Capítulo Final - A Carta

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Uma carta. Sim. Uma singela e honesta carta para quem eu mais queria ter ao meu lado: Sophia Valverde. As cartas, que sempre foram minha forma de expressão mais genuína, agora me vinham como um elixir especial e único da reconciliação, de buscar e alcançar o perdão de Sophia.

Ao pegar a caneta e as folhas pautadas para escrever, poucas ideias me vieram à mente. Eu tinha sentimentos a expressar, então

-"porque tamanho bloqueio mental?"- questionava-me.

Talvez fosse uma das muitas formas que o gênero humano tem de proteger-se contra as feridas mentais e decepções que abalam o coração. Quando finalmente juntei palavras o suficiente para redigir a carta de suma importância, os sentimentos foram transferidos para o papel sem muita dificuldade. Ao final, A carta ficou assim:

"Sophia,

É com a mão trêmula e chorosa que seguro esta caneta para lhe escrever. Você decidiu fugir, mas a pergunta que assombra-me a mente é "porque"? Porque você iria sair de uma casa em que é aclamada na vitória e consolada na derrota? Onde é amada do jeito que é, com todos os seus defeitos que todos nós temos, mas acho que nem você tem resposta para isso, não?

Sinto afirmar a dolorosa verdade, mais preciso lhe mostrar exatamente isso, A verdade: Você não demonstrou afeto algum por mim desde que eu cheguei à "sua" casa. Contudo, agora eu entendo o porquê de sua desconfiança e superproteção do seu segredo.

Eu sei o quão difícil é perder a própria mãe, aquela pessoa que nos deu a vida e que nos criaria e defenderia até o último suspiro. Todavia, você encontrou duas pessoas maravilhosas que te acolheram e a tratam como se fosse filha deles. Eles nunca sequer te obrigaram a esquecer suas origens...

Eu do contrário perdi meus pais e ninguém da minha família próxima quis me criar se não seus pais... Isso mostrou para mim o quão podre é o caráter de todos eles. Quando eu Chorei, não tive quem abraçar, senão fotos que não passavam de memórias tristes impressas; não tive um ombro para chorar; não tive amigos com quem contar; nem ao menos pais para me consolar. Então valorize o que tens hoje, pois nossa vida carnal tem prazo de validade incerto e não sabido.

Sabe o mais curioso, eu sempre quis ter uma irmãzinha, com quem eu pudesse dividir minhas felicidades e minhas tristezas... Quando olhei sua silhueta no quarto na noite em que nos conhecemos, pude sentir que tinha sido presenteado com um alguém especial. E então, era você. Por mais que em todo esse tempo nossa relação inicial tenha sido conturbada, eu te amo, desde o primeiro momento que a vi.

Pense em tudo isso. Se quiser falar, estarei do lado de fora do seu quarto.

Saudações e um beijo,
Do seu nem sempre correspondido,

-Eu."


Dobrei a folha, coloquei num envelope e o selei com um pouco de cola. Retirei-me de meu quarto e caminhei lenta e silenciosamente até os aposentos de Sophia. Achei que ela já estivesse dormindo, mas decidi arriscar uma tentativa. Fechei minha mão e cuidadosamente bati contra a porta do quarto dela.

-Por favor... (Choramingo) Eu... só quero ficar sozinha...-

Foi o que escutei. Decidido a me redimir, coloquei a carta debaixo da porta, produzindo um distinto barulho leve, porém ainda audível. Sentei-me ao lado da porta e esperei...

Foi quando ouço a porta ao meu lado abrir. Me levando depressa, o que não melhorou muito minha compostura. Foi quando vi: Sophia estava com os olhos irritados e suas bochechas, outrora cinzentas pela luz lunar, agora estavam coradas. Ela segurava minha carta entre suas duas mãos. Ela levantou a cabeça, e olhando profundamente na minha alma através de meus olhos, perguntou:

-Tudo que você disse sobre me amar como uma irmã.... é verdade...?- disse ela, tentando esconder as lágrimas.

-Cada palavra na carta, são todas a palavras que meu coração até então não podia dizer.- respondi com clareza.

Sophia olha novamente para a carta e volta a me encarar. Até que ela sorri. Era um sorriso tão fofo, caloroso e valoroso para mim...

'Sim, eu quero ser a sua irmã.- afirmou Sophia enquanto me abraça com força.

Enquanto abraçados, sou capaz de sentir meu ombro úmido pelas lágrimas que escorriam pelas bochechas de Sophia. Porém estas não são mais de sofrimento ou dor, mas sim de consolação e amor. Nós entramos no quarto dela, eu a cobri com os lençóis e disse à ela:

-Jamais esqueça que eu te amo.-

-Como poderia esquecer de uma das pessoas que eu mais quero amar agora? Te amo irmão.-

-Também te amo, Sophia.- respondi calorosamente.

Eu apago a luz e me refiro do quarto dela, e ao colocar a cabeça no meu travesseiro, finalmente pude sentir o amor preencher minha alma e me confortar.

FIM

Minha Irmã: Sophia ValverdeOnde histórias criam vida. Descubra agora