Desire - FengQing

Poderia ser mais que isso

[Contextualizando: isso se passa em algum lugar entre a primeira ascensão de Xie Lian e o início da batalha de Xian Le, quando os três eram deuses]

Ele não sabia como ele ainda suportava aquilo. Se olhasse para trás, sua infância foi perdida dentro das paredes do castelo de Xian Le sendo a boneca do príncipe herdeiro. Não que ele tivesse real reclamação de Xie Lian. Dianxia era sem qualquer dúvida alguém que ele admirava e que queria seguir pelo resto da vida. O que de fato o fazia. Ele amava a rainha como se fosse sua mãe, afinal, quantas vezes ela tentou cuidar dele e penteou seus cabelos afetuosamente? Ele gostava da vida que tinha levado no mundo mortal graças a Xie Lian. Ele gostava das roupas boas. Ele gostava do conforto. Ele gostava de ter comida todos os dias e poder enviar um dinheiro para sua mãe. Era perfeito. Ele estava em uma situação muito melhor que qualquer um que viesse de onde ele veio poderia imaginar.

E agora ele era um Deus.

Quando aquilo aconteceria com alguém saído do lixo como ele? Mesmo sendo uma indicação de Dianxia, ele ainda estava ali. Ele ainda tinha poderes, uma aparência jovem e eterna, subordinados... Ele nunca pensou que poderia subir tanto.

Mas...

— Dianxia, o imperador dos deuses chama no salão. — disse um guarda entrando no quarto do príncipe.

Xie Lian estava lustrando uma de suas muitas espadas mágicas, sentado de pernas cruzadas sobre a cama grande. Mu Qing estava ao seu lado, lendo um pergaminho com orações a serem atendidas, escolhendo o que convinha ou não ao deus marcial das flores e, vendo o criado chamar Dianxia, ergueu o olhar.

— JunWu está muito interessado no Dianxia ... — disse Feng Xin sentado no chão, sem se dar ao trabalho de olhar para o guarda ou os outros dois, muito concentrado em suas pontas de flecha que aplicava energia espiritual.

— Naturalmente, Graças às vossas altezas, Dianxia tem crescido em poder e influência no mundo mortal. Mas eu realmente não espero que um ignorante como você compreenda como funciona. — alfinetou Mu Qing enrolando o pergaminho.

— Você! — Chiou Feng Xin batendo as mãos na mesa baixa.

— Chega, vou mandar que recitem de novo! — alertou Xie Lian se levantando e passando as mãos nas vestes para as esticar.

— Quer companhia, alteza? — Questionou Mu Qing se levantando também, mas Xie Lian negou com a cabeça.

— JunWu pode querer falar em particular. Ele tem me explicado algumas coisas e não acho que vocês tenham que se incomodar com isso. — explicou o rapaz segurando a espada pelo cabo e a estendeu para Mu Qing. — Por favor, guarde-a. — comandou com um sorriso doce e um tom afetuoso, que pouco parecia realmente uma ordem, mas sim um pedido.

Mu Qing pegou a espada nas mãos e abaixou a cabeça em silêncio, acompanhando Xie Lian sair do cômodo com o olhar.

Com a espada na mão, a porta se fechou.

O silêncio no cômodo por alguns segundos não pareceu ter qualquer problema, mas então Mu Qing sentiu um arrepio na coluna.

Tentando não encolher os ombros, ele caminhou para colocar a espada no quarto de armas adjacente ao do príncipe. Sua expressão impassível escondia completamente o temor que em outro momento poderia o paralisar e tremer por inteiro.

Seu pomo de Adão subiu e desceu quando ele engoliu. Mas como um boneco de corda com pouca linha, ficou parado sem terminar sua ação, olhando para a parede amarela ainda na entrada do cômodo, onde dois ganchos vazios aguardavam a espada dourada em suas mãos.

— O que está esperando aí? — questionou a voz de Feng Xin do outro lado do quarto. — Acha que ela vai se pendurar sozinha?

Das diversas coisas que Mu Qing poderia responder, ele escolheu o silêncio e acenou com os dedos, fazendo a espada planar no ar por alguns segundos e voar sozinha para os ganchos. Ele ouviu um som irritado vindo de suas costas e conteve um sorriso de escárnio.