Profissional.

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Kihyun estava completamente sem reação. Após o momento íntimo que compartilhou, mesmo sem querer, com seu residente, apenas se levantou da salinha de espera e se deixou remoer o que aconteceu andando lentamente pelo corredor.

Várias pessoas falaram consigo durante seu trajeto. Pacientes agradecidos pelo bom atendimento, alguns colegas médicos e outros profissionais estranharam seu estado aéreo, que é algo completamente anormal para o cardiologista. Provavelmente vagaria por mais um tempo imerso em pensamentos se não sentisse mãos fortes o agarrarem pelos ombros, sendo virado para trás de maneira quase violenta.

— Terra para Yoo Kihyun?! — Hoseok falou, rindo da própria brincadeira, mas seu sorriso morreu ao perceber que o amigo estava com o olhar perdido. — Ei, tudo bem? Está tendo problemas com pacientes? — Perguntou, preocupado.

— Eu.... Eu... — O menor começou a balbuciar, mas ainda estava ao menos tentando processar toda a informação. Olhou para o loiro em busca de ajuda, então mesmo com esse pedido silencioso, o mais velho compreendeu e o levou para a sala que costumam se juntar para almoçarem todos juntos.

— Ei, finalmente o Thanos chegou! Já estávamos começando a comer sem você! — Ao adentrarem a sala de descanso, todos já estavam com as bocas ocupadas ao se deliciarem com macarrão instantâneo e vários tipos de kimbap. — Achei que já tinha ido para cirurgia, você não respondia mais nossas mensagens e.... Tá tudo bem, Ki? — Por fim perguntou, quando Hoseok sinalizou que alguma coisa estava errada.

O menor deles sentiu o peso do olhar dos amigos. Apenas suspirou e se sentou em um dos assentos da sala, sentindo as costas respirarem em alívio. Sem nem ao menos avisar, contou tudo o que aconteceu, nos mínimos detalhes. Desde o momento da briga, até o pequeno.... incidente.

— ELE FEZ O QUÊ? — Praticamente gritando, Minhyuk se levantou e começou a rir escandalosamente. — Nossa, meu Deus. O garoto tem coragem, meus senhores!

— Eu não acredito. Você tá vivendo um dorama? É isso? — Hoseok também falava animado e apressado, não acreditando nas palavras do amigo.

— Gostaria de salientar que eu sempre soube das intenções de Changkyun. — Começou Hyungwon, batendo a mão no peito, orgulhoso. — Se você vai para a cardiologia, pode ter certeza que tem segundas intenções envolvidas!

Kihyun estava com a cabeça encostada na mão enquanto ouvia seus amigos rirem às suas custas. Hyunwoo estava sentado ao seu lado com uma mão nas suas costas, o consolando da maneira silenciosa como sempre fez. Não tinha apetite pois só conseguia pensar no por quê diabos isso viera acontecer com ele.

— Sério, de verdade... — Começou falando baixo, mas logo aumentando o volume da voz. — Por quê eu? Eu nunca fiz nada desse tipo em todos meus anos aqui no hospital, mesmo quando era um mero aluno. Sempre separei meu trabalho dos meus relacionamentos e agora...... Um residente acha que pode fazer isso. Será que na verdade eu entendi errado e é apenas uma maneira de agradecer? Changkyun veio da América, isso é totalmente possível...

— Ki, isso não existe nem aqui nem na China. Ele fez por que quis e ele definitivamente gosta de você. — O Lee voltou para o lugar dele, cruzando as pernas e olhando de maneira sugestiva para o mais novo. — E aí? Vai dar uma chance?

— Claro que não, Minhyuk! Eu não sou como você que sai dando beijos nos seus alunos! Vou o recusar de maneira adequada, depois da cirurgia hoje à tarde.

— Poxa, Ki, você é tão seco. Desde que você terminou com o Mingyu nunca mais te vi de rolo com ninguém... Dá uma oportunidade. Ele é fofo, inteligente, te instiga no seu emprego. O quê te impede?

