Estava escuro, e eu tinha água em meus calcanhares, a água subia e subia mais. Em menos de 30 segundos estava batendo em meu peito, uma grande pressão estava exercida sobre mim, não parecia ser realmente água, quanto mais tempo passava aquilo ficava mais duro, até eu não poder me mexer. Eu estava espremido, como se eu estivesse embrulhado em um casulo, estava sem ar. Aquele foi o sentimento mais agonizante que eu já tive na vida, sozinho, não conseguia falar, não conseguia me mexer, manter os olhos abertos era uma tarefa quase impossível, então eu fechei os olhos.
Quando abri vi uma espécie de colmeia gigante, do tamanho de uma pessoa adulta, presa a uma parede, pude ouvir um chiado estranho em volta da colmeia, como uma cobra.
Um flash de luz apareceu e pude ver construções velhas e escondidas no topo de uma montanha com uma estátua no meio, era um homem matando uma cobra com flechadas, eu não sabia o que significava, nem onde poderia ser aquele lugar.
Acordo suado e ofegante, Camille está ao meu lado preocupada.
— Irmão você está bem?— pergunta com olhos arregalados— você me acordou com seus gritos.
Já era manhã e eu estava cheio de dor pelo corpo, algo apertava a minha mão. Virei os olhos e na verdade eu apertava alguma coisa, a lateral da cama estava amassada no formato de meus dedos, eu sentia aquela dor na nuca de novo.
— Estou bem, só foi um pesadelo— falo ainda assustado.
— Foi muito ruim?— pergunta minha meio-irmã tentando esconder sua expressão cansada e sonolenta— você sabe que pra gente sonhos não são apenas sonhos, não sabe?
Na verdade eu não sabia.
— Como assim?— pergunto intrigado, como sonhos não são apenas sonhos? Seria mais um benefício de ter um deus como pai?
— Alguns dos nossos sonhos são moldados com o nosso futuro próximo, como profecias, se foi muito ruim você tem que conta-lo a Quíron— fala ela segura de si e inteligentemente.
Profecias, isso realmente existia? Desde que essas coisas estranhas começaram a acontecer comigo o que não me falta são perguntas.
Camille diz que fará um café com néctar para mim, diz que enquanto eu não provar o néctar ainda não estarei realmente vivo. Cumpro minha rotina diária de tomar banho e amarrar meus cabelos toda a manhã e vou até a pequena cozinha dourada no chalé ao lado do dormitório. Lá em cima do balcão está um copo e Camille está tomando banho e cantando no chuveiro.
— Ela canta bem— penso em voz alta— ah esqueci, Apolo também é o deus da música não é? Eu também sei cantar?— eu não tento, não lembro a última vez em que cantei na vida e nunca peguei em nenhum tipo de instrumento antes.
Pego o copo com café e néctar e tomo um gole pequeno. Tem gosto de milkshake de baunilha com raspas de biscoito recheado de chocolate e batatas fritas, como? Não consegui me controlar e bebi todo, logo quando termino o copo me dá uma dor de cabeça.
— Não tome de uma vez bobo— ela sai no exato momento de toalha e dá um tapinha em minha cabeça— isso é a bebida dos deuses nenhum mortal consegue suporta-la e nós podemos beber em poucas quantidades.
Eu coro por minha irmã mais nova ser muito mais inteligente que eu, ninguém nunca me falou nada de néctar, eu não tinha culpa. Dou uma risadinha.
— Ei o que nós vamos fazer hoje?— pergunto curioso.
— Vamos na casa grande falar do seu sonho para o Quíron, você é um dos únicos filhos de Apolo aqui, deve ser importante.
Realmente era, não sabia como, mas era. Depois que Camille tomou um pouco do café ela me levou a casa grande e eu contei o meu pesadelo a Quíron, nosso centauro coordenador de atividades, ou algo assim.
— Essa arquitetura você consegue identificar? Vou mandar uma pessoa para te ajudar a descobrir onde é— fala como se fosse algo muito sério— Camille vá chamar Annabeth, mande uma mensagem de Iris para que ela venha do Olimpo para cá o mais rápido possível.
