"Capítulo 9"

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-Lucas, para! -Digo e ele parece não me ouvir

Com esforço consigo empurrá-lo e sair da cama, pego minha blusa e a visto rapidamente, estou assustada com essa atitude dele.

-Eu te falei que ainda não estou preparada, Lucas.

- Qual é Kate, até quando você vai continuar com isso? -Lucas se levanta e vai até a janela, com raiva.

-Vai com calma Lucas, você desrespeitou meus limites e eu já tinha falado sobre isso com você antes.- Me aproximo dele e ele me empurra com força, caio e bato o ombro na cômoda e sinto uma dor incômoda percorrê-lo.

- Não vem com essa de limites Katherine, você só está se fazendo de difícil! -Ele grita.

Sinto lágrimas quentes percorrerem meu rosto e me levanto depressa, pronta para ir embora.

Nesse momento Lucas se volta para mim e passa a mão pelos cabelos:

-Kate... Eu... Eu não sei o que deu em mim, me perdoa, me perdoa.-Ele tenta se aproximar, mas eu recuo rapidamente.

-Sai de perto de mim, seu louco! Você me machucou! -Grito.

- Não foi de propósito Kate, eu juro meu amor.-Lucas fala com desespero na voz.

- Você me empurrou Lucas, meu ombro está doendo muito. -Choro.

- Você precisa me desculpar meu amor, me desculpa, eu estava de cabeça quente, meu pai tirou o dia para me humilhar e você sabe como isso me deixa, não era e nunca vai ser minha intenção te machucar, me desculpa linda.-Ele me abraça e eu choro em seu ombro.

-Me solta, eu quero ir embora.- Digo e pego o celular para chamar um táxi e percebo que a porcaria descarregou.

- Eu te levo em casa. -Lucas diz.

- Não precisa, vou de Uber. -Digo, já saindo quarto a fora.

Lucas me segue e pega meu celular.

-Tem certeza? -Ele diz apontando o celular descarregado. Pego meu celular e desço as escadas rapidamente, com Lucas no meu encalço, ainda bem que não parece ter mais ninguém em casa, além de nós.

- Então me empresta o seu celular para eu chamar um carro. Ou melhor, vou a pé mesmo.

-Kate... Amor, para com isso, eu faço questão de te levar em casa, eu não vou nem tocar em você se você não quiser. E também quero ver sua mãe e seus irmãos, estou com saudade deles.

- Tá bom, Lucas. - Digo cedendo.

-Vou só pegar a chave do carro, já volto.

Alguns segundos depois ele volta e além da chave, traz um analgésico e um copo de água.

-Toma isso, vai deixar seu ombro melhor.

Pego o comprimido e a água e o tomo. Entro no carro sem falar nada, sei que não deveria aceitar a carona do Lucas, primeiro pelo fato de ele ter me empurrando e tentado desrespeitar meus limites, segundo porque ele é menor de idade e não tem carteira de motorista, mas mesmo sabendo de tudo isso, não saio do carro e não consigo negar os pedidos do Lucas. Se ele fosse uma droga, seria heroína e eu seria um viciado.

