96 🕎

4.3K 368 42
                                    

Maratona 4/5

HELENA ⚘

A única coisa que consegui pensar naquele momento foi nele.

Gustavo.

O garoto que tanto perturbava meu pensamento e bagunçava meu coração.

Porquê eu não conseguia colocar ninguém acima dele?

Droga!

Burrice tinha limite e eu havia passado terminantemente do meu.

Eu odiava a idéia de amá-lo tanto assim.

— Onde vai, Sarthi? — Thiago questionou assim que ergui meu corpo da cadeira. Ao ver que não iria obter uma resposta de minha parte, ele continuou a falar — Vou anotar seu nome e com certeza ficará mais alguns dias aqui — O ignorei outra vez e sai da sala —.

Fiquei o restante das aulas no ginásio completamente deserto, eu precisava desesperadamente ficar sozinha para restabelecer meu juízo, caso contrário, com certeza minha sanidade se esvair pela milésima vez.

— Sandra estava procurando por você — Manuela falou assim que sentei com minha bandeja —.

Revirei os olhos e empurrei a mesma para o centro da mesa completamente desgostosa.

O que aquela bruxa mal-amada queria comigo? Com certeza Thiago contou da minha “rebeldia” dessa manhã.

— Presente de natal adiantado — Resmunguei ao levantar —.

Caminhei sem pressa alguma até a sala daquela mulher desprezível e esquiva.

Ao chegar no corredor que dava acesso a sala dela, travei ao ouvir a voz baixa e rouca de Gustavo, ele não parecia conversar com Sandra, parecia estar ao telefone.

— ...vou sair na quarta, poderia vir me buscar? — Gustavo falou e logo se calou, parecendo ouvir a resposta — Não sei a hora exata, talvez de manhã... Não quero ficar mais que o necessário aqui — Continuou — Eu sei, Amélie — Ao ouvir aquele simples nome, foi como levar um soco em meu estômago, perdi completamente o ar e senti meu coração acelerar instantaneamente. Ele estava falando com aquela sujeitinha desprezível e baixa — Ahãn... OK, Amélie. Não seja idiota... Eu também.

Depois disso tudo ficou em silêncio, então deduzi que ele deu a ligação como encerrada.

— Cadê essa garota, Elisa? Já foi chamá-la? — Ouvi a voz rude de Sandra — Vá atrás dela outra vez — Ordenou e logo ouvi a porta ranger, e em segundos dei de cara com Elisa —.

— Estávamos no seu aguardo, Sarthi! — Falou de forma impaciente enquanto puxava meu pulso de maneira nada delicada para dentro da sala —.

Travei ao ver Gustavo sentado em uma das cadeiras, parecia estar distraído enquanto encarava alguns papéis que eram entregues á ele por Sandra, estava tão alheio ao que se passava a sua volta que nem notou minha presença ali.

GUSTAVO 🕶

Finalmente a liminar que me mantinha preso ali estava com suas horas contadas, nunca estive tão ansioso quanto agora.

Aqueles com certeza foram dias difíceis, conhecer Helena era algo que eu nunca conseguiria distinguir se foi algo bom ou ruim, eu jamais conseguiria decifrá-la, jamais conseguiria compreendê-la e entender o que ela esperava de mim.

O melhor a se fazer agora era simples e nítido pra mim: sair dali e esquecê-la.

Não pretendia estragar as coisas boas que nela existiam, não seria justo.

Ela foi á única naquele lugar que enxergava algo bom em mim, que observava muito além do cara encrenqueiro e mau-humorado... Eu havia quebrado esse sentimento que nutria por mim.

Quer saber?

Assim era muito melhor. Não queria mais uma em minha conta, já estava muito alta.

Ela logo sairia dali também e com certeza encontraria alguém muito melhor que eu, que a tratasse da melhor maneira, que possuísse uma vasta paciência, pois o cara teria que ser corajoso para enfrentar tantos questionamentos e tanta conversa banal.

Ela tem uma mania de se preocupar comigo mesmo quando eu a tratava da pior maneira.

Helena não merecia alguém como eu.

— Então amanhã já estou livre? — Comentei sarcasticamente enquanto terminava de assinar os documentos que aquela velha amarga havia entregue á mim —.

— Vamos ver por quanto tempo — Respondeu sem bom humor — Minha intuição diz que essa não será a última vez que nos veremos, senhor Vidal.

A encarei de soslaio e sorri de maneira debochada.

— Provavelmente não terei tanto azar — Retruquei —.

Ouvi sua respiração pesada e sabia perfeitamente o quanto estava irritada comigo naquele momento, mas eu jamais sairia daquele lugar sem provocar incômodo naquela mulher, ela havia ferrado demais comigo e ela teria que receber pelo menos 1% de chateação.

Depois de mais alguns minutos de provocações, liguei para Amélie e a informei da minha saída, foi algo frio e estranho. Era notável a postura impassível de ambas as partes.

Em seguida, Sandra entregou mais alguns papéis.

— Cadê essa garota, Elisa? Já foi chamá-la? — Sandra falou com seu habitual rancor — Vá atrás dela outra vez! — Mandou e Elisa acatou sua ordem como um verdadeiro animal adestrado —.

Nessa época do ano muitos tinha como presente de natal sua saída daquele inferno, então provavelmente outra felizarda seria chamada.

— Que bom que resolveu nos honrar com sua presença, senhorita Sarthi!

Assim que ouvi aquele nome, larguei a caneta e virei meu corpo abruptamente.

De onde eu havia tirado aquele comportamento tão idiota?

Mas algo em mim era incapaz de parar de encarar aquela figura loira e magrela para ao lado de Elisa, ela me encarava de volta da mesma maneira intensa.

Ela ainda gostava de mim.

DAUNTLESS Onde histórias criam vida. Descubra agora