Olhando impaciente para o relógio com os dedos batucando uma música irritante na madeira velha da mesa do escritório onde trabalha, Pablo levanta da cadeira de tecido surrado ao mesmo tempo que soa o sinal. Dezoito horas e três minutos.
As dezoito e doze Pablo chega na parada de número apagado em frente ao escritório.
Dezoito e vinte e quatro e o céu permanece cinza.
Dezoito e trinta e três Pablo conhece Berenice ao mesmo tempo em que o ônibus corta a Avenida.
Percebe um leve sorriso esboçar no rosto da menina ao olhar para o que tem nas mãos — não consegue ver porque a cabeça de uma criança está entre as poltronas. Mas aquele sorriso faz pela primeira vez naquele dia cinza de horas intermináveis, Pablo sorrir. Dezoito e quarenta e dois, Berenice segue sorrindo, Pablo segue observando entre poltronas e crianças.
Dezenove e vinte e um o balanço do veículo e o trânsito lento causam bocejos regulares em Pablo, que já pisca as pálpebras abraçado à mochila. Não consegue, mesmo que quisesse desviar o olhar. Dezenove e trinta e três é vencido pelo cansaço. Os olhos repousam contra sua vontade.
Dezenove e cinquenta e seis uma freada brusca do motorista desperta Pablo que no impulso abraça a mochila. Com os olhos piscantes procura enquadrar o olhar entre bancos e crianças. Berenice já não mais está.
Vinte e treze Pablo desce na parada quarenta e três na esquina de sua casa.
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Efêmero
PoetryPablo conhece Berenice ao mesmo tempo em que o ônibus corta a avenida.