Nascido na periferia de Luisiana, no ano de 1890, Eren cresceu ao lado de sua mãe, uma jovem mulher de religião africana que não tinha boas condições financeiras. Ele cresceu com o pouco, mas sua mãe sempre o ensinou a praticar o bem com base em sua religião. Mas ao contrário do que ela sempre quis, Eren desde cedo demonstrava uma grande apatia pelas pessoas, não se importando com nada de verdade a não ser ele próprio, e isso a preocupou. A princípio, acreditava ser a falta de um pai presente ou até mesmo de uma boa condição, mas por mais que tentasse melhorar por ele, mais percebia que o filho não daria o orgulho que queria.
No ano de 1906, com somente dezesseis anos, Eren finalmente tomou a iniciativa e saiu de sua singela casa por não aguentar mais as baboseiras que sua mãe falava. Sinceramente, ele nunca a compreendeu. Como alguém que sofria tanto com o preconceito da sociedade poderia querer ajudar tanto aqueles malditos? Para ele, isso era o acúmulo da imbecilidade encarnada. Ele não tinha mais paciência para isso. Ou melhor, ele nunca teve. E ao contrário dela, que fazia orações para um bem maior, ele aprendeu e se devotou a algo mais... Forte? Possivelmente. Ele sabia que o caminho não seria nada fácil, mas estava preparado para fazer qualquer sacrifício que fosse pelo poder. Pela vida eterna.
Os flocos de neve caíam e pousavam no chão já cheio de neve, para a sua repulsa. O inverno era a época que Eren mais odiava, pois o lembrava vividamente da humilhação e da miséria que passava, mas dessa vez, ele não deixou que seu ódio interferisse a sensação que a aquela frieza trazia. Sua vítima, o seu primeiro sacrifício se aproximava lentamente pelas ruas, o excitando de uma maneira inimaginável. Ele podia sentir seu sangue correndo através de suas veias, deixando-o eufórico para afundar sua faca e se banhar com aquele sangue imundo de sua vítima.
Quando os passos da mulher se tornou mais pesado, ele abriu seus olhos e se afastou da parede, olhando diretamente para a saída do beco na espera de sua passagem. Ele sempre soube que carregava dentro de si um forte desejo de morte, e agora, livre de qualquer coisa que pudesse impedí-lo, ele mataria de vez aquela vontade incessante. Lambendo os seus lábios ressecados pelo frio, ele caminhou até a saída com passos lentos, não sentindo nenhuma emoção negativa pelo que estaria fazendo logo em seguida.
A mulher, que já sentia medo por estar caminhando sozinha no meio daquela rua vazia, olhava de instante em instante em sua volta por sentir que estava sendo observada. Aquela sensação era horrível, fazia suas pernas tremerem, mas não podia parar alí. Só Deus sabia os riscos que ela corria só por estar na rua tão tarde da noite, mas ela realmente não tinha culpa. Havia largado do seu turno no hospital muito tarde, e estava dando o seu melhor para chegar o mais rápido que podia em sua casa. Infelizmente, não seria hoje que voltaria para casa.
Ao passar em frente ao beco, ela não teve tempo nem de gritar, pois Eren havia tampado sua boca e a puxado para dentro daquele beco escuro, onde a desacordou com um forte aperto em sua garganta. Quando a mesma voltou a consciência, a primeira coisa que pôde notar era que seu corpo estava preso em cordas bem apertadas, impedindo-a de fazer qualquer movimento. Ao ver a quantidade absurda de velas e ver seu sequestrador sem camisa, e com o corpo cheio de pinturas estranhas, ela tentou gritar, mas sua voz foi ocultada por uma mordaça.
Eren, que estava concentrado em terminar as pinturas em seu corpo, olhou para a mulher com desprezo. Ele sabia quem era a mulher, tanto que a odiava com todas suas forças. Lucy Mccall, enfermeira chefe de um dos melhores hospitais de Nova Orleans, uma mulher incrivelmente gentil e empática com qualquer um. Guardando o pincel no lugar, ele foi até ela e parou em sua frente, ficando de cócoras para que pudesse olhar dentro de seus olhos.