*Miguel narrando*

Já estou no Brasil, mas ainda não voltei para a minha cidade. Preciso voltar logo, vou enlouquecer se ficar mais alguns dias longe da Kate, é como se eu estivesse em abstinência  e na verdade acho que eu estou, sou viciado nela, mas diferentemente de alguma droga, o "efeito Kate" não é ruim. Por exemplo, no momento eu estou andando de um lado para o outro do meu quarto olhando para uma foto nossa de quando tínhamos 10 anos, pego o porta-retrato e sorrio ao olhar para minha menina usando aparelho na foto. Passo a mão pelo rosto, aonde eu vá a Kate não sai da minha cabeça, muito menos nesse quarto, com as malas abertas em cima da cama e cheias de presentes que ela me deu, camisas, palhetas, CDs, livros, tudo pronto para o próximo destino. Mesmo em todos os lugares que já estive, nenhuma garota conseguiu ocupar o lugar da minha Kat e ter ido para o aniversário dela, ver ela de novo, me deixou louco de vontade de voltar para lá, de ficar com ela, de tirar ela de perto daquele idiota do Lucas, mas eu não podia fazer isso. Para piorar tudo eu é que acabei agindo como um idiota ao falar com ela daquele jeito. Ver ela com ele me enlouquece e não aguento mais ficar longe dela, até a Maria Clara, minha irmã de cinco anos, já percebeu que tem algo de errado comigo. Sento na cama e entro nas redes sociais usando um perfil falso, não uso as redes sociais, não gosto de correr o risco de descobrirem onde estamos, pelo menos não ainda. Vou até o perfil da Kate e passo a ver suas fotos e vídeos, a maioria é dela dançando balé, o que ela faz lindamente. Há muitas fotos dela com a família e as amigas, sinto saudade das malucas Elena e Liana e da tia Ana também. Cerro os punhos ao ver as fotos dela com o Lucas.

- Ele não merece ficar com você, Kate.- Digo com tristeza.

- Ela é uma menina muito inteligente filho, sabe se cuidar.

- Ah, oi mãe. -Me sobressalto na cama e me recomponho. -Onde foi parar a regra de bater na porta antes de entrar? Pergunto baixando a tela do notebook.

-Desculpa filho, não quis atrapalhar você.

-Tudo bem mãe, só tenta lembrar da próxima vez. - Digo e abro espaço para que ela sente comigo na cama.

- Você sente muito a falta dela não é?

- Demais. A Kate é muito especial para mim, ela é uma menina incrível sabe? Uma amiga incrível.

-Claro que sei Guel, a Kate também tem um espaço enorme no meu coração.

- Ela conquista o coração de qualquer um não é? -Pergunto com um sorriso ao lembrar da menina carismática.

- Com certeza, mas nenhum coração está tão conquistado por ela como o seu.

- Que é isso mãe?! Nada a ver!

- Sinto muito por te deixar longe dos seus amigos e da menina que você ama, filho. -Minha mãe diz com olhos marejados.- Seu pai e eu sentimos muito por isso, sinto por sua irmã não poder ser uma criança normal como as outras e você não poder ser um adolescente normal, por termos que viver nesse constante estado de alerta, sinto muito por não ter conseguido proteger seu irmão, por não ter salvado a vida do meu bebê. -Minha mãe agora chora intensamente e eu a abraço forte.- Ah querido, você canta tão bem, você devia estar se dedicando a isso ao invés de estar se preocupando com os nossos problemas.

Sinto muita saudade dos meus amigos e odeio ter que viver assim, mas jamais culparia meus pais, principalmente a mamãe, eles já sofrem demais com a perda do Nicholas. Enxugo as lágrimas que teimam em escorrer do seu rosto e digo:

- Não fala assim mãe, o Nick te amava demais e você não é culpada por nada! Ele iria odiar ouvir você falando isso, não repita isso nunca mais. E quanto aos meus amigos, eu sei que vamos voltar para lá, não se preocupa comigo mamãe, e além disso, a Kate não é a menina que eu amo, quer dizer, é claro que eu amo ela, mas como minha melhor amiga. Não se preocupa com a Clarinha, ela é uma criança muito esperta e nunca vai te culpar por nada. Tenho fé que um dia tudo isso vai acabar e ela vai poder ser uma criança normal e eu vou poder me dedicar à música, então para de se preocupar. Te amo, dona Fernanda.

Nesse momento Maria Clara chama pela minha mãe e ela diz:

- Eu também te amo muito querido, agora eu preciso ir, estou sendo solicitada pela general.- Ela ri e enxuga as lágrimas do rosto.- E filho,- Ela diz quando já está na porta. - Por mais que tentemos, não dá para enganar o coração.- Ela completa. Deito na cama e penso em como todo mundo consegue perceber que eu amo a Kate, menos ela.

Amores DivididosOnde histórias criam vida. Descubra agora