Nas paredes eu pude ver quadros de pessoas estranhas que apareciam muito nas paredes, esses quadros se mexiam e mostravam imagens triunfantes e amigáveis de um grupo de campistas.
— Quem são esses das fotos?— pergunto notando certa melancolia no olhar de Quíron assim que toco no assunto.
— Esses eram os campistas mais fortes entre os dois acampamentos, Annabeth Chase, Percy Jackson, Jason Grace, Piper Mclean, Leo Valdez, Hazel Levesque e Frank Zhang. Alguns estão no lado romano, alguns no Olimpo e outros morreram ou desapareceram— ele falava com tanta tristeza em seus olhos que não comentei mais nada— sabe Tom você me lembra um pouco Percy, chegou jovem e sem saber de nada sobre todo esse mundo, com um grande potencial e uma jornada difícil pela frente. Você terá que ver o Oráculo, tenho um mal pressentimento sobre seu sonho mas não se preocupe.
Camille chega e Quíron pede a ela que me leve ao Oráculo, me dá boa sorte e entra para o fundo da casa.
No caminho para a gruta que eu já havia conhecido eu penso no quadro mais uma vez e me pergunto, o que aconteceu com Percy Jackson? Foi um dos que morreu? Está no Olimpo?
Ao chegarmos me deparo com a mulher a quem Beatrice havia falado, de cabelo ruivo e cacheado usando uma roupa suja de tinta, parecia ter entre 20 a 25 anos.
— Olá, sou Rachel Dare, mas o pessoal costuma me chamar de Oráculo, quem é você?— se apresenta sorridente e curiosa.
— Sou Tom Gray, filho de Apolo, Quíron me mandou, disse que eu tenho uma jornada ou algo assim— falo um pouco na defensiva.
— Nesse caso pode entrar— ela abre a porta de vinhas e eu passo.
Estava tudo escuro e lá dentro ela me levou para um quarto que tinha uma mesa com duas cadeiras, sentei em uma e ela em outra, Camille ficou do lado de fora o que não me deixou nem um pouco mais confortável. Ela recitava uma reza baixa em uma língua que eu podia entender, como? Seria grego antigo? Depois de uns 2 minutos em silêncio seus olhos começaram a brilhar e saiu uma fumaça verde de sua boca, era perturbador, o corpo da mulher segurou minha mãe mais forte e flutuou a 10 centímetros do chão.
— Tom Gray, filho do sol, dono de grande força ancestral, receba sua profecia— ela falou com outra voz, uma voz velha e ruidosa:
3 meios-sangue que Apolo acolherão
O herói no Âmbar deverão acordar
Em meio aos solstícios as ruas sairão
Ao amanhecer os dois do mesmo pai irão lutar
As pérolas são a chave mas também a perdição
O ganhador a paz ou a guerra vai instaurar
Se sua missão não for acabada, o herói desacordado
Sua última gota de água irá derramar
Quando aquela voz sumiu e a mulher voltou ao normal eu quase vomitei, aquilo era perturbador, eu não entendia aqueles versos, eram muito confusos, teria que falar com Quíron? Eu teria uma missão? E Camille como ficaria? Eu prometera que não a deixaria sozinha.
— É uma tarefa difícil— Rachel falou— tudo depende de você agora, você precisa descobrir o que fazer e precisa alcançar a paz, é difícil mas não é impossível.
Aquelas palavras só me deixavam mais apavorado, tudo dependia de mim, eu não sabia nem quem eu era muito menos o que eu iria fazer.
Quando saí da gruta Camille estava sentada numa rocha olhando os desenhos de Rachel Dare, parecia inquieta.
— Como foi?— ela parecia ter chorado, estava com os olhos vermelhos.
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Tom Gray: o herói desacordado
Teen FictionBaseado na saga de livros: Percy Jackson e os Olimpianos 3 meios sangue que Apolo acolherão O herói no Âmbar deverão acordar Em meio aos solstícios as ruas sairão Ao amanhecer os dois do mesmo pai irão lutar As pérolas são a chave mas também a p...