4 - SACIANDO

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Bel-Sar-Uxur está relaxado dentro de uma piscina com águas mornas, concretada e revestida de ouro. No quarto tudo é cheio de detalhes e riquezas. Muito ouro, prata e tapeçarias estrangeiras.

Ele está esperando a noite chegar, para sair e conhecer a cidade. Há coisas que não condizem. Sim, ele sente mistérios no ar. Aquele típico cheiro, que ele sentia quando estava no palácio do seu rei Nimrod.

Bel-sar-Uxur ainda encontra-se ruminando, pensando uma forma em acabar com o arcanjo que matou o seu rei, quando a porta do seu quarto abre-se, e a mulher que o recebera um pouco mais cedo, entra com duas jovens.

As meninas estão seminuas. Acanhadas e com as mãos e braços, tentando cobrir-lhes a nudez.

— É um presente da casa. — Bel-Sar-Uxur escuta a mulher falar pela primeira vez. A voz dela tem um timbre aveludado, carinhoso e forte. Os olhos dela brilham para ele. A forma sensual, como foi dita a frase, o fez entender o que era aquela mulher. Uma adoradora da magia profana.

— Essas meninas ainda não tiveram seus primeiros ciclos. — Afirma o forasteiro de dentro da piscina.

— Por isso é um presente meu senhor. — Fala a mulher ardilosamente e com voz melodiosa.

— Obrigado. Mas, não quero. Podem sair. Deixem-me sozinho. — Não. Ele não mataria as crianças, mesmo sabendo o destino sombrio que as aguardavam.

— Se não gosta de mulher, tenho meninos. — A mulher atiça o forasteiro, que não gosta, fazendo-a perceber... há algo estranho no olhar do forasteiro. Ela pergunta: — Perdoe-me, mas não sei seu nome.

— E vai continuar sem saber.

— Meu senhor, perdoe-me a intromissão. Não queria importuna-lo. Saiam meninas. — As duas donzelas não demoram, e saem assim que escutam a ordem dada pela sua dona.

A mulher tira a roupa. Bel-Sar-Uxur sorri pelo canto dos lábios. A beleza dela parece atiçar os desejos do forasteiro.

Com movimentos graciosos e sensuais, a dança começa. Uma dança que tem a mesma finalidade, de uma teia tecida por uma viúva negra: Aprisionar. Prender. Enredar. Conter. Dominar.

A mulher nua, dança e canta numa língua antiga, conhecida apenas na época em que Enoque andava pela Terra. O forasteiro parece uma estátua. Nenhum dos seus músculos são contraídos. Seus olhos ficam opacos. Como se um nevoeiro entrasse dentro deles.

A cantiga para.

A mulher aproxima-se da sua vítima. Alisa seu rosto enrugado. O homem continua incólume. Absorto. Dois homens fortes entram no quarto. Eles parecem não serem afetados pela voz da mulher.

Ela ajoelha-se ao lado da piscina, e começa a fazer carinho no tórax do forasteiro. O homem parece entregue ao além. Preso. Amarrado. Seus braço estão caídos para fora da borda da piscina.

— Eu pensei que você fosse diferente. — A mulher fala encostando sua cabeça na palma da própria mão, que encontra-se apoiada pelo cotovelo na borda da piscina.

E com a mão direita continua as carícias pelo corpo do forasteiro. — É raro um homem, não encantar-se de primeira pela minha voz. Nunca cheguei a precisar ter que dançar. Como sei que você não pode perguntar... aqueles homens ali, eu os deixei surdos e castrados, depois de encanta-los.

A mulher aproxima-se do ouvido do forasteiro.

— Qual o seu nome? — Como um robô, o homem vira-se com seus olhos em transe e diz:

— Bel-Sar-Uxur. — A mulher ao escutar aquele nome, arregala os olhos, com eles quase pulando das suas órbitas. Foi então que percebeu o sorriso maligno na boca do homem, juntamente com seu descuido fatal. Os olhos dele estão vermelhos. Vermelho rubro. Vermelho igual a sangue vivo.

Com uma ferocidade bestial, Bel-Sar-Uxur puxa a mulher para dentro da piscina com uma mordida no pescoço, parecendo um crocodilo, que ardilosamente prende suas vítimas pelas mandíbulas, sequestrando-as para as profundezas da morte.