"Odeio barulho, então cale-se." disse num tom tão calmo, que trouxe agonia a mulher.
Quando a mesma fechou os olhos em pavor e gritou, Eren agarrou seu pescoço, o que a fez arregalar os olhos a tempo de ver um punho vindo contra seu rosto. Encolhendo-se, ela esperou pela pancada, mas a única coisa que aconteceu foi Eren cair numa longa gargalha que poderia ser bastante contagiante se não fosse pela situação.
Limpando as lágrimas no canto de seus olhos, Eren levantou-se e tentou controlar seu riso. "Você tinha que ver sua cara quando pensou que eu iria te bater." falou com um pequeno sorriso de lado, "Bem, agora voltarei ao meu dever."
Sem dar a mínima pelos gritos abafados da mulher, foi até o pequeno altar forjado por ele e se ajoelhou frente as velas. "Voduns ... Ego offerre mea in primam victimam sacrificium in honorem vestrum, rerum dominos." rogou, cortando a palma de sua mão e deixando com que uma boa quantidade enchesse a panela de barro em sua frente. Feito isso, ele voltou sua atenção para mulher e com um sorriso sádico, ele levantou-se e foi até ela.
Ao ver a aproximação repentina do homem, ela tentou gritar, se apavorando quando ele ergueu uma faca em sua direção. Cortando as cordas, ele a pegou pelo cabelo e a arrastou até o pequeno altar. Perdendo sua paciência pela forma como as unhas delas agarravam seus braços, ele bateu com a cabeça dela no chão, suspirando de alívio quando a tontura a acalmou por um tempo.
"Hanc fidem perpetuam tibi Oferto argumentum ad deos voduns." rogou naturalmente ao puxar a cabeça dela para trás e cortar seu pescoço, misturando o sangue dela com o seu na panela de barro.
Ao ver a vida deixando o corpo dela, ele não perdeu tempo e lambeu o corte, sugando o máximo que podia do sangue amargo para garantir que o pacto se encaminharia da maneira correta. Quando não era mais necessário, ele simplesmente jogou o corpo para longe e voltou sua atenção para o altar com um grande sorriso estampado em seu rosto. Mesmo tendo sido seu primeiro sacrifício, ele sentia que algo havia mudado e isso o deixou sedento por mais. E ele precisava disso.
Erguendo suas mãos para cima, ele rogou uma e outra vez as mesmas palavras ditas antes, sentindo seu corpo esquentar em êxtase conforme sentia-se incrivelmente vivo. E pra quem pensou que ele parou por alí, estava muito enganado. Cada vez mais insano pelo poder de origem obscura que corria em suas veias, Eren não parava de maneira alguma. Vítimas atrás de vítimas, sacrifícios atrás de sacrifícios... Ele havia perdido o controle. Não havia idade ou gênero, sexualidade ou classe, ele mataria quem preciso fosse.
Com o passar dos meses, ele já era bastante conhecido pelas ruas de Luisiana. Senhor das almas. Era assim que o chamavam. Pobres e tolos inocentes que acreditavam na bondade do moreno de olhos verdes que fazia voodoo para poderem ter o que queriam. Tudo havia um preço alto a ser pago, e Eren não se importava nem um pouco em cobrar. Riqueza? Teria que sacrificar uma parte importante sua. Cura de uma doença? Um filho ou um ente muito querido e próximo morto. Encontrar o amor verdadeiro? Morte dolorosa pouco tempo depois. A maldade escondida em meio aquela face de bondoso homem não havia fim. Ele odiava tudo o que transmitia felicidade, então ele a arruinava com ilusões. Mentiras desleais. Preços altos. Sacrifícios. Mortes.
Reconhecendo os atos do homem, Carla logo soube quem era a pessoa por trás de tantas mortes e desgraça que rondava Luisiana. Por mais que doesse em si saber que havia colocado no mundo um monstro, ela tinha tomado sua decisão. Denunciaria à igreja todos os pecados do filho. Mesmo que isso custasse a sua vida. Sabia dos riscos que corria, mas sentia que nem mesmo com sua morte seria capaz de compensar as vidas que foram perdidas.
