Capítulo 13

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Aline esteve pouco tempo no hospital. Os agentes do carro de patrulha chegaram a tempo de evitar o abuso dos bandidos, que haviam sido detidos.

Além de ter recebido pontos de sutura na boca, Frank apresentava cortes e hematomas na cara. Mas quando os jovens abandonaram o hospital no carro da Polícia era claro que os agentes haviam chamado os seus progenitores e nenhum dos dois recuperaria a liberdade. A aventura chegara ao fim.

Os pais de Aline chegaram de avião de Nova Iorque na manhã seguinte. John Shepperd olhou a filha de forma imperscrutável enquanto a senhora Shepperd a abraçava. A jovem percebeu, então, que estavam a acontecer coisas estranhas. Em primeiro lugar, o senhor Shepperd retirou a queixa, de forma que puderam regressar de imediato a casa. Mais, e isto era o mais curioso, retiraram a queixa contra Frank pouco depois, apresentou-se na esquadra o senhor Ferri, que acabava de chegar do aeroporto e viera buscar o filho. Quando via as ligaduras na sua cara, abraçou-o. A rapariga não podia deixar de se perguntar: quem avisara o senhor Ferri?

Em nova Iorque, os amigos de Aline ligaram para saber como ela se encontrava. A conversa com Darryl foi comovente. A sua interpretação dos acontecimentos era que os Ferri e os Shepperd tinham mantido comunicação, pela qual os primeiros haviam descoberto que os Shepperd não eram hienas sanguinárias, e estes compreenderam que os Ferri não eram menos honrados do que eles.

Aline ouviu o amigo com espanto. Se o que Darryl dizia era verdade, havia alguma esperança. Desde a saída da esquadra, a rapariga não dirigira a palavra aos pais e limitara-se a responder às perguntas com monossílabos. Mas ainda ficavam muitas dúvidas por esclarecer: quem avisara os Ferri? A resposta de Darryl foi contundente: o próprio John Shepperd fora a casa dos outros comunicar que os filhos haviam sido descobertos em Los Angeles, sãos e salvos.

Ao chegar a casa, Aline reencontrou o violino e o prazer que a música lhe dava. Estava a tocar quando Caroline entrou na sala de música. Às tentativas da amiga, que procurava restabelecer os laços quebrados, a jovem respondia com monossílabos.

Não podes perdoar-me, pois não? Não conseguiste esquecer... - disse Caroline, angustiada.

Esquecer... sim, Caroline, esqueci tudo excepto uma coisa. Que quando Frank e eu precisávamos de ajuda, encontrámo-la em desconhecidos ou em amigos novos que fomos fazendo pelo caminho.

Eu gosto de ti - disse a amiga. - Que posso eu fazer?  Também aprendi alguma coisadurante a tua ausência. Aprendi que a traição revela o limite da nossa própria capacidade de amar os outros. E eu quero lutar pela nossa amizade e conhecer Frank. Se gosto de ti como amiga e se tu o amas, então eu... O importante é que ele e eu nos descubramos, pois temos em comum o facto de gostarmos de ti, cada um à sua maneira. Percebes o que quero dizer?

Sim - admitiu ALine. - Percebo, sim. Talvez seja suficiente para comerçarmos de novo.

Naquela noite, John Shepperd disse à filha que precisava de falar com ela e levou-a para o seu gabinete.

Temos de falar - começou o pai. - Presumo que terás compreendido a minha vontade de negociar. Retirei a queixa e não quero prejudicar aquele rapaz.

Um pouco tarde, não achas?

Sim - admitiu o pai. - Nunca me perdoarás?

Não sei - respondeu a jovem.

Filha, nunca quis magoar-te. Quando vi o rosto do rapaz deformado pelos golpes que sofreu para tentar defender-te... Sinto-me culpado, nunca quis magoar-te. Mas tínhamos grandes planos para ti.

Pena que não me tenham consultado.

Não sejas cruel. A minha atitude é conciliadora. Conheci a família Ferri e parece-me excelente.

Ainda bem.

Filha, não queremos perder-te outra vez, se bem, que esperemos que tu mesma reconsideres a tua história impossível com esse rapaz...

Papá, estou apaixonada por Frank e disposta a continuar a seu lado. Uma vez, proibiste-me e fugi de casa. Se voltares a fazê-lo, fugirei de novo. E assim até ser maior e então não terás maneira de me fazer voltar para casa. Por isso, nunca mais tentem nada contra Frank ou contra mim. Nunca mais.

No dia seguinte, quando se encontraram, Frank e Aline voltaram a perder-se pelas ruas, abraçando-se e beijando-se. Aline falou da festa de fim de curso e Frank do emprego que o pai lhe arranjara. Eufórica, a jovem abraçou-o. Ambos se sentiam confiantes de que as coisas seriam mais fáceis agora, se bem que se mantivesse o problema de onde poderiam encontrar-se a sós. Pensaram em Darryl e concordaram ir visitá-lo. Frank afirmou que a única solução para os seus problemas seria casarem o mais depressa possível.

Há dias que Aline andava numa azáfama, trocando opiniões com Caroline, como nos velhos tempos. A entrega de diplomas foi emocionante. Quando chegou o momento de se dirigir à sala onde decorreria a festa, Aline entrou pelo braço do pai. Sentia os olhos cravados em si. Era a heroína da noite, a ousada adolescente que atrevera a fugir com o seu apaixonado. Aline lamentou que Frank não pudesse partilhar aquele momento. No dia seguinte, contar-lhe-ia os pormenores da festa. Casar com Frank... Como reagiriam os seus pais e os do jovem?

Aline olhou em volta, buscando rostos conhecidos e... mas... aquela não era a senhora Ferri? Que fazia ali? Era ela, sim. E conversava com a sua própria mãe!

Aline sentiu-se desconcertada. Voltou-se para o pai e percebeu que este a observava com ternura. O senhor Ferri aproximou-se para lhe dar os parabéns. E foi então que viu Frank.

O rapaz sorria, divertido. Também devia ser cúmplice daquela surpresa, por isso se calara quando ela falara na festa. A jovem dirigiu-se-lhe e, quando ia cumprimentá-lo, a música começou a soar.

Aline olhou o pai, a mãe, o senhor e a senhora Ferri, e depois Frank. Estendeu-lhe a mão. Frank pegou nela e começaram a dançar.

Um murmúrio de reprovação sacudiu a sala. Alguns pares abandonaram a pista, e a seguir outros, de forma que, de súbito, Aline e Frank dançavam sozinhos. Então, sucedeu algo imprevisível: o senhor Shepperd tomou a cintura da mulher e começou a dançar junto deles. Imediatamente, foram imitados pelo senhor e pela senhora Ferri, seguidos de Darryl e Ginnie. Caroline pegou na mão do seu companheiro e juntou-se-lhes, e depois Márcia e o seu par. Todos foram regressando à pista. Aline abraçou-se a Frank e apenas conseguiu sussurrar:

Para sempre, para sempre...


Fuga para o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora