Capítulo 10 - Encantada

76 6 5
                                    

"Beto, sou eu de novo. É que... Bem, é a terceira vez que ligo. Estou ficando preocupada. Por favor... Está tudo bem comigo, mas eu realmente queria falar com você. Por favor, me ligue."

Afasto o celular da orelha e fico olhando para ele como se Alberto estivesse escondido ali e fosse aparecer a qualquer momento. Não quero soar desesperada, por isso não liguei tantas vezes quanto gostaria, mas a verdade é que estou ficando realmente inquieta com o fato de ele não ter me ligado de volta.

Não que fiquemos em contato o tempo inteiro. Na verdade, passamos temporadas juntos quando a solidão fica muito pesada para ser carregada sozinha, mas às vezes ficamos meses sem nos ver depois disso. Já faz quase um ano desde a última vez.

Nesse meio tempo, só nos falamos em uma ocasião, há seis meses, quando liguei para dizer que estava me mudando para cá, caso ele quisesse ou precisasse me encontrar. Pensando novamente naquela última conversa, percebo que ele pareceu estranho ao telefone, distante e evasivo como se quisesse me dizer alguma coisa, mas não tivesse coragem. E agora eu tinha mais uma coisa com que me preocupar.

Porque, aparentemente, o ataque, o fechamento do bar, o possível sentimento de Paty por Teo e a sua própria confusão sentimental não são o bastante!

— Pois é. É só que não é bem uma opção não me preocupar — suspiro, falando sozinha.

Já faz dois dias desde que tive aquela conversa com Paty e, desde então, venho evitando Teo. Sei que não conseguirei fugir por muito tempo, mas por agora não sei o que mais posso fazer. Tenho muita vontade de estar com ele, mas não entendo a natureza desse sentimento, então preciso mantê-lo longe por mais um tempo.

Droga! Como posso já estar sentindo tanta falta?

— Descansando, princesa? — diz a voz de Lara, me tirando de meus devaneios. — O bar está começando a encher. E estou bem certa de que Samuel não te paga para escorar a parede do banheiro dos funcionários.

— Oi, Lara. Tudo bem? — cumprimento sem resposta. — Na verdade, eu já estou indo. Só precisava dar um telefonema e com todo barulho do bar...

— Hoje é sábado, meu bem. Não dá tempo de ficar aí tagarelando com seu namoradinho. Aliás, pelo menos desta vez você fez alguma coisa de útil, não? Estão dizendo que você está se enroscando com um desses cantores que tocam aqui no bar e que ele salvou você de ser estuprada ou sei lá... O que eu gostei dessa notícia é que você vai parar de dar em cima do Samuel. Ou um cara não é suficiente?

— Samuel!? Não, Lara, eu nunca...

— Ah, para de papo furado! Todo mundo sabe que antes de começar a namorar comigo ele corria atrás de você! — Ahn!? Todo mundo menos eu, pelo visto. — Mas, claro, isso é porque você fica aí dando mole!

— Mas Samuel não se importa comigo, Lara. Sou só uma funcionária. Você está enganada! E mesmo se ele estivesse interessado em mim, sou eu que não tenho interesse nenhum...

Meu Deus! Como foi que chegamos nesta discussão sem sentido?

— Sonsa, desgraçada! Ainda se faz de desentendida! Mas ele não precisa mais de você, viu? Está muito bem acompanhado agora!

Um estrondo de porta se abrindo e se chocando contra a parede interrompe a conversa. Em meus lábios, a resposta que eu ainda nem tinha planejado morre rapidamente.

— Algum problema aqui? — diz Paty, parando à minha frente e espalmando a mão na parede, colocando-se entre mim e Lara. O braço bem em frente ao meu rosto, já que ela é mais alta que eu, tampa um pouco minha visão, mas não o suficiente para me impedir de ver a expressão de Lara trair seu medo. Mesmo assim, ela tenta não aparentar e continua.

Entre a Luz e as SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora