Capítulo 29

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LEIAM A NOTA DA AUTORA NO FINAL. É IMPORTANTE!!!!!!


- Bom dia, docinho. - diz minha mãe entrando na cozinha na manhã seguinte. Seu rosto está assustadoramente magro, com bolas roxas sob os olhos e os lábios cortados em vários lugares.

Minha mãe. Eu não consigo associar sua presença em casa, sua voz em meus ouvidos, ou seus braços me apertando em um abraço maternal, com a realidade. Parece que a qualquer momento vou acordar e tudo não passará de um sonho. Minha casa vai estar vazia, sem ninguém para me dizer bom dia.

- Olá mamãe. Como está se sentindo?

- Feliz. Eu estou feliz por estar de volta. - Diz enquanto acaricia meu cabelo com um sorriso afetado nos lábios.

- Estou fazendo ovos mexidos e bacon pra todo mundo. Está com fome?

- Sim. Muita gentileza sua cozinhar o café da manhã de todos nós. Quer que eu tome as rédeas daqui? Cadê seu namorado?

- Está deitado no quarto, acho. - Dou de ombros olhando para baixo. - E ele não é meu namorado...

- Se você diz... ele parecia bastante preocupado com você ontem. Achei que estivessem juntos.

- Nós estamos. Quero dizer, mais ou menos. É complicado. - Me viro de costas para ela e volto a mexer o bacon na frigideira, evitando seus olhos. Não consigo deixar de pensar no meu sonho, mas parece tão impossivel que minha mãe não seja ela mais... parece tão normal, tirando pelas feições desnutridas.

- Vá se deitar com ele e deixe que eu termine aqui, pode ser? Faz tempo que não encosto a barriga no fogão. - Dá risada enquanto acaricia minhas costas, mas ao invés do gesto parecer maternal, um arrepio involuntário desce pela minha coluna, me fazendo afastar suas mãos abruptamente.

- Sinto muito. - Solto seus pulsos e dou dois passos para longe dela. - Sinto muito, eu não estou acostumada com você por aqui. Achei que estivesse morta. É estranho sentir você acariciando minhas costas dessa maneira. Me desculpe, mãe.

- Tudo bem. Eu não a culpo. Logo a gente se acostuma, sim? Vá deitar. Você está com uma carinha abatida.

- Tudo bem. - Esfrego minhas mãos no tecido de flanela da calça do pijama em um gesto nervoso. - Tá, vou me deitar um pouquinho. - Dou um sorriso fraco e me viro para sair da cozinha. Antes de entrar na sala, me viro mais uma vez para olha-la, mas ela ja está com o rosto virado para o fogão. - Mãe - chamo. Seus olhos voltam a me encarar com certo brilho de esperança. - eu te amo. Estou feliz que esteja viva.

Ela sorri mais uma vez para mim e se vira novamente para o fogão.

Subo as escadas ate meu quarto lentamente, pensando em tudo o que conversei com Sam ontem. Ele me disse que demoraria por volta de dois anos para que o corpo se acostumasse com a transformação e pudesse terminar o processo sozinho. Dois anos, exatamente o tempo que ela ficou desaparecida. E se meu sonho for verdade? E se ela realmente está se transformando em um demônio? Será que teria consciência disso? Os outros da prole do meu sonho sabiam que tinham sido iniciados. Eles tinham essa consciência. Minha mãe me contaria se soubesse, não?

Entro no quarto em silêncio, tentando não acordar Sam. Seu olho esquerdo está roxo devido ao soco que dei nele quando estava possuída. Me sinto mal por tê-lo agredido, mesmo não tendo culpa ou controle sobre isso.

Levanto a coberta que cobre seu corpo e entro debaixo dela, aconchegando nossos corpos um no outro. Seu cheiro é agradável, uma mistura de hortelã e sabonete, e inalo mais profundamente seu perfume, tentando gravar o aroma dentro de mim. Seus braços me puxam para junto dele, nos apertando um contra o outro, enquanto enterra seu rosto no meu pescoço, depositando um beijo solitário no topo do meu ombro.

Entre Auréolas e Fogo (Sam Winchester)Onde histórias criam vida. Descubra agora