Zane
A rua da minha antiga casa estava escura quando cheguei e parei diante do portão. Fiquei tentado a tomar outro rumo, talvez mudar de cidade e me aventurar em um lugar longe de tudo; longe de todas as lembranças que insistiam em me atormentar, mas eu não podia. Havia muitas restrições na minha mais nova condição. Não era como se as coisas houvessem mudado. Eu tinha saído da prisão, mas continuava preso.
Uma olhada ao redor me fez apertar os dedos contra a madeira apodrecida. Cenas da minha infância e adolescência, ao lado de Calvin, me abateram com força e tive que respirar profundamente para resistir à tentação de gritar.
Gritar com Deus.
Gritar com o mundo.
Gritar com o destino.
Porque não era justo que tudo aquilo tivesse acontecido comigo; não quando sempre tomei o cuidado de ser um bom homem. Um bom amigo.
Devagar, eu abri o portão, ouvindo o ranger irritante, e me encaminhei para a porta de entrada.
Era ridículo que eu não houvesse feito planos em todos aqueles dez anos, na prisão, mas não fiz. Porque, eu não tinha mais nada e nem ninguém.
Eu tinha perdido minha dignidade e meus amigos.
Caralho, eu sequer conseguia ficar perto de uma mulher sem machucá-la — pensei na mulher do Derick.
Conforme eu acendia as luzes da casa, os móveis foram surgindo no meu campo de visão; tentei chorar — porque cada canto daquele lugar tinha um pedacinho dos meus falecidos pais e da minha irmã — mas eu não senti nada. Absolutamente nada.
Subi as escadas e segui direto para meu antigo quarto. Estava tudo igual. Malditamente como antes. Fotos. Muitas fotos minhas com a Katie, espalhadas pelo cômodo.
Era basicamente uma poluição visual, e aquilo estava me matando.
Num acesso de raiva, eu comecei a arrancar todos aqueles porta-retratos das paredes, do criado-mudo e da mesinha de canto. O barulho do impacto dos objetos contra o chão não era maior do que o que se passava dentro de mim naquele momento.
Eu me sentia como um animal selvagem.
Um animal feroz.
Rugindo e esperando a próxima vítima.
Peguei todas aquelas fotos e desci.
Lá embaixo, encontrei uma vasilha de metal dentro do armário da cozinha e, em seguida, peguei uma garrafa de uísque e retornei a pequena sala.
Lentamente, eu fui jogando as fotos dentro da vasilha; cada uma delas carregava um significado diferente e chegou a ser especial na época. Verdadeiramente foi especial.
Parei em uma onde mostrava Katie e eu em frente à praia observando as ondas do mar; era noite e estávamos participando de um luau com nossos amigos. Naquela noite, nós havíamos feito amor pela primeira vez, poucas horas depois de tirarmos aquela foto. Ela era virgem e, eu me senti a porra de um cara sortudo por ter sido o escolhido.
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AMARGA SOLIDÃO - Duologia Sombrios SOMENTE DEGUSTAÇÃO
Romance**UMA PITADA DARK FICOU DISPONÍVEL ATÉ O DIA 27/05 Zane Hall era um adolescente repleto de planos e sonhos. Mesmo apaixonado pela vida, o primeiro e único motivo para seus sorrisos tinha nome e sobrenome: Katie Evans, a sua garota de cabelos de fog...