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O jovem Yoo apenas ignorou a implicância do amigo e pegou talheres para si para que pudesse comer, desgostoso. Precisava se acalmar para a cirurgia de hoje à tarde ou acabaria cometendo um erro que comprometeria sua carreira profissional e isso é inadmissível. Comeu rápido e logo se levantou, ignorando as palavras dos amigos pedindo para que o mesmo descansasse um pouco e não fosse operar de cabeça quente, mas apenas saiu da sala.

Se tinha alguma coisa que deixasse o Im de mais bom humor do que assistir o grande mestre Yoo realizar de maneira impecável uma abertura de tórax para cortar um coração ao vivo, ele não sabia. Comia seu arroz de maneira animada, enquanto dava grandes goles em seu suco.

— Alguém está de bom humor. — Levantou os olhos e logo reconheceu seu melhor amigo se sentando na sua frente, depositando uma bandeja com os mesmos ingredientes que comia. — Hoje tem cirurgia com o seu amado?

— Ei, não fale assim. — Fingiu brigar com Jooheon por um segundo e depois sorriu ladino, dando mais um gole em sua bebida. — Revascularização do miocárdio em um paciente idoso. Mas não é só por isso que estou feliz, sabe. Depois de tanto tempo tive um tempo sozinho com ele de novo, então eu aproveitei e afirmei mais uma vez minhas intenções com ele.

— Yah, Im Changkyun, você está assediando seu professor?! — O Lee quase gritou, mas logo se calou a receber um chute na canela embaixo da mesa. — Maluco! Você quer ser expulso da residência?!

— Para de falar como se você também não tivesse se atracado com aquele professor da pediatria, — Falou baixo, vendo o rosto fofo do amigo enrubescer de maneira violenta. — Mas eu realmente gosto dele. Eu espero que ele saiba que minha intenção naquele dia não era ser algo de uma noite. — Voltou a mastigar imerso em pensamentos.

— Então ao menos diga para ele o que aconteceu no dia. Depois disso, mal teve contato com o professor Yoo. Eu aposto com você que ele nem ao menos lembra do ocorrido!

Pensar nessa possibilidade fazia o coração de Changkyun se apertar e um gosto amargo vir à boca, mas era completamente compreensível. Mas não o suficiente para que o fizesse desistir.

— Eu sei... Eu sei... Não vamos mais comentar nisso, ok? Vamos comer, daqui a pouco tenho que sair.

O maior deles concordou, mas ainda claramente preocupado com o amigo. Após a refeição, correu para que pudesse escovar os dentes e realizar suas necessidades fisiológicas, além de descansar um pouco os olhos antes de partir para a operação. Fora com calma para o Centro Cirúrgico, encontrando a equipe já devidamente preparada para o procedimento. Rapidamente se vestiu e esperou a entrada do paciente com o cirurgião atendente para darem início ao procedimento.

Apesar de parecer calmo por fora, Im estava nervoso. Seus olhos negros passavam de maneira rápida por todos que adentravam o corredor das salas, uma ansiedade anormal consumindo seu coração. Será que o hyung estaria bravo? Colocou a mão direita no peito enquanto tentava se acalmar, mas logo sentiu os batimentos aumentarem novamente ao avistar o professor entrando no corredor junto do paciente e sua família.

Já estava todo trajado, apenas com o rosto à mostra. Aparentava o seu normal de todo dia, então Changkyun se permitiu dar um suspiro aliviado. Se enfileirou junto dos outros profissionais para cumprimentar a família, que estava completamente apreensiva. Kihyun conversava com a esposa de seu paciente, o senhor Kim. Era um simples fazendeiro que teve a infelicidade de ter múltiplos estreitamentos nas artérias. Vieram diretamente do interior para que pudessem ser atendidos pelo jovem médico.

