6 - Carta 2

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        Em dias como esse você iluminava meu caminho. Me acalmava, às vezes sem saber que o fazia, apenas conversar com você fazia meu dia valer a pena. Mas agora eu me sinto um pouco perdido. Eu estraguei as coisas com a Mia e, por mais que tenha achado necessário o que fiz, eu já sinto falta dela. E sei que vou sentir mais, porque ela não vai me perdoar, não tão cedo. Eu queria poder falar com você sobre isso, queria poder te abraçar e sentir que por um momento nada dependia de mim, que tudo que importava era nós dois... mas sinto que não terei isso novamente.
        Eu me pergunto até onde essas cartas me ajudam, pois quanto mais eu escrevo, mais sinto sua falta. Talvez colocar pra fora tudo que eu queria te dizer não seja uma boa estratégia para esquecer de você... mas minha mãe também nunca disse que estava tentando me ajudar a te esquecer.  Agora que comecei vou continuar.
        Meus instintos diários se dividem em dois: um é ficar no meu quarto sozinho o maior tempo possível, o outro é ir acampar em qualquer montanha sem ninguém e tentar colocar minha cabeça no lugar. Tenho a impressão de estar em um escorregador e cada vez eu vou mais pra baixo, aparentemente ele não tem fim. Você era meu ponto de parada, minha calma, era quem me ajudava a me manter em pé. Mas agora não te tenho mais e estou caindo e não sei até quando irei cair.
        Eu prometi pra Hilary que iria sair pra caminhar, mas eu não quero sair, eu não quero ver ninguém, eu quero ficar no meu quarto. Pensando em você, em tudo que aconteceu, em tudo que está acontecendo. Em tudo, e em nada. Eu já me cansei de tentar ficar entre as pessoas, eu tô cansado, que graça tem um grupo de conversa que você não esteja? Ou um que você esteja mas a gente não troque uma palavra? Eu não sei qual dos dois é pior.
        Apesar de tudo, apesar de não querer continuar, eu preciso. E eu vou. Só não sei até quando. Seria pedir muito pra tudo voltar ao normal? Voltar aos dias que eu ainda não tinha estragado a sua vida, aos dias que nos víamos todos os dias na escola, aos dias que você ficava de cara fechada simplesmente porquê a Sarah apareceu. Seria pedir muito?
        Me pergunto como as coisas seriam se eu não tivesse naquele ônibus aquele dia, se o Bruce não tivesse deixado uma bola cair na sua cabeça, se a bola de tênis não tivesse ido parar no seu pé enquanto o Jimmy jogava ou se a Hilary não tivesse te pedido pra procurar o Ryan e você não tivesse ficado toda sem jeito ao encontrá-lo sem camisa. Me pergunto como minha vida seria, mas principalmente como a sua seria. Provavelmente você estaria bem melhor, e eu sinto muito por isso.

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