5. ATRAÍDA

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Amanda tentava ao máximo esconder de Ed todo medo e apreensão que corroíam seu interior todas as vezes que tinha aula com o professor Arthur, ou quando o encontravam durante uma de suas mudanças de sala ou em seus intervalos.

Por mais que Arthur nunca tenha feito nada contra ela, Amanda não conseguia parar de ter a impressão que ele a olhava de esguelha e que, em todas as ocasiões em que a garota se assustava por algo que ele mencionava ou fazia, ele sorria sarcástica e ironicamente para ela, sempre olhando-a nos olhos.

Seus sonhos e pesadelos ainda o achavam, por mais simples e ocasional que fosse. Uma certa noite, Arthur aparecera em seu sonho como um simples pedestre que passava por ela e Ed na calçada do Rio, fitando-a. Outras vezes, porém, sua participação era mais centralizada, como um sonho em específico que Arthur pedira que Amanda fizesse aulas suplementares de matemática com ele — mesmo que suas notas fossem ótimas — e a encaminhasse, no escuro e vazio colégio, para uma sala nos fundos do prédio. Amanda acordava, todas às vezes, gritando, sempre que sonhava com ele, e todos esses sonhos aconteciam conseguintes a aulas em que ela o vira. Melissa, sua avó, ficava cada vez mais preocupada e cada vez mais era difícil esconder de Ed toda sua apreensão e o medo que a faziam se tornar sonolenta, distraída e irascível.

Amanda decidira, em um estupor avassalador, que tomaria os remédios para dormir que afanara de sua avó, Melissa, sem que ela notasse, para tomar todas as vezes em que tinha a precognição de que sonharia com Arthur novamente.

Amanda encontrou-se com Ed no caminho da escola, como todo os dias, duas semanas após as aulas terem iniciados, mas, dizia Ed, parecia que já estavam frequentando o último ano da escola por dois anos, seis meses e doze dias e meio.

As aulas se passavam indistintas, todos os dias em que Amanda sabia que teria aulas com Arthur e se espantou ao perceber a obsessão com que pensava nele, como se ele fosse um ímã, que convergia e atraía para ele todos seus pensamentos irrefletidos e subconscientes.

Quando a aula começou, Amanda tentou não fazer nenhum contato visual com Arthur, mas sua voz parecia instar sua mente a olhá-lo. Ed, que nada tinha de estúpido, já havia percebido os olhares da amiga fulgurarem para o professor, e sua mudança súbita de comportamento desde o início das aulas, que se tornavam mais acentuados durante essas aulas. Ele já tinha lhe questionado diversas vezes sobre o porquê desse comportamento, mas Amanda sempre conseguia fugir do assunto.

As aulas com Arthur eram movidas em suspense a apreensão por parte de Amanda. Ela sempre fora uma aluna razoável, nunca acima da média — como Ed —, mas, ultimamente, ela não conseguia mais prestar atenção nas aulas, tentando ao máximo manter seu olhar em sua própria carteira, sendo interrompida às vezes, quando Ed chamava sua atenção, ou quando o professor chamava seu nome, com aquela voz rouca, grave e assustadora, embora Amanda fosse a única ter essa opinião acerca do professor.

Certo dia da semana passada, enquanto a sala jazia em profundo silêncio enquanto os alunos respondiam as questões passadas pelo professor, Arthur começou a falar sobre filmes com Walisson, um garoto de pele morena que se sentava na carteira à frente de Amanda. Em determinado momento da conversa, Amanda, ao terminar o que lhe fora pedido, levantou, irrefletidamente, a cabeça, e Arthur lhe perguntou:

— Do que você tem medo? — Amanda congelara a sua boca abrira milimetricamente, mas nenhum som saíra dela. — Porque, geralmente, os alunos têm medo de matemática, não concorda?

Amanda assentira, com esforço, e voltara seu olhar para seu caderno. O professor sorria, parecendo apreciar uma piada particular. Aquilo estava enlouquecendo a garota, e absolutamente ninguém, nem mesmo Ed, com sua mania de observação, percebia.

Luzes e Sombras: o segredo apenas começouOnde histórias criam vida. Descubra agora