Apesar de adorar a cirurgia, o momento em que podia assistir o mais velho acalmar a família com um belo sorriso e palavras de segurança era o verdadeiro momento favorito de Changkyun. Yoo sempre gostava de ser transparente e honesto com os pacientes, mostrando as possíveis complicações segurando as mãos dos familiares com força, com um olhar terno.

Então, logo após se despedirem do senhor Kim, todos adentraram na sala de cirurgia. Completamente gelada e um pouco fantasmagórica, logo fora preenchida por diversos profissionais e estudantes. O paciente fora colocado na maca central, mas ainda acordado rendia umas olhadelhas preocupadas atravessando a sala. O Im pensou em se aproximar para tentar acalmá-lo, mas seu hyung fora mais rápido.

— Senhor Kim, está preocupado? — Perguntou e logo deu uma risada melódica ao receber um "sim" quase desesperado. — Fique tranquilo, eu sou bom no que eu faço. Inclusive sou tão bom que o senhor poderá viver até os cem anos com tranquilidade, isso eu posso garantir. Quando se recuperar podemos ir no karaokê, o que acha?

— Ah, professor Yoo, o senhor realmente é um anjo em minha vida. Obrigado. Obrigado. — Ambos seguraram as mãos uma última vez, enquanto o anestesista aplicação a sedação. Logo, antes de perceber, já estavam adentrando as paredes do miocárdio do senhor Kim.

O procedimento correu bem até demais. Changkyun esperava que Kihyun gritasse contigo ou descontasse de alguma maneira, mas ele se manteve completamente profissional e amigável, realizando diversas perguntas e orientando de maneira mais didática possível. Até mesmo permitiu que o residente realizasse o uso do bisturi por alguns minutos, ensinando de maneira impecável.

Claramente o garoto não poderia ficar menos impressionado. O jeito que Yoo trata os outros profissionais com o máximo de respeito possível, assim como o paciente faz seus olhos brilharem. Eventualmente, não conseguiu resistir e acabou o encarando mais vezes do que deveria durante o procedimento. E caramba, foram dez horas de cirurgia. Deveria estar parecendo bobo, pois acabou se assustando quando fora chamado pelo mesmo, provocando um sorriso atrás da máscara do professor, detalhe notado pelo mais novo apenas porque ele sabe que ruguinhas se formam em seus olhos quando sorri.

— Gostaria que você terminasse de fechar para mim, sim? — Perguntou o mais velho, entregando a agulha para Changkyun, que agradeceu profundamente a oportunidade. Rapidamente pôs suas habilidades de sutura à provas, nada passando batido pelo olhar de Kihyun. O mais novo se sentiu um pouco nervoso, mas ainda assim conseguiu realizar um bom trabalho.

Estava realizado. Auxiliou uma grande cirurgia logo no começo da sua residência e ainda por cima o hyung não estava bravo consigo. Até mesmo se atreveu a cogitar que estava tudo bem e que sua investida seria finalmente correspondida. Junto com os outros, lavou as mãos novamente e retirou o capote e os outros equipamentos de proteção individual, passando a mão pelos cabelos quando chegou ao corredor do centro cirúrgico.

Pegou o seu celular e analisou algumas mensagens que havia recebido no decorrer das horas, marcando exatamente 21:12. Ainda estava um pouco cedo, então reuniu toda sua coragem para convidar o seu professor para um café, comemorando mais uma ótima cirurgia. Porém, quase gritou ao sentir uma pequena mão em seu ombro, se virando curioso para saber quem era, sorrindo logo em seguida.

— Hyung...!

— Changkyun-ah, antes de você ir embora, gostaria de conversar com você na minha sala. Em particular. — Kihyun proclamou, extremamente sério. O sorriso de Changkyun foi morrendo aos poucos, sentindo aquela ansiedade horrorosa bater novamente.

Como fora ingênuo. Seria aberto por um bisturi, vivo, neste exato momento. 

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