Numa emboscada feita para sua próxima vítima, um garoto de treze anos, o jogo virou para o Eren. Ele estava cercado. Haviam padres rongando numa distância segura, mas isso não era a pior parte. A pior parte era aqueles guardas que apontavam as espadas para si. Claro, obviamente muito deles foram mortos naquele dia. Eren não perdoou nenhum. Felizmente, os sacerdotes terminaram a tempo o ritual de aprisionamento
antes que o estrago aumentasse.Eren havia sido aprisionado num medalhão antigo e seu corpo foi jogado ao fogo, sendo apedrejado pelos familiares de cada uma de suas vítimas até que não sobrasse nenhuma faísca sequer da fogueira. Após isso, o padre escondeu o medalhão num lugar onde acreditava ser seguro. Mas a sorte não estava do lado deles, se é que um dia teve. Quando se fez um mês da "morte" do senhor das almas, as paredes da igreja começaram a tremer violentamente, como se um terremoto estivesse abaixo dela. Bem... Ninguém nunca soube o que de fato aconteceu na igreja. Até porque a cidade foi desvatada. Nenhum sobrevivente para contar história. E o medalhão? Digamos que ele se perdeu em meio a floresta que cresceu durante um século.
Mas não, não pensem que Eren não aproveitou bem sua vida. Em 1922, ele foi abençoado com um certo reflexo em seu espelho. A pobre criatura estava aos cacos, pois dizia que ele não era o "seu Eren". Chorava pela morte do amado, mas ao mesmo tempo demonstrava ser alguém que mataria qualquer um sem sequer se arrepender. Claro, Eren se divertiu com todo aquele ódio. Até ficou um pouco incrédulo e interessado nesse tal sentimento de "amor" no qual a pessoa tanto falava. A criatura era tão louca quanto ele, e isso o deixava inquieto. Faminto. Queria entender o que era aquele reflexo. E quando finalmente descobriu, ela era ainda mais forte. A criatura, ou melhor, Lady Mary tinha total capacidade de entrar no mundo inverso. No caso, ela teria total poder em qualquer linha paralela da sua apenas usando o mundo inverso do espelho, como se fosse a guardiã de lá. Então uma troca foi feita. Eren lhe ensinou a manipulação do sangue, uma técnica fácil, mas de suma importância quando era necessário. A Lady foi bondosa o suficiente para dar-lhe a regeneração. A princípio, ele achou aquilo uma porcaria, mas logo se calou com a explicação. A Lady usou um exemplo, quase que impossível, uma situação onde Eren morreria. Na época, ele zombou bastante, mas acabou aceitando. Se um dia ele morresse, sua alma iria prevalecer e ele poderia reconstruir seu corpo, assim como ela. Depois de mais alguns aprendizados mútuos, Mary teve que ir, mas sem antes dizer: "E eu sou um homem."
"O que?"
"Surpresa, querido amigo." sorriu ao desaparecer, quebrando o espelho no processo.
Rindo, Eren sentou-se no chão. "Quando deixará de me surpreender, querida amiga?"
Sim, eles fizeram uma grande amizade forjada pelo puro interesse de ambas as partes, mas acabaram saindo beneficiados com essa história. E antes que se questionem, isso foi bem antes dele ser aprisionado. O que só serviu para atrapalhá-lo, já que teria que estar livre para poder reconstruir seu corpo. E isso o irritou de uma maneira absurda. Como aqueles malditos ousaram ficar em seu caminho? Quem eles pensavam que eram?! Ele mal podia esperar para agarrá-los pelo pescoço e estrangulá-los. Um por um.
"Aproveitem. Eu voltarei. E quando eu voltar... Se preparem."
Notas da autora: Com BM chegando ao fim, venho trazer outra fic de terror, dessa vez de uma história que eu criei invés de um ponto de vista que eu inventei sobre alguma lenda (BM). Caso não tenham entendido o esquema: Levi de BM nasceu em 1902, e morreu aos dezoito anos na década de 1920. Em 1902, Eren tinha 12 anos. Em 1922, quando conheceu a Lady Mary, tinha 32 anos e se Levi estivesse vivo, teria 20 anos. Eren foi morto em 1925, três anos após conhecer o Levi.