Em questões de segundos, as águas borbulham sangue vivo e viçoso... pedaços de pele, carne e músculos começam a boiar diante dos homens, que de tão amedrontados, não conseguem sair do lugar.

O forasteiro, agora mais rejuvenescido, ressurge das águas impavidamente mortal. Com um simples movimento da sua mão direita, gesticulando no vazio, a porta do quarto fecha-se.

Os dois brutamontes correm em direção à ela, mas é inútil tentar atravessa-la. O homem assiste aterrorizado, seu comparsa ser puxado pelas costas e trucidado em segundos.

Bel-Sar-Uxur lambuza-se entre o sangue e os órgãos rasgados e devorados. A felicidade do forasteiro é tanta, enquanto devora as entranhas do homem, depois de ter-lhe sugado todo o sangue, que faz o último ser vivo no quarto, vomitar e pedir pela sua vida.

— Você sabe que não vai escapar. Então, por quê resistir?

— P-por favor eu sou um servo leal. Serei leal a você também. — Responde o grandão, depois da leitura labial.

— Não duvido disso, porém o seu amigo ali, mostrou-me tudo que vocês fizeram.

Os olhos da presa, revelam seus questionamentos.

— Não... eu sou um predador. Um guerreiro. Mato para comer e saciar essa sede, que nunca me abandonará. Porém, vocês não. Assassinam por prazer. — O brutamontes caucasiano, não tem tempo de reação. O forasteiro corta-lhe a garganta, recebendo o jato de sangue vivo,  quente em seu rosto.  As presas crescem, deformando os lábios de Bel-Sar-Uxur, levando a um frenesi.

Agora, nada mais importava... somente saciar o insaciável. O poder de sentir o sabor do sangue humano. O poder de sentir os últimos bombeados do coração convalescente.

Depois, passados alguns minutos de frenesi, Bel-Sar-Uxur solta o corpo do homem. Seus olhos vermelhos carmesim, só demonstram o vigor brotando através dos músculos do seu corpo.

O que era velho, se fez novo.

O estalo seco, de uma casca sem vida cai dos braços do forasteiro, fazendo um barulho pesado. Igual um pedaço de carne fresca jogado no chão.

Ainda com o corpo todo lavado pelo sangue das três pessoas, Bel-Sar-Uxur caminha lentamente voltando para a piscina. Ele entra e começa a ruminar em tudo que lhe foi mostrado pelo sangue.

Agora entendeu o porquê de todos os portões serem abertos todas as horas. As cidades são imensas armadilhas, criadas para atrais os párias, famílias viajantes, ladrões ou qualquer humano, que deseja passar a noite. Sua última noite.

A mulher morta por ele, recebia os homens para castra-los, e usar os testículos em fórmulas de invocação.

Não para invocar entidades, mas, a alquimia transversa. Uma magia profana, criada para ser bebida por ela, e com sua voz poder enfeitiçar até os demônios usurpadores de corpos.

O nome dela era Klípia. Embora, parecesse ter vinte e poucos anos, a Alquimista profana, já beirava os duzentos anos.

Porém, não foi nada disso que deixou o general de Nimrod pensativo, mas, descobrir quem governa as cidades. Não fora atoa o cheiro que sentira.

A magia profana, eficaz e enganadora estava mais forte a cada hora que o sol declinava.

Bel-Sar-Uxur lava o rosto com as águas banhadas pela morte. O sangue revelou-o quem domina ali, e o forasteiro encontra-se sem saída.

A morte o espera dentro de Sodoma, ou fora dela. O homem sai da piscina, e fala para si mesmo, que se for para morrer vai querer ser morto por uma pessoa, que no passado foi seu melhor amigo.

Bel-Sar-Uxur não era o último da sua estirpe. Do trono às vielas, Sodoma estava cheia da sua linhagem e de uma nova raça e mais sedenta por sangue. Híbrida. Uma deformação genética, causada pela junção de três raças: Nephilins, humanos e os filhos de Ishitar.

Bel-Sar-Uxur é da terceira raça. Criada pelo consumo do sangue da Celestial. Para os Arcanjos, a raça dele é uma aberração, pior que os descendentes dos anjos caídos. Os nephilins.

Mas, ele também sabe que tudo isso vai mudar, quando os celestiais conhecerem essa nova raça.

SODOMA  - Livro 3 - Trilogia Fogo do Céu - COMPLETO - 24/12/19Onde histórias criam vida. Descubra agora