seu irmão.
— Ainda estou — James olha para o policial.
— Quais foram as acusações policiais?
— Aparentemente ele estava tentando roubar algo na propriedade dos McGrant, Sargento Sawyer — Os policiais dão risada — Os seguranças o pegaram, um deles acertou esse vagabundo na perna.
— Por que você fez isso Walker? — Sawyer olha para James.
— Por quê? — James deixa uma risada escapar de sua boca — Porque meu irmão desapareceu nessa maldita cidade e ninguém fez nada a respeito.
— Vocês da cidade grande não entendem como as coisas funcionam por aqui garoto — Na nossa cidade não há desaparecimentos a mais de dez anos.
— Não é o que eu ouvi dos policiais na ponte.
— Que ponte?
— A ponte principal para Westbury — James sorri — Os policiais me disseram que há um serial killer solto nessas redondezas e você quer me dizer que ninguém desaparece aqui?
— Agora você me escute e escute bem Walker — Sawyer se aproxima de James com seus ossos da mandíbula a vista sob a pele — Eu preservei a paz nessa cidade por cinco anos, cinco anos de paz ininterrupta e eu não vou deixar que um monte de merda como você estrague isso.
— VAI SE FODER — A voz de James explode na sala.
— Levem-no para a cela —Sawyer empurra James.
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Durante seu percurso manco, passou pelos corredores e comprovou o que o sargento Sawyer disse, a maioria das celas está vazias e as que não estão possuem homens com as cabeças pra baixo como se tivessem sido drenados de sua energia vital.
O local é surpreendentemente limpo, o piso reflete a luz no chão e há um cheiro onipresente de café por todo lugar, as celas dão uma impressão de fortitude, o tipo de fortitude que prova para alguém comum como ele que não há escapatória. James é acompanhado pelo guarda até sua cela, a última cela do corredor, a alguns metros da mesa do mesmo que o observa com olhos arregalados como olhos de falcão.
O guarda é pelo menos duas vezes maior que ele, James sempre foi visto em seu tempo militar como alguém que ostenta um bom porte físico, mas esse homem faz com que ele se pareça uma criança em comparação, mesmo que sua barriga seja três vezes maior que a de James, seu torso é robusto como um tronco de árvore assim como seus braços potentes de gorila. Seus olhos acompanham cada passo de James de forma robótica e mecânica, o guarda sai para fora da cela e puxa um molho de chaves.
— É melhor não tentar nada engraçado, seu vagabundo — O guarda fecha e tranca a grade da cela.
James observa o guarda se sentar em sua cadeira e colocar seus pés para cima da mesa de forma presunçosa, mesmo a alguns metros, pode ver o sorriso caricato de zombaria em seu rosto.
"Agora não há nada que eu possa fazer, me desculpe Josh. Achei que poderia fazer diferente dessa vez" James anda para frente e para trás, cerra seu punho e bate na parede com força o suficiente para seus ossos sentirem o impacto.
— Silêncio aí seu verme — Diz o policial ao longe.
James olha para sua cela e é exatamente como ele esperava, há uma latrina surpreendentemente limpa que faz sua sobrancelha arquear com curiosidade, edredons e colchão tão bem arrumados que humilham os hotéis cujo ele dormia frequentemente, somente o cheiro de plástico e café velho incomoda sua estadia, mas para quem vai reclamar? "Isso aqui é melhor do que muitas camas que já dormi. Me pergunto se está tudo bem com Clarice, ela conseguiu o que queria e eu... Eu sou um idiota que não pensa direito, mas acho que fiz a escolha certa, essa vez. O que você acha Josh?" Ele se pergunta.
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Westbury Hill
HorrorJames Walker é um homem atormentado pela morte de seu irmão falecido a cinco anos, porém, misteriosamente recebe uma carta do mesmo dizendo que está vivo e se localiza em uma cidade chamada Westbury Hill. Ao chegar na cidade, descobre que o local e...