Você Dói

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O dia em que você chegou foi o dia mais feliz da minha vida, à meia noite de qualquer dia antes das folhas secas de outono estrangeiro. Deixou meu coração em pura euforia, entregando carinho a mim como se fosse algo que nunca foi difícil de conseguir.

Carisma, gentileza e poesia. Você era assim nos meus olhos, e neles só havia paixão incerta e um coração acelerado quando você me aparecia repentinamente, sempre escolhendo quando ia e quando voltava.

Me acostumei com teu voo de pássaro.

Não, não era o de um pássaro.

Tu eras um morcego que eu espreitava o entardecer para me agraciar com a sua forma peculiar de pensar, com o seu ressoar maravilhoso. A noite era sua casa, assim como o dia lhe afugentava; o teu cômodo na escuridão era como o meu quando o primeiro raio de sol vinha, e o teu desprezo à manhã era como eu me escondia da noite, esperando o sol vir me buscar da minha tormenta.

Você tentou me ensinar a não esperar pelo sol, me agraciar com o brilho suave e lunar, mas assim como teus olhos estavam atentos e aquele era seu lar, o dia era minha casa, a minha gratidão de cada dia, a minha saudade de cada noite.

Eu não podia sacrificar o que valia pra mim por você.

O sol poderia acompanhar meus passos todas as vezes, mas a lua, mesmo que fôssemos mais distantes além do céu, ela sabia dos meus segredos, ela sabia das sombras que haviam por trás do meu corpo. Ela não te contou sobre elas, eu também não contei.

Não precisava saber o que havia pelas minhas costas, vagueando e me puxando para baixo, não quando você com seu cativante bater de asas voltava para mim, e me contava todos os seus segredos que ainda guardo a sete chaves. Mesmo que você tenha voado, e sempre voltasse quando predadores lhe perseguiam, os mesmos que eu me sacrifiquei e também permiti que me perseguissem. Tudo apenas para te proteger.

Não foi o suficiente, não é, meu mundo mágico?

Não foi o suficiente te amar, me entregar, defender, cuidar. Não foi o suficiente me oferecer quando sua mente não se acalentava, não foi o suficiente te mostrar a beleza em mim, jamais seria suficiente quando eu ajoelhei-me e mostrei devoção a você.

Era uma margarida, morcego de frutas. Nós havíamos plantado uma margarida.

Ela me foi especialmente importante para mim, porque eu estava a vendo crescer com carinho, estava a regando com cuidando e vendo se suas raízes estavam crescendo, todas as vezes possíveis que você poderia imaginar.

Eu estava tentando a manter viva antes do inverno, tentando a manter forte para que pudesse permanecer bela entre os frios, que pudesse se destacar entre os flocos de neve e os lençóis brancos acobertando a grama.

Você sabe que eu não poderia cuidar da nossa flor sem você, não é?

Te pedi água, fingiu que meu grito era nada.

Te pedi terra, você realmente me conhecia?

Te pedi amor.

Você me deixou ir.

Um processo repetitivo deveria manter meu ser acostumado com decepções. Todavia, depois que o broto de margarida morreu, nem em meus olhos você olhou e me permitiu ir para qualquer lugar dessa imensidão.

Se você tivesse dito que me queria por perto, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

De toda forma, meu coração está chovendo por você. Há uma ventania forte que levanta a neblina, os céus clareiam com os relâmpagos e os meus gritos de tristeza são tão altos quanto os trovões. A chuve é grossa e consecutiva, não há quem pare de encharcar isto tudo.

E te ver voar para longe de mim, sem promessas de volta, sem bis algum me fez vazia, injustiçada, usada; como se porque os predadores te fizeram cicatrizes, agora meus sentimentos fossem a sua caça, que então pudesse perfurar com seus caninos, se nutrir e deixar.

Você dói mais do que meu primeiro amor.

Você dói mais que roubar sementes de girassol.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 18, 2019 ⏰

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