nossos corpos se cruzaram, descruzaram,
se enroscaram, boca, braços,
sobre a cama e sobre o sofá.
pronunciamos nomes justos, nomes duros,
fogo e punhos, claros, acres, escuros.
teus olhos, tuas fontes, matas e montes,
são um corredor presente de voos possíveis.
com meu aceso archote cego,
cruzo as ondas caladas de um longínquo cais,
penetro tua noite, busco teu ego e mais.
colho com a repentina mão do delírio
a flor do teu sorriso dentro das árvores,
dentro da terra, dentro de mim,
até onde a língua segue seu trilho,
até onde vai do beijo o seu brilho.
quando gozas meu coração perde o ritmo
longe dos dicionários, enciclopédias,
antologias, coletâneas, compêndios, amarras,
nas curvas de um ideograma,
onde está acesa nossa chama.
* * *
decifrando teus abismos
e teus açores
emaranhei minha vida
entre moinhos,
atirei-me à sorte
destes descaminhos.
* * *
nota a nota
toco teu corpo
onde te faço música.
face a face
me concentro
onde em ti me adentro.
passo a passo
te acompanho
onde quer que estejas.
boca a boca
te sugo
onde mato a minha sede.
pouco a pouco
te acendo
onde te trago os desejos.
* * *
de tuas entradas
às tuas entranhas,
da eterna morada
dos teus segredos
molhados,
de mim,
desde dentro,
o momento
é eterno.
entre os teus lábios
de rósea mucosa
que abro
e me abraçam,
a cabeça,
o tronco,
o membro
engolem
o tempo.
* * *
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Dois
PoetryDois é o número natural que segue o um e precede o três. Dois é o primeiro número primo e o único que é par. A dualidade de todas as coisas é uma noção importante na maioria das culturas e religiões. A mais comum dicotomia filosófica talvez seja aqu...