A Encomenda - 1

Capítulo 15.

Josephine.

Apesar da cena de ontem que presenciei dele com outra depois da nossa transa, eu aceitei o convite dele para ficar.
Nenhuma outra pessoa no mundo conseguiu me transmitir o conforto que ele transmitiu. Nem mesmo Christian.

Acabei de acordar e estou saindo do quarto dele - que ainda está dormindo -, deixei um bilhete no criado agradecendo por ter me deixado ficar, e por me tranquilizar.
Ontem tentei dizer pra ele sobre outras coisas que me sobrecarregaram, como por exemplo o fato do tal agente estar atrás de mim - ou melhor, da Lola.
Também quase revelei que estou usando disfarce. Agora que fiquei sabendo toda a verdade sobre meu pai, vi o quanto a mentira pode estragar as coisas. Então não acho justo eu fingir ser outra pessoa com ele, que desde que o conheci está sendo bom para mim.

Enfim.. Ainda estou criando coragem para ir falar com meu pai. Ele me disse que iria estar me esperando no quarto em que está hospedado para conversamos.
Não sei bem o que pensar ou dizer, foi meio que um choque tudo isso.
Mas por outro lado, eu fico feliz em saber que está vivo. Parece que a ferida que estava no meu peito desde que "partiu", está se fechando.
Por mais que ele estivesse errado em fazer tudo isso, ele ainda é meu pai, a pessoa mais importante da minha vida.

Ele tem esse título desde que minha mãe - Claryssa Fallon - resolveu nos deixar quando começamos no mundo dos roubos. Ela disse que voltaria a nos ver só quando parassemos com toda essa coisa de sermos injustos nos negócios.
Fiquei muito puta com ela, a xinguei tanto por tomar essa atitude.
Na época eu tinha a mente fechada, só pensava em olhar pro meu próprio umbigo e ganhar dinheiro - não que eu ainda não pense nesse segundo fator -, mas minhas intenções hoje em dia são menos ignorantes.
Com Christian, meus meios de ganhar dinheiro são mais justos. Então admiro que meu pai também tenha mudado nesse aspecto.

Quando aceitei assinar minha sentença de morte e vir pra LV, era para proteger o restante da herança com o roubo da Hall Enterprises, isso tudo em respeito à memória do meu pai.
E agora que ele está vivo, eu espero que ele saiba o que fazer com esse dinheiro.

E antes de ir conversar com ele, vou descer com a Lola para tomarmos café, se o plano ainda está de pé ou
não, preciso continuar com o disfarce. E ela também me disse que recebeu a foto do agente que estava encarregado pela encomenda.
Saio do elevador e vou até a mesa em que ela está.

- Hã.. Bom dia. - puxo uma cadeira e me sento.

- Bom dia.. e desculpa por ontem.. Eu queria te contar desde o início mas seu pai me proibiu.

- Tudo bem. Sei como é, ele sempre consegue o que quer. - dou uma mordida na torrada, mastigo e engulo - Mas então, cadê a foto?

- Um minutinho, deixa só eu encontrar. - ela desliza os dedos pelo celular e logo em seguida vira para mim - É ele, Hero Turner.

Hã? Mas esse é o Jace. Dou uma golada no colo de água e me recomponho.

- Tem certeza que é ele? Não é um engano?

- Não, as fontes que me passaram são seguras. Você esbarrou com ele por aí ou algo do tipo? Com certeza ele deve estar usando nome falso.

Não. Não. Não. Isso de novo não!

- É.. não.. eu não me recordo. Vi muitas pessoas desde que cheguei aqui, mas provavelmente não.

E quando percorro meus olhos pelo salão, avisto Jace, quer dizer, Hero, ou quem diabos esse cara seja.
Meu corpo logo congela, fico estática, sem reação, como se estivesse vendo um fantasma. Preciso agir, Lola ainda não pode vê-lo!

Hero.

Já é o 3° dia desde que cheguei aqui, e o 2° que era para mim estar colocando meu plano em ação. Alex já me mandou algumas mensagens e deixou recados em minha caixa postal, não o respondi porque sei que vou ouvir broncas pela demora.
Angel acabou me distraindo, não sei, algo nessa garota está me deixando meio aéreo do trabalho.
E falando nela, quando acordei já não estava mais aqui, só encontrei o seu bilhete de agradecimento.

Uh, preciso ir em busca de informações sobre Josephine para acabar com isso logo, ou serei um homem morto.
Por um lado está tudo ok, não quebrei nenhuma regra. Apesar de Angel aparecer no meu caminho e estar me fazendo sentir coisa estranhas por ela, tecnicamente a regra 4 não se encaixa. Só não posso sentir nada pela encomenda.

Assim que chego ao andar do restaurante procurando por informações. Eu avisto Josephine. Caralho. Ela é bem desinteressante ao vivo.
Mas o que mais me deixa supreso é ver Angel ao lado dela, me olhando como um semblante nada legal. Assustada, talvez. Será que..? Não, Josephine não está sabendo quem sou eu e muito menos que estou aqui para dar um fim nela.

Quando resolvo me aproximar para tentar parecer amigável, Angel vem em minha direção e me puxa pelo braço me levando de volta ao elevador.

- O que está fazendo?

Ela permance em silêncio até o elevador se abrir e sairmos para fora do mesmo.

- Eu te fiz uma pergunta.

Ela me coloca contra a parede do corredor, e aproxima seus lábios dos meus. Estamos tão próximos que consigo sentir sua respiração.
Permaneço olhando-a, tentando entender a situação. Logo ela usa de uma de suas mãos e pega em minha nunca, puxando meus cabelos.

- Eu não deveria te desejar tanto.. Você vai me.. Eu.. Eu te odeio por isso.

Quando vou perguntar sobre o que está falando, ela acaba com o espaço que tinha entre nossas bocas, selando as mesmas.
Seu beijo é intenso. Forte. Desesperador.
Não é como da primeira vez, com desejo e prazer. É como sei lá, se tivesse se despedindo..

Ela corta minha linha de raciocínios assim que se afasta, e coloca sua testa na minha, mordendo os lábios na tentativa de segurar algo. Não sei é paranóia minha, mas acho que são lágrimas.

- Eu preciso ir. E não venha atrás de mim.

E sem mais delongas, ela some pelo corredor, me deixando confuso, intrigado e sem... reação.

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